Como a TV Justiça é uma TV pública, que traz, inclusive, programas de caráter educacional, não fica bem veicular uma informação errada sem correção — mormente pela boca de um dos 11 cidadãos mais importantes da República: os ministros do Supremo Tribunal Federal.
Ontem, ao tentar desqualificar a opinião de peritos que consideraram ter havido rompimento de contrato na retenção dos bônus de volume por um agência de Marcos Valério, o ministro Ricardo Lewandowski citou a expressão “ne sutor supra crepidam” — “não vá (suba) o sapateiro além da sandália” —, afirmando que não era da competência deles fazer aquela avaliação. E tentou explicar.
Segundo disse, um sapateiro apontou um problema na sandália de uma estátua que estava sendo esculpida por Fídias (sec. V a.C). O escultor grego ficou grato, e o homem se animou, propondo novas correções. O artista, então, teria dito (em grego, é claro!, não em latim): “Não vá o sapateiro além da sandália”.
Errado! A frase seria de autoria do pintor Apeles (sec. IV a.C), também grego, não de Fídias. E o sapateiro atrevido estaria a corrigir um quadro, não uma escultura. E por que restou a expressão em latim? Porque quem a narrou pela primeira vez, vejam vocês!, foi Valério, mas não o Marcos, e sim o Máximo. Valério Máximo (sec. I a.C) era latino e registrou a fala num dos volumes de “Fatos e Ditos Memoráveis”. Apontei ontem, no debate na VEJA.com, o erro de Lewandowski.
Na segunda, aguardo a correção do ministro. Ao menos no que diz respeito a Fídias e Apeles. Ne sutor supra crepidam!
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
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