segunda-feira 20 2012

Sete críticas ao impressionismo(VEJA)


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A tela 'Impressão: Nascer do Sol', de Monet
Amigo íntimo de Paul Cézanne, Édouard Manet e Claude Monet, e entusiasta de primeira hora do impressionismo, que via como uma reunião de pintores ambiciosos e também um alívio perto das bobagens que eram produzidas em nome da tradição, o escritor e crítico de arte Émile Zola liderou as críticas feitas ao grupo a partir de 1880, oito anos depois de Monet ter inaugurado oficialmente o movimento com a tela Impressão: Nascer do Sol. Zola se decepcionou ao notar que os artistas haviam perdido o potencial vanguardista dos primeiros anos e deixado passar a chance de se tornar porta-vozes de seu tempo. De luz de sol e atmosfera, entendiam muito. De revoluções e vida social, ficavam a dever. A crítica de Zola encontrou eco na obra de Renoir, que também passou a questionar os preceitos impressionistas, como o da pintura ao ar livre, e decidiu retomar um estilo mais clássico. 

Primeiros hippies

Segunda metade do século XIX: intensas transformações urbanas na França, países inteiros surgindo na Europa, caso da Itália e da Alemanha, o antissemitismo ganhando espaço no continente e os impressionistas... bem, os impressionistas estavam no campo, pintando árvores e rios. A total desconexão entre as telas do grupo ligado a Manet e a realidade social fremente foi duramente criticada pelo escritor Émile Zola a partir de 1880. O autor de J’Accuse (Eu Acuso, uma defesa do militar judeu injustamente acusado de traição) chegou a classificar os impressionistas como artistas passivos, meros retratistas interessados em captar a luz do sol. Zola não aceitava a recusa dos pintores de levar em consideração, nas suas obras, as aflições inerentes ao momento histórico em que viviam. Um tema recorrente na pintura impressionista são as festas populares ao ar livre. A proposta de retratar apenas o lado idílico da vida alheava a sua arte da realidade.  

Que vida interior?

O romancista Joris-Karl Huysmans também não poupou munição contra os impressionistas na década de 1880, embora só fosse admitir sua oposição ao movimento anos mais tarde. De acordo com o livroImpressionismo, do crítico lituano-americano Meyer Schapiro, o escritor acusou sutilmente os pintores da escola de Manet de indiferença à vida interior no romance À Rebours (Às Avessas). O livro é protagonizado por um personagem excêntrico, Des Esseintes, era um esteta que mantinha as janelas de casa fechadas durante o dia para não ter contato com a luz do sol, porque preferia a iluminação artificial. Para o escritor, era fantasioso o retrato da sociedade feito por Monet e sua turma, que ignorava a mediocridade reinante no mundo. 

Falta rigor

Do ponto de vista técnico, o pintor francês Georges-Pierre Seurat foi o crítico mais contundente do impressionismo. Além de apontar os defeitos do movimento, como a inconsistência na análise da luz e da cor, a precária estruturação da composição na tela e a falta de rigor na forma, Seurat desenvolveu uma técnica concorrente da de Manet. É dele o pontilhismo, recurso que inaugurou o neo-impressionismo. Em vez de usar o pincel de maneira solta e ligeira, guiado por uma impressão subjetiva da paisagem, o pintor lançava mão um método sistemático de pinceladas, que não precisava ser utilizado obrigatoriamente durante o dia e ao ar livre, como era a rotina impressionista, mas podia ser empregado em estúdio, horas depois da observação que serve de base para a pintura. E podia ser usado para a produção de telas com temáticas caras aos impressionistas, com banhistas, praias, campo, com um diferencial nas cores que a técnica pontilhista permitia criar.

Frivolidade

tela 'Yvette Guilbert Taking a Curtain Call', de Henri de Toulouse-Lautrec
Seguidor de Degas, o pintor Henri de Toulouse-Lautrec também se dedicou a registrar cenas da vida mundana e do mundo do espetáculo. Mas o fez com pathos - com um sentimento do que há de trágico na existência humana. Suas figuras, diferentemente dos borrões e focos de luz que via na tela dos colegas, tinham rosto e expressão, eram muitas vezes feios e angustiados, eram tristes e desencantados, eram tocantes. O mundo não era cor de rosa nos quadros de Lautrec, como repetidamente o era nas telas de Manet ou Renoir, fossem quais fossem as tintas por eles usadas. Em vez de compactuar com o clima de hedonismo alienante dos quadros impressionistas, Toulouse-Lautrec preferiu chamar atenção para o vazio existente na vida dos seus contemporâneos e para a maneira como a boemia era uma fuga - uma forma de aplacar a sensação de que falta sentido à vida, palpável em um mundo que passava a duvidar da religião.

Banalização da tradição

Ao romper com a tradição acadêmica, os impressionistas, como se diz no ditado popular, jogaram fora o bebê junto com a água do banho. Todo o rico repertório de temas e alusões culturais, clássicas e religiosas, construído pela civilização ocidental ao longo de séculos passou a ser encarado simplesmente como entulho, como coisa sem importância, a despeito da larga história contida em cada signo clássico. Os impressionistas, crítica que aliás fez a eles o filósofo e historiador francês Hippolyte Taine, estavam voltados exclusivamente para o presente. Queriam sentir a paisagem e vertê-la em pinceladas que, se por um lado representavam um saudável questionamento da ordem acadêmica, abrindo inclusive caminho para as vanguardas do século XX, por outro tornavam injustamente irrelevante o rico acervo da arte que se fez antes.

Irregularidade

Obra
O impressionismo produziu gênios como Monet, mas teve também artistas sem tanta expressão – sem trocadilho. Apesar da graciosidade de suas Meninas Cahen d'Anvers (Rosa e Azul), Renoir está longe de ser consistente como Manet ou Degas. E esta não é uma constatação que precisou da distância dos anos para ser feita. Ainda em vida, o pintor se sentiu desconfortável com os requisitos da técnica impressionista, recuou na ousadia e terminou por se perder em um estilo híbrido, que tentava combinar a pincelada livre de Monet com uma atenção ao volume e ao peso das formas que era parte linguagem clássica do desenho e da pintura. Renoir nunca se libertou completamente do desejo de obter aprovação nos salões oficiais de arte. Foi um artista menor.







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