Política
Imóvel custaria no mercado ao menos 50% mais do que o registrado na escritura do negócio; 1 mi será pago em parcelas de 152 000 a empreiteiro
Senador afirmou que renda declarada na compra soma atividades públicas e privadas (Lia de Paula/Agência Senado)
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), comprou de um empreiteiro uma casa na área mais nobre de Brasília por 2 milhões de reais, há três meses. Metade do pagamento foi acertada por meio de um contrato particular firmado com o empresário. O imóvel custa no mercado ao menos 50% mais do que o registrado na escritura do negócio, segundo corretores.
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, Renan afirma ter fechado com o empreiteiro um contrato paralelo, que prevê o pagamento de 240 000 reais à vista, como sinal, e de mais 760 000 diluídos em cinco parcelas semestrais de 152 000 reais cada uma. Em 2010, Renan declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) patrimônio de 2,1 milhões de reais, composto por um apartamento e uma casa em Alagoas, uma caminhonete e quotas da Sociedade Agropecuária Alagoas, de propriedade de sua família. O saldo em contas correntes, à época, não passava de 3 300 reais.
Agora, para fazer o negócio, o senador informou à Caixa Econômica Federal, que financia o 1 milhão de reais restante do valor do imóvel, ter renda mensal bruta de 51 723 reais – o salário de senador é de 26 500. Calheiros informou que a renda declarada para a compra da casa é fruto da soma do salário como senador e dos lucros de suas atividades agropecuárias. Segundo a declaração do senador à Justiça Eleitoral, Renan e a mulher, Verônica, são donos da Sociedade Agropecuária Alagoas, criadora de bois. Renan não vendeu nenhum dos imóveis que já possuía para adquirir a casa.
Além do contrato particular com o empreiteiro Hugo Soares Júnior, o negócio envolve financiamento de 22 anos com a Caixa. A prestação inicial, apenas a devida ao banco, é de 13 299 reais – 62% da remuneração líquida no Senado. A compra foi fechada com Soares, construtor de Brasília, numa transação cujos detalhes não são descritos integralmente na escritura de compra e venda, registrada em maio no cartório.
Valores – O senador explicou, em nota, que o imóvel foi avaliado por 2,4 milhões de reais pela Caixa Econômica Federal, que liberou o financiamento de metade do dinheiro necessário ao negócio. "Os recursos (para a compra) são provenientes das atividades pública e privada", afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa. Renan disse ainda não ter nenhuma relação com o empresário Hugo Soares Júnior que extrapole a compra da casa.
O empreiteiro vendedor não quis falar sobre o negócio. Procurada em sua casa, a mulher do empresário, Jaqueline Soares, que também consta como vendedora, disse não saber nada sobre a transação, feita pelo marido.
Imóvel – Com 404 metros de área construída, a nova morada dos Calheiros fica em quadra do Lago Sul, vizinha a embaixadas e à residência oficial do Senado, que Renan ocupa desde que ascendeu à presidência da Casa, no início do ano. Tem duas salas, quatro quartos, três banheiros sociais, dois quartos de serviço e área descoberta com piscina. Segundo três imobiliárias da região, não sairia por menos de 3 milhões de reais – só o lote, de 700 metros quadrados, está avaliado em 2 milhões.
A casa foi comprada por Soares por 1,8 milhão, em janeiro de 2010, de um casal de economistas. Passados três anos e quatro meses, em que houve intensa valorização imobiliária em Brasília, ele fechou o negócio, portanto, por 200 000 reais a mais, diluindo parte do montante em parcelas que levarão dois anos e meio para serem quitadas. Soares é conhecido em Brasília por comprar e reformar imóveis, revendendo-os depois a preços maiores.
Além de Renan, consta como compradora da casa a mulher do senador, Maria Verônica Rodrigues Calheiros. Para obter o financiamento na Caixa, ela não apresentou renda própria. A casa no Lago Sul é ocupada pelos filhos do peemedebista, Rodolfo e Rodrigo Calheiros, este último funcionário comissionado na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), controlada pelo PMDB.
(Com Estadão Conteúdo)
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