sexta-feira 06 2013

Funeral de Mandela será desafio logístico para África do Sul

Memória

Planos do governo preveem cerimônias em vários locais, ao longo de vários dias. Rivalidades familiares podem criar obstáculos no planejamento

Presidente da África do Sul, Nelson Mandela, em 1996
A despedida ao ícone da luta contra o apartheid será o maior evento da história da África do Sul. A TV estatal SABC já avisou que fará a cobertura ao vivo de todos os atos relacionados à morte de Nelson Mandela “nas próximas duas semanas”. O presidente Jacob Zuma, ao anunciar a morte em um pronunciamento transmitido pela televisão, disse que Madiba “terá funerais de Estado” e que as bandeiras do país permanecerão a meio mastro a partir desta sexta-feira até a realização do enterro.
Frases: "A coragem não é a ausência do medo, mas a sua superação."
A rede americana CNN informou que haverá cerimônias públicas e privadas em homenagem ao prêmio Nobel da Paz, que morreu nesta quinta-feira, aos 95 anos. Segundo a CNN, o corpo será encaminhado a um hospital militar para ser embalsamado. A TV também cita, em sua página na internet, a organização de uma cerimônia fúnebre no estádio Soccer City, em Johannesburgo, onde foi disputada a final da Copa do Mundo de 2010. Citando fontes do governo sul-africano, acrescenta que o corpo será levado para a sede do governo em Pretória e, finalmente, para Qunu. Mandela nunca deu instruções exatas para seu funeral. Apenas indicou o desejo de ter uma cerimônia singela nesta aldeia para a qual se mudou quando ainda era criança.
A estrutura prevista para a despedida ao líder sul-africano, porém, passa longe da simplicidade. O jornal britânico The Guardian destaca que o funeral de Mandela deverá rivalizar com o do papa João Paulo II em 2005, ao qual compareceram cinco reis, seis rainhas, setenta presidentes e primeiros-ministros, além de 2 milhões de fiéis. Às cerimônias dedicadas a Mandela, todos os ex-presidentes americanos vivos devem comparecer, além de chefes de estado e muitas celebridades.
“Tudo isso significa um planejamento sem precedentes e um pesadelo de segurança para a África do Sul”, destaca o jornal, citando um documento do governo sul-africano que prevê atividades para um período de doze dias. “Apesar de o documento ter sido elaborado mais de um ano atrás e possa ter sido revisto, é uma amostra de como as autoridades se prepararam para um momento único”.
Um ex-diplomata americano baseado em Johannesburgo comparou o trabalho que o funeral vai exigir ao que seria necessário para organizar “as cerimônias de abertura e encerramento da Copa do Mundo simultaneamente, junto com um evento de tomada de posse presidencial e a coroação de um monarca”. “O governo sul-africano vai enfrentar um desafio logístico gigantesco”, ressaltou J Brooks Spector.
Disputa – Além da questão logística, ainda há dúvidas sobre o local onde o corpo de Mandela será, de fato, sepultado. A questão foi alvo de discussão entre os familiares do ex-presidente há meses, desafiando o tabu existente na tribo xhosa de que não se deve discutir a morte de uma pessoa enquanto ela ainda está viva.
No período mais crítico para Madiba durante os três meses em que ficou internado em Pretória, entre junho e setembro, foi convocada uma reunião familiar para decidir sobre o funeral. Uma das alternativas analisadas foi colocar o corpo em um museu, para servir de lugar de peregrinação – o que iria contra o que Mandela sempre disse e escreveu sobre sua aversão à tentativa de mitificá-lo.
A aldeia Natal de Mandela, Mvezo, também poderia ser uma alternativa. Mas o local já foi alvo de disputa entre os familiares do ex-presidente. Isso porque, em 2011, os restos mortais de três filhos do prêmio Nobel foram misteriosamente transferidos de Qunu para Mvezo (a distância entre as duas localidades é de aproximadamente 40 quilômetros). O neto mais velho, Mandla, foi acusado de ter roubado os corpos para assegurar que Nelson Mandela fosse enterrado na aldeia – o que atrairia turistas para a região. Parentes entraram na Justiça e conseguiram uma ordem para que os restos mortais retornassem a Qunu.
A CNN afirma que uma aeronave militar vai levar o corpo do líder sul-africano na próxima semana, “provavelmente sexta-feira ou sábado”, para Qunu. A pequena aldeia está se preparando há meses para receber os visitantes – até mesmo novas estradas foram construídas.
O governo sul-africano criou uma página na internet específica para publicar os avisos relacionados ao funeral de Mandela. Por enquanto, o texto diz apenas que cerimônias serão realizadas em vários locais “para dar a todos a oportunidade de participar”. 

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