Cidades
Sérgio Cabral ressaltou a importância de manifestações pacíficas, mas afirmou que a missão da polícia é sempre agir de acordo com a tensão que se apresenta
Cecília Ritto e Pâmela Oliveira
Depois de uma semana de silêncio, o governador Sérgio Cabral, o mais atacado durante os protestos no Rio de Janeiro, convocou a imprensa nesta sexta-feira para reiterar a importância de manifestações pacíficas em um país democrático como o Brasil e dizer que os baderneiros não serão poupados. "Ninguém aqui vai proteger a polícia, mas também não vai proteger vândalos." Pouco antes de abrir para perguntas, o governador apoiou algumas das principais reivindicações vistas nas ruas: ele afirma ser contrário à PEC 37 - que retira do Ministério Público o poder de investigação - e a favor dos direitos civis dos homossexuais e da liberdade religiosa.
"São manifestações com temas importantes que devem ser debatidos de forma democrática. O debate é sempre louvável e não temos a pretensão de hegemonia", declarou Cabral, reiterando: "Mas o protesto precisa ser feito dentro do respeito e da tolerância. Quem ganha com a desordem e o radicalismo? Não é a sociedade brasileira. Não se pode permitir que uma minoria desgaste um movimento tão bonito." Ele preferiu não apontar excessos da polícia, mas confirmou que a atuação dos agentes deve ser reavaliada. "A polícia agiu dentro do estado de tensão apresentado, da maneira que achou mais viável para preservar a ordem pública. Mas faz parte, claro, rever procedimentos."
Quando perguntado se os protestos eram um sinal de desgaste do seu governo, Cabral tangenciou. O nome dele entoa gritos de guerra em todas as manifestações no estado, muito mais do que o prefeito Eduardo Paes - a quem caberia, por exemplo, a redução da tarifa de ônibus, primeira pauta dos protestos. Questionado novamente, o governador disse que não se vê como alvo principal da revolta da população. "Não tenho monopólio nem unanimidade. Cerca de 33% dos cidadãos não votaram na minha reeleição. Isso faz parte da democracia."
Segurança - Pouco antes de Cabral, a cúpula de segurança do estado também se reuniu com jornalistas para avaliar os últimos protestos. O secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, não descartou acionar o Exército para conter a ação de vândalos nos próximos protestos. "O Exército já está no Rio de Janeiro - não em função dos episódios, e sim da Copa das Confederações. Eles têm ações específicas, mas se for necessário, não serei eu que deixarei de tomar essa providência", afirmou, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, ao lado da chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, e do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro.
Beltrame ainda ponderou que é preciso reavaliar a "expressão minoria", usada constantemente para se referir aos vândalos que assumem o controle ao fim dos protestos. "Eu não sei se uma minoria produziria o Rio que amanheceu hoje (sexta-feira)", disse, referindo-se à destruição observada em especial na Avenida Presidente Vargas, tomada por cerca de 300.000 pessoas na noite de quinta, segundo a Coppe/UFRJ. "Todos queremos democracia. Mas, no momento em que você mistura isso com quebradeira, o braço do estado, que é a polícia, tem que agir. E isso não é bom para nenhum dos lados." O secretário afirmou, porém, que qualquer abuso comprovado por parte da PM será punido.
Apesar da baderna generalizada, somente oito pessoas foram detidas em flagrante na manifestação - em geral, por furto qualificado e depredação. Três deles são menores de idade e um deles carregava uma granada, detalhou a chefe da Polícia Civil do Rio, Martha Rocha, complementando que imagens de câmeras de segurança e reportagens de TV estão sendo analisadas para que se identifique outros envolvidos em cenas de destruição do patrimônio público. "A Polícia Civil identificou duas pessoas envolvidas em atos de vandalismos durante o ataque à Assembleia Legislativa, na segunda. Um deles é um homem, mora em Itaboraí e tem passagem pela polícia por agressão a guardas municipais", informou.
Prefeitura - Enquanto a cúpula de Segurança comentava os confrontos entre manifestantes e polícia, o prefeito Eduardo Paes contabilizava os prejuízos na capital. Foram mais de 580 equipamentos ou objetos públicos totalmente destruídos no Centro da capital. O balanço, divulgado também em coletiva de imprensa, aponta ainda para a depredação de parte do Sambódromo, além do incêndio provocado no vizinho Terreirão do Samba, que recebe shows e tem sido ponto de encontro da torcida brasileira durante a Copa das Confederações. Além dos danos materiais, 62 pessoas ficaram feridas em confrontos entre os próprios manifestantes e também com a polícia - oito são guardas municipais. Todos foram encaminhados ao Hospital Municipal Souza Aguiar.
O rastro de destruição no Rio
98 semáforos
31 placas de trânsito
62 abrigos de ônibus
5 relógios de ruas
46 placas de identificação de ruas
340 lixeiras
7 carros de guardas municipais
31 placas de trânsito
62 abrigos de ônibus
5 relógios de ruas
46 placas de identificação de ruas
340 lixeiras
7 carros de guardas municipais
Além de uma série de lojas, prédios comerciais e outros edifícios que foram pichados ou depredados e ainda não estão contabilizados
Repetindo que considera legítimas todas as manifestações democráticas, o prefeito repudiou o rastro de depredação deixado pelos vândalos. "A cidade não precisa ser destruída para se manifestar uma opinião. É inaceitável que se deprede qualquer coisa. O vandalismo não pode ser o protagonista desses atos", declarou, lembrando os episódios semelhantes ocorridos em outras cidades - como Brasília, onde um grupo tentou invadir o Palácio do Itamaraty e um princípio de incêndio teve de ser controlado. "Todos têm o direito de se manifestar, mas o que precisa ter limite é esse absurdo que se viu em todo o país."
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