sábado 16 2013

BRAD PITT: O supergalã chega à maturidade — o doce abismo dos 50 anos


"Ser pai dr uma grande família amorosa é o ponto alto da minha vida" (Foto: Venturelli / WireImage)
"Ser pai dr uma grande família amorosa é o ponto alto da minha vida" (Foto: Venturelli / WireImage)
Texto de Harold von Kursk, publicada em edição impressa de Alfa

O DOCE ABISMO DOS 50
Brad Pitt, o menino de ouro de Hollywood, envelheceu, seguiu seus instintos e descobriu o óbvio: no final das contas seu grande apoio é a família
Ele foi o menino de ouro de Hollywood, abençoado por uma beleza apolínea e carregado daquele pragmatismo estoico do meio-oeste americano que definiu lendas do cinema como Gary Cooper e Robert Redford.
O problema é que, enquanto as mulheres o adulavam e os homens o invejavam, Brad Pitt parecia afundar em um mal-estar persistente sobre o estado das coisas. No auge da fama, confessou que sofria de depressão, acreditando que seus papéis de cinema ficavam aquém de suas expectativas. Além disso, achava que a bajulação era imerecida.
Talentoso e ambicioso, Pitt então tentou sacudir sua imagem escolhendo personagens peculiares em filmes corajosos. A impressionante lista incluiu alguns dos melhores lançamentos dos últimos anos: Clube da LutaSnatchBastardos InglóriosA Árvore da VidaMoneyballMas na hora em que a consagração como ator chegou, ele novamente já estava interessado em outra coisa.
"Johny Suede" (1991), "Nada é para Sempre" (1992), e "Lendas da Paixão" (1994)
Brad Pitt nos filmes "Johny Suede" (1991), "Nada é para Sempre" (1992), e "Lendas da Paixão" (1994)
À beira dos 50 anos, que ele completará em 2013, diz não ter a mínima dúvida de que seu grande feito foi formar uma bela e numerosa família multiétnica. “Encontrei uma mulher que amo, e as crianças expandiram meu mundo para muito além do que imaginava. Isso é muito gratificante, ainda que eu não consiga mais dormir”, afirma. “Ser pai de uma grande família amorosa é o ponto alto da minha vida.”
O que parece aflorar na maturidade de Pitt são os instintos naturais de um homem criado em uma pequena cidade do Missouri. Hoje ele trata de reorientar para o afeto a energia que antes direcionava para a competição e o trabalho. Ainda que tenha se rebelado contra a severa educação religiosa que teve dos pais, sabe que boa parte de sua força vem do carinho e do respeito que recebeu na infância. “O que mais quero é capacitar e guiar meus filhos para que eles tenham uma vida boa”, diz. “Sinceramente, tudo se resume à família, e acho que ela define o homem acima de tudo.”
É evidente que esse seu maior projeto começou quando ele conheceu e se apaixonou por Angelina, no set de filmagens de Sr. & Sra. Smith, em 2004. Ela estava à procura de um homem para ser pai de seus filhos adotivos. O casamento de Pitt com Jennifer Aniston entrava em colapso. E assim ele acabou cedendo aos encantos de sua sexy e turbulenta coestrela.
Angelina já havia adotado Maddox, e a perspectiva de ficar com ela e ainda se tornar pai instantaneamente cumpriu um sonho do ator. Na sequência, eles adotaram mais duas crianças, e Angelina finalmente decidiu ter seus próprios filhos biológicos, algo a que sempre tinha resistido. “Brad se sente tão perto de nossos filhos e é tão dedicado a ensinar-lhes o máximo que pode sobre a vida e o mundo que eu simplesmente me emociono”, ela diz.
O casal tem seis filhos – Maddox, 11 anos, Pax, 9, Zahara, 8, Shiloh, 6, e os gêmeos Vivienne e Knox, 4 – os três primeiros adotados e os três últimos biológicos.
Pitt admite que a paternidade é seu projeto mais demorado e decisivo. A ela credita, em grande parte, seu senso de maturidade e a definição dos propósitos de sua existência. “As crianças seguram um espelho para você”, ex­plica. “Não se pode dar desculpas.­ Você tem de se certificar se elas es­cova­ram os dentes e comeram o ca­fé­ da manhã. Precisa estar presente pa­ra acalmá-las se acordarem no meio de um pesadelo.” Ser pai, ele diz, o levou a ser mais reflexivo sobre a própria experiência. O tempo inteiro se questiona se está criando os filhos adequadamente e se o tipo de educação que dá os transformará em pessoas melhores.
"Jogo de Espiões" (2001), "Doze Homens e Outro Segredo" (2004), e "Babel" (2006)
"Jogo de Espiões" (2001), "Doze Homens e Outro Segredo" (2004), e "Babel" (2006)
O que Pitt concebe como família é um lugar seguro, onde você pode crescer, experimentar, cometer erros e aprender com eles sem muito risco. Seu ponto de vista é o de uma criança que não precisa sofrer para se preparar para os desafios da maioridade. A questão da proteção é fundamental, mas as condições seguras precisam ser dadas com o objetivo de lançar os filhos ao mundo.
Os pais, segundo ele, devem ser capazes de ajudá-los para que possam lidar com seus próprios problemas. Pitt tornou-se particularmente próximo do filho mais velho Maddox, com quem viaja regularmente e para quem dá lições de arquitetura e história em troca do prazer da convivência. Este é precisamente o tipo de ligação familiar que ele diz colocar acima de tudo e o faz pensar, inclusive, em quanto tempo ainda continuará atuando. Está convencido de que ser ator é tarefa para os mais jovens. “Sei que não vou fazer isso quando tiver 80″, ri.

