Memória
Planos do governo preveem cerimônias em vários locais, ao longo de vários dias. Rivalidades familiares podem criar obstáculos no planejamento
A despedida ao ícone da luta contra o apartheid será o maior evento da história da África do Sul. A TV estatal SABC já avisou que fará a cobertura ao vivo de todos os atos relacionados à morte de Nelson Mandela “nas próximas duas semanas”. O presidente Jacob Zuma, ao anunciar a morte em um pronunciamento transmitido pela televisão, disse que Madiba “terá funerais de Estado” e que as bandeiras do país permanecerão a meio mastro a partir desta sexta-feira até a realização do enterro.
Frases: "A coragem não é a ausência do medo, mas a sua superação."
A rede americana CNN informou que haverá cerimônias públicas e privadas em homenagem ao prêmio Nobel da Paz, que morreu nesta quinta-feira, aos 95 anos. Segundo a CNN, o corpo será encaminhado a um hospital militar para ser embalsamado. A TV também cita, em sua página na internet, a organização de uma cerimônia fúnebre no estádio Soccer City, em Johannesburgo, onde foi disputada a final da Copa do Mundo de 2010. Citando fontes do governo sul-africano, acrescenta que o corpo será levado para a sede do governo em Pretória e, finalmente, para Qunu. Mandela nunca deu instruções exatas para seu funeral. Apenas indicou o desejo de ter uma cerimônia singela nesta aldeia para a qual se mudou quando ainda era criança.
A estrutura prevista para a despedida ao líder sul-africano, porém, passa longe da simplicidade. O jornal britânico The Guardian destaca que o funeral de Mandela deverá rivalizar com o do papa João Paulo II em 2005, ao qual compareceram cinco reis, seis rainhas, setenta presidentes e primeiros-ministros, além de 2 milhões de fiéis. Às cerimônias dedicadas a Mandela, todos os ex-presidentes americanos vivos devem comparecer, além de chefes de estado e muitas celebridades.
“Tudo isso significa um planejamento sem precedentes e um pesadelo de segurança para a África do Sul”, destaca o jornal, citando um documento do governo sul-africano que prevê atividades para um período de doze dias. “Apesar de o documento ter sido elaborado mais de um ano atrás e possa ter sido revisto, é uma amostra de como as autoridades se prepararam para um momento único”.
Um ex-diplomata americano baseado em Johannesburgo comparou o trabalho que o funeral vai exigir ao que seria necessário para organizar “as cerimônias de abertura e encerramento da Copa do Mundo simultaneamente, junto com um evento de tomada de posse presidencial e a coroação de um monarca”. “O governo sul-africano vai enfrentar um desafio logístico gigantesco”, ressaltou J Brooks Spector.
Disputa – Além da questão logística, ainda há dúvidas sobre o local onde o corpo de Mandela será, de fato, sepultado. A questão foi alvo de discussão entre os familiares do ex-presidente há meses, desafiando o tabu existente na tribo xhosa de que não se deve discutir a morte de uma pessoa enquanto ela ainda está viva.
No período mais crítico para Madiba durante os três meses em que ficou internado em Pretória, entre junho e setembro, foi convocada uma reunião familiar para decidir sobre o funeral. Uma das alternativas analisadas foi colocar o corpo em um museu, para servir de lugar de peregrinação – o que iria contra o que Mandela sempre disse e escreveu sobre sua aversão à tentativa de mitificá-lo.
A aldeia Natal de Mandela, Mvezo, também poderia ser uma alternativa. Mas o local já foi alvo de disputa entre os familiares do ex-presidente. Isso porque, em 2011, os restos mortais de três filhos do prêmio Nobel foram misteriosamente transferidos de Qunu para Mvezo (a distância entre as duas localidades é de aproximadamente 40 quilômetros). O neto mais velho, Mandla, foi acusado de ter roubado os corpos para assegurar que Nelson Mandela fosse enterrado na aldeia – o que atrairia turistas para a região. Parentes entraram na Justiça e conseguiram uma ordem para que os restos mortais retornassem a Qunu.
A CNN afirma que uma aeronave militar vai levar o corpo do líder sul-africano na próxima semana, “provavelmente sexta-feira ou sábado”, para Qunu. A pequena aldeia está se preparando há meses para receber os visitantes – até mesmo novas estradas foram construídas.
O governo sul-africano criou uma página na internet específica para publicar os avisos relacionados ao funeral de Mandela. Por enquanto, o texto diz apenas que cerimônias serão realizadas em vários locais “para dar a todos a oportunidade de participar”.
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