domingo 09 2013

"Acredito que as relações entre pessoas que conhecem a si mesmas, e se amam antes de amar o outro, têm tudo para dar certo".



Eles se conheceram na minha frente. Foram apresentados num jantar na casa de amigos em comum. A conexão foi imediata. Não é exagero: olhei uma vez e estavam conversando. Quando olhei de novo, foi por conta do volume das gargalhadas. Se alguém tinha dúvida de que eles logo seriam um casal, quando sentamos para jantar, deixou te ter. Éramos dez pessoas. Oito numa conversa sobre economia e os dois de “tititi” como se estivessem sozinhos. Pareciam ser velhos e queridíssimos amigos. Havia intimidade, alegria, mas não jogo de sedução.
Malu é uma mulher coerente, sabe o valor que tem e não baixa a guarda para qualquer um. Somos amigas há anos e já acompanhei alguns romances dela, mas nunca vi tamanha cumplicidade. Eu estava ao mesmo tempo participando da conversa do grupo e saboreando a festa deles.
Na hora da sobremesa, já se comunicavam com o olhar. Quase caí pra trás quando ela dividiu o brigadeiro com o bonitão. Voluntariamente, partiu metade e colocou no prato do moço. Pode parecer banal, mas quem conhece Malu entende minha surpresa. Ela é uma formiga, chega a qualquer restaurante já pensando na sobremesa. É capaz de tirar os sapatos para dar a um estranho que precise, mas perde o bom humor se alguém se aproxima ao prato de doce dela.
No dia seguinte, marcamos de almoçar juntas. Eu estava pronta para seguir o script. Imaginei que ela fosse chegar dando pulinhos de alegria e batendo palmas de excitação. Imaginei que, em seguida, contaria os detalhes da conversa e a certeza de que nasceram um para o outro. Depois, me caberia cumprir o papel de proteger a amiga que amo.  Ensaiei mentalmente formas de dizer para Malu ir com calma sem parecer “a estraga prazer”. Quando ela chegou, o discurso estava no gatilho.
Mas Malu é surpreendente. Não seguiu o script. Mostrou que é sempre nova. Aprendeu a viver as experiências à medida que aparecem, sem seguir modelos, guiada pelo balanço entre alma e coração. Chegou sorridente, satisfeita e serena, não boba e embriagada de paixão como eu esperava. Fez o relato de um encontro que parece ser bem especial. Aí fui eu quem caiu no papel da adolescente boba. Perguntei quando vai vê-lo novamente, como vai conduzir a história e Malu, mais uma vez, deu um baile de coerência. Não vou nem explicar. Vou transcrever porque a colocação é irretocável.  Ela disse: “Vou com apetite suficiente para me fazer feliz. Não para me fazer enjoar. Vou com parcimônia e amor próprio”.
Acredito mesmo que isso pode virar amor. Pelo tempo que durar – dois meses, três anos, a vida toda - deve ser amor de verdade. Acredito que as relações entre pessoas que conhecem a si mesmas, e se amam antes de amar o outro, têm tudo para dar certo.
*Natália Leite é jornalista, mestre em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, curiosa e otimista incurável. Escreve quinzenalmente sobre os erros, acertos e dúvidas que nos fazem mulheres.

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