NATÁLIA LEITE: “Em dois supermercados, nos Jardins, a pera seca variou entre R$ 34 e R$ 125. Mesmo a mais barata da região ainda é mais cara do que na zona cerealista. Alguém me explica como chegaram à conta de R$ 125?".
Por NATÁLIA LEITE
Resolvi perder aqueles três quilinhos que quase toda mulher acredita ter a mais. No meu caso, o mais difícil foi resistir à tentação da barra de chocolate ou brigadeiro no meio da tarde. A vida sem doce parecia não valer a pena. Nem em nome do tão sonhado jeans 36.
Andava meio cabisbaixa, glicose lá no pé, dúvida sobre manter a dieta. Até que um telefonema às nove da noite de uma segunda-feira triste, de baixíssimas calorias, mudou tudo. “Não precisa ficar sem doce, querida. Pode abusar de gelatina zero e frutas secas”, disse meu pai e médico de confiança.
Uhuuuuuuu! Como diz minha amiga Thais quando está com pressa, “saí em desabalada carreira” rumo ao supermercado. Carregamentos de pozinhos coloridos e pequenos potes com maçãs, peras, mangas e abacaxis desidratados devolveram minha alegria.
O consumo de frutas secas aumentava e a conta no caixa do supermercado também. Assustadoramente. O pote vem pouquinho e custa R$ 8, R$ 10. Ok. Nunca tinha prestado atenção no preço do quilo. Antes da dieta era raro comprar esses itens. Sabe quanto custa o quilo da pera desidratada onde eu costumava comprar? Pasmem: R$ 125! Cen-to e vin-te e cin-co re-ais. Isso mesmo. Será que o processo de desidratação envolve banho de ouro nas frutas? Só pode. De que outra forma explicar cerejas secas ao custo de quase R$ 200 o quilo?
Trabalho muito, 12, 14, 16 horas por dia. Respeito o dinheiro. Decidi achar uma saída para manter o doce na boca e o saldo no banco. Fui bater na zona cerealista, centro de São Paulo. Logo no comecinho da famosa Rua Santa Rosa entrei numa casa de produtos naturais lotada. Por quê? Preços honestos.
Se estiver em pé, melhor sentar para não cair. Lá o quilo da mesmíssima pera desidratada é vendido por R$ 24,99. Um quinto do preço! Poderia se argumentar que a explicação está no custo do transporte, do aluguel. Não cola. Em dois supermercados lado a lado, nos Jardins, a pera seca variou entre R$ 34 e R$ 125. Mesmo a mais barata da região ainda é mais cara do que na zona cerealista. Por favor, alguém me explica como chegaram à conta de R$ 125?
Minha relação com essas maravilhas de baixa caloria existe há tempo suficiente para me dar condição de avaliar qualidade. Se houver diferença é para melhor lá no mais barato. Me senti respeitada. Afinal, é justo para todos. A loja no centro tem lucro. Não é ONG, é negócio. E vai bem.
Em nome de todas as mulheres que fazem dieta e trabalham muito para ter a vida que escolheram, saí de câmera em punho.
* Natália Leite é jornalista, mestre em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, coordenadora do Projeto Mulher do Milênio em São Paulo, curiosa e otimista incurável. Escreve quinzenalmente sobre os erros, acertos e dúvidas que nos fazem mulheres.
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