Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, citou nominalmente o ex-ministro José Dirceu como tema das conversas com o ex-tesoureiro Vaccari
O ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco afirmou, em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, ter discutido com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto o pagamento de propina para o partido pelo menos "uma dezena de vezes" a partir de 2010. De acordo com o ex-dirigente, que se tornou um dos principais delatores da Lava Jato, entre os destinatários da propina recolhida em nome do partido "aparecia o nome de todo mundo". Apesar de afirmar que não cabia a ele intermediar o repasse do dinheiro sujo aos políticos escolhidos pelo PT, Pedro Barusco disse que um dos petistas citados como destinatário dos recursos era o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
"Na conversa, aparecia o nome de todo mundo. Eu não podia assim dizer que isso foi para fulano ou para outra pessoa. Se falava de uma forma geral. O nome dele [Dirceu] aparecia nas conversas. Se ele efetivamente recebeu, não era papel meu. Não me envolvia com esse negócio do partido", disse Barusco ao relatar, em detalhes, o esquema de pagamento de propina que sangrou os cofres da Petrobras. Sobre as conversas com Vaccari, resumiu: "Tinha uma agenda ligada aos contratos da companhia, os problemas, os recebimentos, as propinas, os andamentos, os novos projetos, novas licitações". Dirceu responde a um inquérito na Operação Lava Jato por suspeitas de lavagem de dinheiro. Nesta terça-feira, o executivo Julio Camargo já havia incriminado Dirceu ao afirmar que o petista recebeu 4 milhões de reais a pedido do ex-diretor da Petrobras Renato Duque.
Barusco foi interrogado no processo em que o ex-tesoureiro do PT é réu por crimes de lavagem de dinheiro. Ao juiz Sergio Moro, ele voltou a descrever como funcionava a partilha de propina na estatal petrolífera. Em contratos na diretoria de Serviços, de Gás e Energia, por exemplo, 1% do valor dos contratos pagos era para o PT e 1% para funcionários da "Casa", ou seja, da Petrobras. Quando a propina envolvia a atuação de um operador, o porcentual referente à "Casa" era dividido na seguinte proporção: 40% para o ex-diretor Renato Duque, 30% para Pedro Barusco e 30% para o operador.
Em um caso específico em que Barusco indicou dificuldades no recolhimento de vantagens indevidas, ele e o então tesoureiro do PT chegaram a fazer uma espécie de intercâmbio entre as empresas pagadoras MPE e Schahin para facilitar o depósito da propina. Ao longo de toda sua atuação, Pedro Barusco estimou que tenha recolhido cerca de 73 milhões de dólares em dinheiro sujo e lucrado aproximadamente 25 milhões de dólares em aplicações ou investimentos a partir da propina.
Apesar dos milhões de dólares desviados no petrolão e de ter revelado que repassou quinzenalmente uma média de 50.000 reais em propina ao ex-diretor de Serviços Renato Duque, o ex-gerente disse que, mesmo com a cobrança "institucionalizada", o índice de pagamento efetivo pelas empreiteiras era baixo, de cerca de 20%. "A Casa recebia muito menos do que o estava compromissado", declarou. "O índice de sucesso era baixo".
Ao juiz Sergio Moro, Pedro Barusco relatou a atuação dos operadores Mario Goes e Bernardo Freiburghaus, suspeitos de recolher propina de empreiteiras e distribuir a agentes públicos. Goes está preso por ordem do juiz Sergio Moro. Freiburghaus, citado como o operador de propinas em nome da Odebrecht, mora na Suíça e não é réu nos processos da Lava Jato. A Odebrecht, o PT e o ex-ministro José Dirceu negam participação nas irregularidades investigadas.