Inspetores iam e voltavam de uma fábrica certificada pelo Walmart na província de Guangdong na China, aprovando a sua produção de mais de 2 milhões de dólares de artigos especiais que iriam parar nas prateleiras do Walmart dentro do prazo para o Natal.
Inspetores iam e voltavam de uma fábrica certificada pelo Walmart na província de Guangdong na China, aprovando a sua produção de mais de 2 milhões de dólares de artigos especiais que iriam parar nas prateleiras do Walmart dentro do prazo para o Natal.
Contudo, sem o conhecimento dos inspetores, nenhum dos artigos divertidos, inclusive fantasias de renas e roupas da Mamãe Noel para cães, que foram fornecidos para o Walmart tinham sido produzidos na fábrica. Em vez disso, operários chineses costuraram as mercadorias – que tinham sido encomendadas pelo Grupo Quaker Pet, uma empresa com sede em Nova Jersey – em uma fábrica fraudulenta que não tinha passado no processo de certificação estabelecido pelo Walmart para o trabalho, segurança do trabalho ou qualidade, segundo documentos e entrevistas com as autoridades envolvidas.
Para receber aprovação de envio para o Walmart, um subcontratante da Quaker simplesmente transferia os artigos para uma fábrica aprovada, onde eles eram apresentados aos inspetores como se tivessem sido costurados lá e nunca tivessem saído das instalações.
Logo depois da mercadoria chegar às lojas do Walmart, ela começava a cair aos pedaços.
A aproximadamente 2.414 quilômetros a oeste, a fábrica Rosita de Artigos de Malha no noroeste de Bangladesh – que fazia suéteres para empresas em toda a Europa – passou em uma inspeção da auditoria com altas notas. Uma equipe de quatro monitores deu a fábrica centenas de vistos de aprovação. Em todas as 12 principais categorias, inclusive de horas trabalhadas, compensação, práticas de gestão de saúde e de segurança, a fábrica recebeu a maior nota para "bom". "Condições de Trabalho – Nenhuma queixa dos trabalhadores", escreveram os auditores.
Dez meses após essa inspeção, as funcionárias da Rosita devastaram a fábrica em fevereiro de 2012, vandalizando suas máquinas e acusando a gerência de renegar aumentos prometidos, bônus e pagamento de hora extra. Algumas alegaram que foram assediadas sexualmente ou que apanhavam dos guardas. Nenhum indício dessas queixas foi relatado na auditoria.
Enquanto as empresas ocidentais esmagadoramente recorrem aos países de salários baixos longe das sedes corporativas para a produção de roupas baratas, de eletrônicos e outros produtos, as inspeções das fábricas tornaram-se uma ligação vital na cadeia de fornecimento da produção estrangeira.
Jonathan Browning/The New York Times
Um exame minucioso feito pelo New York Times revela como o sistema de inspeção feito para proteger os operários e garantir a qualidade da fabricação é cheio de falhas. As inspeções frequentemente são tão superficiais que elas omitem as salvaguardas mais fundamentais do local de trabalho como saídas de incêndio.
E mesmo quando os inspetores são rígidos, os gerentes das fábricas encontram maneiras de enganá-los e esconder violações sérias, como o trabalho infantil ou portas de emergências trancadas. Condições perigosas citadas nas auditorias frequentemente levam meses para serem corrigidas, muitas vezes com pouca aplicação da lei ou acompanhamento para garantir a conformidade.
Dara O'Rourke, especialista da cadeia global de fornecimento da Universidade da Califórnia, Berkeley, disse que pouco tinha melhorado em 20 anos de monitoramento de fábricas, especialmente com o maior uso de inspeções 'marque a caixinha' mais baratas em milhares de fábricas. 'Os auditores recebem maior pressão por velocidade, e eles não são capazes de acompanhar o que realmente está acontecendo na indústria têxtil', declarou. 'Vemos fábricas e marcas passando nas auditorias porém falhando com os trabalhadores das fábricas'.
