Rio de Janeiro
Atual secretário do prefeito do Rio afirma, por escrito à Polícia Federal, que estava na reunião em que o PMDB repassou recursos para o partido aliado na eleição de 2012. Em troca de emails, integrantes do PTN informam número de conta para depósito
Thiago Prado, do Rio de Janeiro
Evento do PTN tem a presença de Eduardo Paes (Radar)
O depoimento para a Polícia Federal de um secretário do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, vai reacender a suspeita de caixa dois do PMDB na campanha eleitoral de 2012. Naquele ano, faltando uma semana para a votação, VEJA revelou um vídeo em que o então presidente do PTN no Rio, Jorge Esch, dizia a correligionários que acertara o apoio do partido para a candidatura Paes por 1 milhão de reais - 200 000 reais para a campanha de vereadores e 800 000 reais para ele próprio, num estranho acerto de contas referente ao período em que trabalhou na RioLuz, estrutura municipal responsável pela iluminação pública. Na ocasião, Paes negou o acordo e disse que o PTN só foi ajudado com material de campanha. Paes foi reeleito sem dificuldade. Mas o mecanismo de apoios de partidos nanicos ao PMDB permaneceu mal explicado.
A história não foi exatamente a contada pelo PMDB, segundo o relato por escrito de Antonio Manoel de Souza, mais conhecido como Tonico, responsável pela Coordenadoria da Criança e do Adolescente, divisão com status de secretaria. Tonico conta, sem precisar a data, que foi ao Comitê Central do PMDB, na Barra da Tijuca, em 2012, para receber recursos de doação para a campanha. “Eu estava lá para receber do meu partido (PSL), lá estava também o (vereador) Jimmy Pereira do PRTB e, neste dia, presenciei que o (vereador) Dr. Gilberto de Oliveira Lima estava lá e entrou na sala para receber os recursos do PTN”, afirmou.
A história não foi exatamente a contada pelo PMDB, segundo o relato por escrito de Antonio Manoel de Souza, mais conhecido como Tonico, responsável pela Coordenadoria da Criança e do Adolescente, divisão com status de secretaria. Tonico conta, sem precisar a data, que foi ao Comitê Central do PMDB, na Barra da Tijuca, em 2012, para receber recursos de doação para a campanha. “Eu estava lá para receber do meu partido (PSL), lá estava também o (vereador) Jimmy Pereira do PRTB e, neste dia, presenciei que o (vereador) Dr. Gilberto de Oliveira Lima estava lá e entrou na sala para receber os recursos do PTN”, afirmou.
Tonico detalha no texto enviado à PF que avisou a Jorge Esch por telefone de que Gilberto estava no PMDB pegando os “recursos”. O site de VEJA apurou como foram as reuniões descritas por Tonico. Os encontros eram comandados pelo chefe da Casa Civil de Paes, Pedro Paulo de Carvalho, e o seu atual chefe de gabinete, Fernando Duba. O repasse deflagrou uma guerra dentro do PTN – Esch agora está acusando Dr. Gilberto de embolsar o dinheiro e não repassar para o partido. Além do depoimento de Tonico, Esch entregou à PF e-mails enviados para Gilberto entre julho e agosto, cobrando o envio dos recursos repassados pelo PMDB. “Segue o número da conta de campanha do PTN: Banco Itaú – Agência 6002 – Conta Corrente 16767-1”, dizem as mensagens.
Procurado pelo site de VEJA, Tonico não quis comentar o caso. Assessores do prefeito também não responderam, desde quinta-feira, as perguntas enviadas pela reportagem. Jimmy Pereira e Dr. Gilberto negaram o encontro relatado por Esch e Tonico, e afirmam que apenas material de campanha – devidamente declarado ao Tribunal Regional Eleitoral – foi repassado para os partidos aliados. Dr. Gilberto ainda afirma que há ressentimento por parte de Esch, que depois de uma decisão do TRE-RJ, foi afastado da presidência do PTN. Atualmente, Dr. Gilberto é o presidente do partido no Rio. “A maior ajuda que o prefeito me deu foi ir ao meu reduto eleitoral em Campo Grande. Não houve repasse de dinheiro”, afirma. Dr Gilberto, que, no entanto, não quis fornecer os e-mails em que respondia as mensagens de Esch pedindo o depósito dos recursos.
No vídeo divulgado em 2012 pela VEJA, Esch contou a correligionários a razão de o PTN desistir da candidatura própria, com Paulo Memória, para apoiar o prefeito candidato à reeleição: “Não tem condição de lançar candidatura própria (…). O cara dá 200 000 reais para dentro, dá uma prata para ele tirar a candidatura dele, dá todo o material de campanha, toda a estrutura para os candidatos. Chega lá dentro e, se bobear, tem uma gasolininha extra para botar no carro. Pô, não dá para recusar”, disse. Na ocasião, a prefeitura informou que dava suporte aos candidatos do PTN apenas com material de campanha e que gastou em placas e panfletos 154 514 reais.
O segundo acerto revelado no vídeo diz respeito a uma dívida que Esch e três amigos cobram da prefeitura do Rio de Janeiro dos tempos em que trabalharam na RioLuz. Os quatro queriam um reajuste retroativo do jetom pago pela autarquia, no período em que trabalharam no governo Cesar Maia. Diante dos correligionários, Esch disse que o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, se comprometeu a ajudá-lo. Na ocasião, Picciani negou as acusações e a prefeitura afirmou que os pagamentos não poderiam ser feitos porque o processo administrativo já estava encerrado.
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