O conservador corajoso
Embora seja um caminho aparentemente conservador, a guinada familiar de Pitt obedece a um impulso de mudança. A decisão de ficar com Angelina e criar um vasta prole foi uma transformação radical em sua vida. E não foi a primeira.
No final dos anos 1980, quando abandonou a faculdade de jornalismo, duas semanas antes de se formar, e dirigiu até Los Angeles com 300 dólares no bolso, movido por uma vaga epifania de virar ator, ele ainda acreditava em algum tipo de sonho americano e se comprometeu a levar uma vida inspirada. “Queria fazer algo diferente e tive a ideia de me tornar ator para ver até onde isso me levaria”, lembra. Foi a primeira vez que confiou realmente nos instintos.
Uma década depois, estava em uma crise brava, cansado de aduladores e incomodado com sua conversão em símbolo sexual. Sentia-se um ator qualquer, empacotado pela indústria. Chegava em casa à noite para se esconder. “Passei boa parte de meus 30 anos triste e perdido”, confessa. “Fiquei realmente doente nessa época, não sabia lidar com essa condição de celebridade. Fumava muita maconha e passava o tempo inteiro esticado no sofá.”
"O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008), "Bastardos Inglórios" (2009), e "The Counselo" (2013)
"O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008), "Bastardos Inglórios" (2009), e "The Counselo" (2013)
E esse sentimento de mal-estar só foi crescendo. Era pura depressão. Uma noite Pitt concluiu que estava desperdiçando seu tempo e que, mais uma vez, era hora de mudar: havia se tornado ator para fazer filmes sérios. “Percebi há alguns anos que o tempo é curto e passei a entrar só em projetos realmente importantes para mim e que resistirão ao teste da longevidade, que envelhecerão sem perder a força”, diz. “Há momentos na nossa vida em que precisamos seguir os instintos e tomar uma nova direção.”
O encontro com Angelina foi mais um desses momentos, talvez o mais intenso de todos. Pitt torna-se filosófico quando fala dessa mudança, que considera dramática. Não que muitos homens discordem de sua escolha, mas poucos estariam dispostos a se comprometer com a responsabilidade de criar uma grande família.
Desde o início, ele entendeu o que Angelina esperava dele. “Preferi não ter filhos tão cedo, mas chegou a hora da grande guinada”, explica. “As crianças são um valor dominante na minha vida agora, mas não eram antes.” Pitt sabia que precisaria esgotar todas as suas necessidades como ator e viver o máximo de experiências para poder ser um bom pai. Hoje, é sensível à forma como divide seu tempo entre cuidar da família e entregar-se à paixão pelo cinema. “Aprendi a gastar meu tempo com sabedoria”, afirma.
O ator admite que o envelhecimento é uma forma de alívio e até de libertação de seus dias antigos, quando era objeto de adoração irracional dos fãs e perdeu o rumo. “Ser mais velho é realmente doce e melhor em alguns aspectos”, diz. “Parei de ser agarrado nas ruas e vi que minha relação com o público se aprofundou e passou a ser orientada pela qualidade do meu trabalho.”
Com a idade avançando, diminuiu também a sensação de ser apenas uma mercadoria. Seus interesses e prazeres se multiplicaram, e a atuação deixou de ser o único deles. Hoje, sua prioridade é aproveitar o tempo livre e viajar com Angelina e a prole. Ao longo de um ano típico, a família mora em pelo menos três casas. A maior parte do tempo ficam em Los Angeles, numa mansão de três andares, cercada de árvores e relativamente discreta para os padrões hollywoodianos.
Quando tem oportunidade, a tropa se desloca para o castelo Miraval, uma propriedade de 40 milhões de dólares, 35 quartos e vinhedo particular localizada perto da aldeia de Correns, na Riviera Francesa. O casal também tem uma casa em Londres, onde costuma passar o verão com as crianças. O castelo da França, porém, é a residência preferida.
Brad e Angelina, com a enorme e multiétnica prole Maddox, Pax, Zahara, Shiloh, e os gêmeos Vivienne e Knox (Foto: Fame Pictures)
Brad e Angelina, com a enorme e multiétnica prole Maddox, Pax, Zahara, Shiloh, e os gêmeos Vivienne e Knox (Foto: Fame Pictures)
Não só oferece proteção adicional dos paparazzi, como permite que a família se sinta confortável para ir às compras na aldeia local ou caminhar tranquila pelas praias vizinhas. Pitt e Angelina casaram ali. “Ainda me sinto inquieto e gosto cada vez mais de viajar. Quero ver o mundo, ver tudo o que for possível”, declara.
Pitt não tem dúvidas de que sua atitude é moldada pela forma como seus pais criaram os três filhos – ele, seu irmão e sua irmã. Graças à educação e ao afeto que recebeu, foi capaz de crescer com uma perspectiva positiva e uma boa compreensão do senso comum. Diz querer ser capaz de transmitir seus valores aos filhos para que respeitem as outras pessoas e, apesar de serem crianças com um monte de privilégios, entendam que, às vezes, a vida pode ser muito difícil, tanto no sentido físico, por causa de uma doença ou um acidente, como econômico.
“O foco em fazer minha família feliz e segura me tornou mais generoso e amoroso”, afirma. “Tenho a vida que sempre quis.” Ainda que Pitt, a caminho dos 50 anos, não admita isso, por modéstia ou por qualquer outro motivo, hoje ele é provavelmente mais feliz do que jamais foi em qualquer outro momento da sua trajetória.

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