quarta-feira 15 2015

Com Vaccari preso, oposição fala em 'PT na cadeia'. E o partido ataca Justiça


Petistas fazem reunião de emergência para discutir o caso, e chegam a falar em 'prisão política'. Opositores dizem que partido virou uma lavanderia

Por: Laryssa Borges e Gabriel Castro, de Brasília

O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, compareceu ao IML para realizar exame de corpo delito em Curitiba
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, sendo levado algemado para o IML para fazer exame de corpo delito em Curitiba(Paulo Lisboa/Folhapress)
Depois de ter desqualificado o Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão, tratando como heróis próceres do partido condenados por corrupção, o PT voltou a adotar nesta quarta-feira o conveniente discurso de que seria "vítima" de forças políticas que alega estarem interessadas em destruir a imagem do partido. Apesar dos fartos indícios de que o tesoureiro petista João Vaccari Neto recebeu milhões em propina no escândalo do petrolão, a sigla insiste em dizer que todas as doações do partido são legais. E mais: o líder do partido na Câmara dos Deputados, Sibá Machado (PT-AC), o mesmo que chegou a atribuir à CIA uma suposta campanha de enfraquecimento de governos sul-americanos, disse hoje que a prisão do correligionário é "política".
"Eu acho que a prisão é política. Temos uma posição muito clara sobre Vaccari. Ele não fez nenhum tipo de arrecadação fora do que determina a lei brasileira. Estamos extremamente desconfiados de que há uma orientação deliberada nessas delações premiadas para prejudicar o PT", disse Machado. As investigações da Lava Jato indicam, contudo, que as doações de empreiteiras integrantes do chamado clube do bilhão declaradas pelo PT à Justiça Eleitoral era uma forma de lavagem de dinheiro do petrolão.
No Congresso, a maior parte dos petistas evitou comentar publicamente os motivos que levaram à prisão de Vaccari, apontado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco como o destinatário de até 200 milhões de dólares em propina. "Não tenho informação suficiente para fazer um julgamento de se a prisão cabia ou não cabia. Até o momento contra várias coisas que foram alegadas não foram apresentadas provas, mas não sabemos o que a justiça, a Polícia Federal e o Ministério Público têm", limitou-se a comentar o líder do PT no Senado Humberto Costa (PT-PE).
O relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (PT-RJ), disse ao site de VEJA que a prisão de Vaccari não deve ter influência sobre as investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito. "A CPI vai continuar na sua dinâmica e no seu planejamento", diz ele. Mas, na prática, deve aumentar a pressão por uma acareação entre Vaccari e os delatores do esquema.
Luiz Sérgio também reconheceu que a prisão constrange o partido, embora critique a condução das investigações da Lava Jato. "Qualquer prisão cria evidentemente um constrangimento. Mas a informação que eu tenho é de que foi uma prisão temporária, por cinco dias, para aprofundar as investigações. A lógica que nós tínhamos visto até então é que se apurava e, com base na apuração, prendia. Agora nós estamos vendo uma inversão. Prende para depois apurar".
Indagado sobre a necessidade de afastamento de Vaccari do partido, Luiz Sérgio reconheceu que isso deve acontecer. "O acontecimento de hoje evidentemente cria uma dificuldade muito grande para ele", afirmou o petista.
Entre os partidos oposicionistas, a avaliação é de que a prisão do tesoureiro petista reforça a tese que o PT, depois de ter amargado desgaste com as falcatruas do ex-tesoureiro Delúbio Soares, condenado no julgamento do mensalão, utilizou doações eleitorais por meio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para lavar dinheiro da propina do petrolão. Em sua sugestão de pacote anticorrupção, o Ministério Público defende a possibilidade de extinção de siglas políticas que corriqueiramente tenham se abastecido de dinheiro resultado de crime.
Para o líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (RJ), a prisão de Vaccari comprova "que o mensalão foi o protótipo do petrolão, dois esquemas de corrupção criados para drenar dinheiro público para os cofres do PT com o objetivo de financiar o projeto partidário em detrimento dos interesses do país".
"O PT transformou a Justiça Eleitoral em lavanderia. É o segundo tesoureiro preso por envolvimento em corrupção", disse o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). "O PT não tem credencias de partido político, e sim de lavanderia. O partido é reincidente ao ter o tesoureiro Vaccari, sucessor de Delúbio Soares, flagrado e preso por arrecadar dinheiro desviado de empresas públicas para alimentar suas campanhas e encher os bolsos de seus dirigentes", completou o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Para Caiado, a reincidência de irregularidades no alto escalão do PT já seria suficiente para que a sigla pudesse perder o registro eleitoral. "Diante desse cenário, tudo caminha para que o PT perca o registro de partido político. E, comprovado que a presidente Dilma foi beneficiada por esse esquema em suas campanhas, será mais que suficiente para ela perder o mandato por corrupção", afirmou.
"A prisão do tesoureiro do PT, mantido na função, não pode deixar de ser vista como a prisão preventiva do próprio PT", disse o presidente do Democratas José Agripino. "A máxima do dia é que mentira tem perna curta. Vaccari foi preso menos de uma semana depois de mentir descaradamente na CPI da Petrobras", declarou o líder do DEM na Câmara Mendonça Filho (DEM-PE). "A prisão do tesoureiro representa o PT na cadeia. Prisão preventiva é assunto sério e sinaliza que solto ele poderia atrapalhar as investigações e apagar os rastros da roubalheira comandada pelo PT não só na Petrobras, mas em outros setores do governo", afirmou o líder do PPS na Câmara Rubens Bueno.

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