Ainda assim, grandes empresas como o Walmart, a Apple, a Gap e a Nike recorrem ao monitoramento não apenas para verificar se a produção não está atrasada e com qualidade adequada, mas também para projetar uma imagem corporativa que visa garantir aos consumidores que elas não usam fábricas exploradoras como na obra de Dickens. Além disso, as empresas ocidentais dependem das inspeções para descobrir condições de risco no trabalho, como más instalações elétricas ou escadas bloqueadas, que expuseram algumas corporações a acusações de irresponsabilidade e exploração após desastres em fábricas que mataram centenas de trabalhadores.
O desabamento da Fábrica Rana Plaza em Bangladesh, que matou 1129 trabalhadores em abril, intensificou a investigação internacional do monitoramento das fábricas, e pressionou os maiores varejistas a assinar acordos para endurecer os padrões das inspeções e para melhorar as medidas de segurança.
Enquanto muitos grupos consideram os acordos um avanço significante, alguns auditores de longa data e grupos de trabalho externam ceticismo de que sistemas de inspeção sozinhos possam garantir um ambiente de trabalho seguro. Afinal, dizem, o número de auditorias nas fábricas de Bangladesh tem aumentado constantemente já que o país se tornou um dos maiores exportadores de vestuário do mundo, e mesmo assim, 1800 trabalhadores morreram em acidentes no ambiente de trabalho nos últimos 10 anos.
'Fazemos auditorias nas fábricas de Bangladesh há 20 anos, e eu me pergunto, 'Por que essas coisas não estão mudando? Por que as coisas não estão melhorando?'' perguntou Rachelle Jackson, a diretora de sustentabilidade e inovação da Arche Advisors, um grupo de monitoramento sediado na Califórnia.
Empresas de monitoramento de fábricas estabeleceram um negócio florescente nas duas décadas desde que a Gap, a Nike, o Walmart e outras empresas manchadas pelas revelações de que as suas fábricas internacionais empregavam trabalhadores menores e se envolviam em outras práticas abusivas no ambiente de trabalho.
A cada ano, essas empresas de monitoramento avaliam mais de 50.000 fábricas no mundo inteiro que empregam milhões de trabalhadores. Só o Walmart encomendou mais de 11.500 inspeções no ano passado. Impulsionado pela demanda elevada de monitoramento, o preço das ações de três das maiores empresas de monitoramento de capital aberto, a SGS, a Intertek e o Bureau Veritas, subiu cerca de 50 por cento comparando-se a dois anos atrás.
As inspeções têm uma importância enorme para os proprietários das fábricas, que podem ganhar ou perder milhões de dólares em encomendas dependendo de suas classificações. Com tanto em jogo, consta que os gerentes das fábricas já tentaram enganar ou trapacear os auditores. Ofertas de suborno não são inéditas. Frequentemente, notificado com antecedência sobre a visita de um inspetor, os gerentes das fábricas destrancam as portas de saída de emergência, desbloqueiam escadas obstruídas ou pedem aos trabalhadores menores para não irem trabalhar naquela semana.
Greg Gardner, o presidente e diretor executivo da Arche Advisors, disse que os varejistas ocidentais e as marcas frequentemente buscam diferentes níveis de auditorias. Alguns, como a Levi's e a Patagonia, querem auditorias rigorosas – e caras, enquanto outros preferem auditorias limitadas e não dispendiosas que não prejudiquem os relacionamentos com os fornecedores preferidos.
Auret van Heerden, presidente e diretor executivo da Associação de Trabalho Justo, um grupo sem fins lucrativos que a Apple utiliza para monitorar as suas fábricas Foxconn na China, declarou que muitas das inspeções são demasiadamente corridas.
'Muitos estão fazendo uma fábrica por dia, e muitos auditores, mais de uma fábrica por dia', disse. 'Estão no avião e vão para uma nova cidade no dia seguinte. Eles não têm muito tempo para pensar no assunto ou desenvolvê-lo'.
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