Saúde pública
Uma das faculdades de medicina mais respeitadas do país se queixa de não ter sido ouvida para a formulação do programa. Em reunião nesta sexta-feira, médicos da universidade sugeriram contrapropostas à MP
Vivian Carrer Elias
Faculdade de Medicina da USP: reunião abre espaço para que professores, alunos e diretores opinem sobre o programa Mais Médicos (Marcos Santos/USP Imagens)
Uma das principais críticas dos acadêmicos em relação ao programa Mais Médicos — que, entre outras medidas, aumenta a duração do curso de medicina e obriga os alunos a atuar na rede pública — é o fato de eles não terem sido ouvidos para a formulação da proposta. Embora uma comissão formada por representantes de universidades federais tenha sido criada pelo governo para aprimorar a medida provisória, outras faculdades continuaram excluídas do debate. Entre elas, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), uma das mais importantes do país.
Diante disso, quase cem pessoas, entre diretores, docentes, estudantes e residentes da faculdade se reuniram nesta sexta-feira na instituição para discutir e formar contrapropostas à MP dos Médicos. A diretoria reafirmou sua posição contrária ao projeto, o qual classificou como uma “política impositiva” e que deve ser retirada de pauta. Segundo José Otávio Costa Auler Junior, diretor da FMUSP, a instituição deverá formular uma proposta oficial com base nas opiniões apresentadas durante a reunião desta sexta-feira e encaminhá-la ao governo.
Pontos em comum — “Tudo o que foi dito hoje conflui para um ponto: o de que ninguém concorda com essa medida provisória. Além disso, todos acreditam que a discussão da saúde pública não pode ser simplesmente ministerial, ela tem que mover segmentos da sociedade que tenham entendimento e conheçam a questão da saúde no país, como as entidades médicas e os acadêmicos”, diz o diretor da FMUSP. “A USP tem 100 anos de existência. Ela foi ouvida? Não.”
Os médicos da FMUSP, embora não concordem com o aumento em dois anos na duração do curso de medicina, assumem que a graduação precisa ser reformulada. Eles também admitem que o número de médicos é, sim, um dos problemas da saúde pública no país — ao contrário do que afirmam entidades médicas como o Conselho Federal de Medicina (CFM), por exemplo. Mas negam que as propostas do governo federal sejam a saída correta.
“A maior parte da formação médica brasileira é feita com hospital público ou hospitais que têm convênio com o SUS, então a maior parte dos estudantes já tem contato com a rede pública. Como o aluno realmente dá um salto muito grande em seus conhecimentos quando entra no internato [que acontece nos dois últimos anos da graduação], uma opção seria intensificar o internato, mas tudo no prazo de seis anos”, diz Eloisa Bonfá, diretora clínica do Hospital das Clínicas da FMUSP. “Além disso, depois da residência médica, os profissionais fazem um estágio em sua área. Outra opção possível seria levar estágios em clínica geral a áreas com maior carência em médicos, por exemplo. Acontece que o estudante, sozinho e sem supervisão, não é adequado para atender a população. Ele vai aprender com seus próprios erros.”
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