sexta-feira 08 2013

Cientistas descobrem fóssil de mosquito cheio de sangue

Paleontologia

Considerado raro, o fóssil encontrado nos EUA tem 46 milhões de anos

Descoberta: o mosquito tinha se alimentado com sangue pouco antes de morrer
Descoberta: o mosquito tinha se alimentado com sangue pouco antes de morrer (AFP/Smithsonian Institution/Byline)
No filme Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros, lançado há 20 anos, cientistas clonaram dinossauros a partir do sangue encontrado no estômago de um mosquito fossilizado. Nesta segunda-feira, pela primeira vez, pesquisadores anunciaram ter encontrado um fóssil preservado por aproximadamente 46 milhões de anos de um mosquito de meio centímetro com o abdômen cheio de sangue, do qual havia se alimentado.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Hemoglobin-derived porphyrins preserved in a Middle Eocene blood-engorged mosquito

Onde foi divulgada: periódico Pnas

Quem fez: Dale E. Greenwalt, Yulia S. Goreva, Sandra M. Siljeström, Tim Rose e Ralph E. Harbach

Instituição: Museu Nacional de História Natural de Washington, nos EUA, e outras

Resultado: Os cientistas encontraram um raro fóssil de um mosquito com o abdômen cheio de sangue, do qual havia se alimentado. A descoberta confirma a existência da hematofagia, o ato de se alimentar de sangue, há 46 milhões de anos
"Trata-se de um fóssil extremamente raro, o único do tipo no mundo", disse Dale Greenwalt, pesquisador do Museu Nacional de História Natural de Washington, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo. A pesquisa foi publicada no periódico Pnas.
Diferentemente da ficção, na vida real nenhum DNA foi encontrado no sangue preservado no abdômen do mosquito – nem de dinossauros (extintos há 65 milhões de anos), nem de qualquer animal. Os pesquisadores explicam que o DNA é uma molécula grande e frágil, e por isso não sobrevive ao processo de fossilização.
Além disso, mesmo que o sangue fosse de um dinossauro, o que é cronologicamente impossível, a clonagem desses répteis pré-históricos continua não sendo possível. Isso porque seria necessário saber como seria o genoma completo dos dinossauros para conseguir reunir os possíveis fragmentos encontrados no sangue - algo que os cientistas não têm como saber. E mesmo assim, para clonar um animal extinto, seria preciso inserir seu DNA no óvulo de uma espécie atual que tivesse algum parentesco ou semelhança com o animal a ser "ressuscitado". 
"Como muito do que se vê na ficção científica, o filme de certo modo previu algo com que nós podíamos nos deparar", afirmou Greenwalt. Para o pesquisador, o sangue encontrado no fóssil pode ter sido de uma ave, pois o mosquito ancestral se assemelha a um inseto moderno do gênero Culicidae, que se alimenta do sangue desses animais.
O fóssil foi coletado na década de 1980 por Kurt Constenius, um estudante de geologia, que o deixou em seu sótão junto com outras outros fósseis que ele havia recolhido. O inseto só foi descoberto quando a coleção de Constenius foi doada para o museu onde Greenwalt trabalha como pesquisador.
Pesquisa – A hematofagia, ato de se alimentar de sangue, ocorre em cerca de 14.000 espécies de insetos, como pulgas, carrapatos e mosquitos. Apesar disso, evidências fósseis desse comportamento são dificilmente encontradas. O estudo descreveu um mosquito que havia se alimentado pouco antes de morrer. O fóssil foi encontrado no estado americano de Montana, preservado em xisto betuminoso, um tipo de rocha sedimentar.
Os pesquisadores identificaram níveis elevados de ferro no abdômen do animal e utilizaram uma técnica conhecida como espectrometria de massa não destrutiva para analisar sua fonte. Os resultados mostraram que o ferro identificado vinha da heme, molécula presente no sangue que permite o transporte de oxigênio.
Devido à raridade de fósseis desse tipo, muitos animais ancestrais foram identificados como hematófagos com base em características taxonômicas semelhantes a espécies atuais. Até o momento, evidências diretas desse tipo de dieta se limitavam a fósseis de mosquitos em que foram encontrados parasitas como o tripanossoma e o plasmodium, causador da malária – que chegam ao inseto por meio do sangue.


(Com Agência France-Presse)

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