Leiam com atenção este texto. O petismo lulista quer usar a cidade de São Paulo como mero trampolim do projeto de poder de um grupo que pretende rivalizar com… Dilma! Parece incrível. Pois é…
O PT disputa a eleição na cabeça de chapa em 17 capitais. Lidera apenas em uma: Goiânia. Perdeu espetacularmente a vantagem que tinha em Recife. Em menos de um mês, o candidato do governador Eduardo Campos (PSB), Geraldo Julio (PSB), saltou de 7% para 29%; o petista Humberto Costa caiu de 35% para os mesmos 29%. Luiz Inácio Lula da Silva, agastado com a decisão de Campos de lançar candidatura própria, fez uma espécie de ameaça-desafio, afirmando que iria medir forças com o governador. Costa chegou a pedir à Justiça Eleitoral a impugnação do agora adversário do PSB. O neto de Miguel Arraes está levando a melhor. Lula nasceu em Pernambuco, mas é e sempre será um político de São Paulo. Contam-me que, nas franjas da militância campista, trabalha-se a ideia de que gente de fora está tentando interferir na vontade dos pernambucanos… Lula, um forasteiro em Pernambuco! Não deixa de ter a sua graça…
Em Belo Horizonte, o PT também pretende enfrentar o PSB — que está aliado ao PSDB do senador Aécio Neves. O Apedeuta volta hoje aos comícios eleitorais, justamente em apoio ao petista Patrus Ananias, que enfrenta o prefeito Márcio Lacerda, que disputa a reeleição e, no momento, tem o dobro das intenções de voto do petista: 46% a 23%. Nos dois casos, há nomes considerados presidenciáveis no horizonte: Aécio e Campos.
Lula, como se vê, anda ruim de milagre. E, por óbvio, neste ponto, alguém pode perguntar: “E São Paulo?” São muitas as variáveis particulares na cidade. Ontem, num longo texto, tratei dos fatores que convergem para criar dificuldades para o tucano José Serra. Os dois anos de intenso trabalho de desconstrução de sua imagem e os quatro em que a gestão Kassab ficou sob vara alimentaram a tal ideia da “mudança”. As franjas organizadas do petismo — inclusive na imprensa — criaram esse caldo, que se deu muito mais na esfera das sensações. Num efeito certamente inesperado pelo partido, quem acabou dele se beneficiando foi Celso Russomanno (PRB). O PT aposta num segundo turno entre Fernando Haddad e o candidato do sedizente bispo Edir Macedo. Acha que leva de goleada.
O PT conta com o sangue novo da cidade de São Paulo para se rejuvenescer. Há coisas curiosas acontecendo nos bastidores. Embora Haddad tenha sido ministro da presidente Dilma, ele é, vamos dizer assim, um candidato mais “lulista” do que “dilmista”. Hoje, o lulismo sabe que a presidente, tudo o mais constante — e não parece que haja cataclismo econômico no horizonte; só mediocridade mesmo! —, tem forças para se reeleger por sua própria conta. Ocorre que esse “PT de Dilma” não é aquele realmente apreciado pelo núcleo duro do partido.
A situação algo curiosa é esta: embora petistas de alto coturno acreditem que Dilma pode ser a primeira petista a se eleger (no caso, reeleger-se) no primeiro turno, acham que isso é mais evidência de um enfraquecimento de longo prazo do que prova de vitalidade. Essa gente, em suma, não gosta do PT de Dilma, considerado não mais do que “administrativista”, com baixo teor de apelo ideológico.
Isso nada tem a ver com qualidade de gestão. Os petistas nunca deram bola pra isso. Acham que a presidente vai muito pouco às massas e desestimula os que querem ir. Embora a oposição esteja esmagada, ressentem-se do que avaliam ser um excesso de descrição da presidente, que seria desmobilizadora. Eles a querem mais palanqueira, exercitando com mais vigor a luta do “nós” contra “eles”. Dilma, que não é tola, sabe que esse é o figurino do antecessor, não o seu.
Tudo por São PauloPor isso o PT lulista aposta tudo em São Paulo e vê na cidade o primeiro passo de uma conquista que realmente seria inédita: o governo do estado. Até o candidato já está pronto — não é Marta, claro!; não é Haddad (ganhe ou perca a Prefeitura); não é Mercadante — também ele considerado uma cara velha. O nome é Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, que será reeleito! É claro que o petismo lulista quer esmagar o PSDB. Mas, curiosamente, a intenção principal é menos essa do que governar o “Brasil do B”, a saber: o lulismo quer se aboletar no Palácio dos Bandeirantes para ter nas mãos um país que possa, vamos dizer, ombrear com o outro país — que estaria, então, a cargo de Dilma.
Com um terço do PIB sob controle, o petismo lulista — aquele fortemente ancorado no sindicalismo e no corporativismo — acha que pode voltar a se impor. Dilma parece a essa gente excessivamente preocupada em governar o país e muito pouco preocupada em atender ao partido. Não que isso seja verdade ou que a gestão seja um exemplo de virtude. Mas, para a sede dos companheiros, é pouco. Eles querem mais.
O lulismo, em suma, quer usar a cidade como trampolim para o governo do estado e o governo do estado como trampolim para travar os enfrentamentos internos dentro do próprio PT. A turma até aceita que Dilma governe por um novo período, mas terá de dividir o Brasil com Lula e seus acólitos. Essa é a natureza do jogo, e Haddad é mero instrumento da primeira etapa. “Então Dilma não vai entrar na campanha do petista?” É claro que vai! Ela não tem alternativa. Mas quem encostar o ouvido a seu coração saberá a verdade.
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