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Série de artigos publicados pela revista médica 'The Lancet' enfatiza a importância de prevenir as doenças não-transmissíveis, como câncer, diabetes e problemas cardíacos, hoje as principais causas de morte no mundo
Controle do tabagismo: Brasil é exemplo, para a The Lancet (Thinkstock)
A respeitada revista médica britânica The Lancet publicou, em sua edição desta semana, uma série de cinco artigos sobre doenças não transmissíveis — que incluem problemas cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças respiratórias crônicas. De acordo com a publicação, o objetivo da série é chamar a atenção para a importância dessas condições, que chegaram a níveis epidêmicos e hoje correspondem à principal causa de mortalidade no mundo. Os trabalhos divulgados também sugerem estratégias para a prevenção desses problemas, como aquelas que buscam reduzir os fatores de risco para tais doenças — como o tabagismo, a obesidade e a má alimentação. O Brasil foi citado como exemplo na criação de estratégias de controle do tabagismo.
População doente
Em dezembro de 2012, a revista The Lancetpublicou o estudo Global Burden of Disease 2010(Carga de Saúde Global 2010), que avaliou as doenças e mortes em todo o mundo ao longo de 20 anos. A pesquisa mostrou que, desde 1990, as causas de morte e os fatores de risco para a saúde da população mundial mudaram, e muito. Se antes vivíamos por menos tempo, hoje atingimos uma idade avançada, mas com menos saúde.
Enquanto em 1990 os principais fatores de risco para doenças eram o baixo peso infantil e a poluição dentro de casa (a exposição ao fogão à lenha, por exemplo), em 2010 os principais fatores se tornaram a pressão alta e o cigarro. Além disso, segundo a pesquisa, enquanto a mortalidade global por desnutrição caiu no período, o fator de risco para a saúde que mais cresceu nos últimos vinte anos foi o excesso de peso.
O Global Burden of Disease 2010 também registrou que, se por um lado diminuiu o número de mortes por doenças como malária, tuberculose e diarreia nos últimos 20 anos, aumentou a quantidade de óbitos em decorrência de problemas como doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer de pulmão, diabetes e câncer de fígado.
De acordo com os dados de um dos estudos divulgados pela revista britânica, das 52,8 milhões de mortes que aconteceram no mundo em 2010, 34,5 milhões, ou 65%, ocorreram devido às doenças não transmissíveis. Desses óbitos, 20% ocorreram em pessoas com menos de 60 anos de idade. Ainda segundo esse levantamento, estima-se que o número de mortes por doenças não transmissíveis deve aumentar para 50 milhões em 2030.
No Brasil, o número de óbitos por essas doenças é ainda maior: cerca de três quartos (75%) das mortes no país estão relacionadas a problemas como câncer, diabetes ou então doenças cardíacas ou respiratórias crônicas.
Metas — Um dos trabalhos divulgados pela revista britânica, feito por pesquisadores dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, sugeriu que a Organização das Nações Unidas (ONU) incluísse a prevenção de doenças não transmissíveis nas próximas metas propostas pelo Millenium Development Goals (MDGs). Esse programa da ONU estipula metas para serem cumpridas até determinada data. Atualmente, as metas preveem o alcance de oito objetivos até 2015, entre elas o fim da fome e da miséria extrema, a educação universal, e a redução da mortalidade infantil.
Para George Alleyne, diretor emérito da Organização Pan-americana de Saúde e coordenador desse estudo, após 2015, a ONU deveria ter como meta reduzir em 25% o número de mortes por doenças não transmissíveis até 2025.
Estratégias de prevenção — A série de artigos publicados no The Lancet também sugeriu quais estratégias poderiam ajudar a prevenir as doenças não transmissíveis e, portanto, diminuir o número de morte por câncer, diabetes, problemas cardíacos e respiratórios ao longo dos anos.
Um dos estudos, coordenado por Ruth Bonita, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, por exemplo, fez um relato de medidas que podem ser adotadas pelas autoridades de saúde dos países para controlar dois dos principais fatores de risco para as doenças não transmissíveis: tabagismo e consumo excessivo de sal. De acordo com a pesquisadora, a redução da ingestão de sal em 15% pode, em dez anos, evitar 8,5 milhões de mortes ao redor do mundo.
Esse artigo citou as estratégias de controle de tabagismo no Brasil como um exemplo de medida que pode ser eficaz na redução de mortes relacionadas ao cigarro. No artigo, Ruth Bonita falou sobre o fato de cidades brasileiras terem proibido o fumo em determinados ambientes, além do aumento das taxas sobre produtos derivados do tabaco e advertências presentes nos maços de cigarro.
Indústrias perigosas — Um dos artigos divulgados pela publicação britânica apontou para outro culpado para a epidemia de doenças não transmissíveis a qual o mundo vive hoje: o marketing agressivo de grandes indústrias de tabaco, álcool e alimentos não saudáveis ou "ultra-processados", como classificou o estudo. Ou seja, alimentos e bebidas industrializados que são altamente calóricos e gordurosos e muito pouco nutritivos, como comida congelada, biscoitos, salgadinhos, hambúrgueres, refrigerantes e outras bebidas adocicadas artificialmente.
De acordo com Rob Moodie, pesquisador da Universidade de Melbourne, na Austrália, e autor desse trabalho, nenhuma medida de auto-regulação dessas indústrias (ou seja, quando elas decidem realizar ações por conta própria para beneficiar a saúde pública) parece ser eficaz. Por isso, ele considera que a regulação pública dessas empresas é a forma mais eficaz de beneficiar a população.
Principais fatores de risco à saúde em 1990
1º lugar: Baixo peso infantil
2º lugar: Poluição dentro de casa
3º lugar: Tabagismo
4º lugar: Pressão alta
5º lugar: Deficiência de amamentação
6º lugar: Alcoolismo
7º lugar: Poluição ambiental
8º lugar: Baixa ingestão de frutas
9º lugar: Altos níveis de açúcar no sangue
10º lugar: Obesidade
Fonte: The Lancet, 2012
Principais fatores de risco à saúde em 2010
1º lugar: Pressão alta
2º lugar: Alcoolismo
3º lugar: Tabagismo
4º lugar: Poluição dentro de casa
5º lugar: Baixa ingestão de frutas
6º lugar: Obesidade
7º lugar: Altos níveis de açúcar no sangue
8º lugar: Baixo peso infantil
9º lugar: Poluição ambiental
10º lugar: Sedentarismo
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