quinta-feira 18 2013

A quatro dias da chegada do papa, polícia ainda tenta entender as manifestações

Rio de Janeiro

Depois de reunião com o governador Sérgio Cabral, autoridades e representantes da sociedade civil fazem reprovação unânime ao quebra-quebra no Leblon

Manifestante faz uma fogueira com lixos durante um protesto contra o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, na frente de sua residência no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro
Manifestante faz uma fogueira com lixos durante um protesto contra o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, na frente de sua residência no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro - Marcelo Sayo/EFE

Com o quebra-quebra nos dois bairros mais nobres do Rio de Janeiro, os manifestantes conseguiram algo inédito: uma reprovação unânime das autoridades e instituições que, até então, se posicionavam contra a forma de atuação da polícia nos protestos de rua. O presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz, chamou de “fascistas” os manifestantes que depredaram lojas e atacaram policiais no Leblon. Já o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, admitiu as limitações das forças de segurança para enfrentar os protestos. “Estamos tratando de turba, de ações muito complexas que, por vezes, coloca a polícia entre a prevaricação e o abuso de autoridade. A solução não está nos extremos, está no meio. Quero dizer aos senhores que estamos aprendendo nesse processo”, disse o secretário.
As declarações foram dadas depois de duas reuniões de emergência convocadas pelo governador Sérgio Cabral. As autoridades fluminenses e cariocas estão pressionadas pelo tempo: têm na agenda a visita do papa Francisco e, simultaneamente, uma programação de protestos que têm claro objetivo de aproveitar a visibilidade internacional da Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2013), assim como ocorreu na Copa das Confederações.
De todo o falatório da primeira hora, o que se extrai é a indisfarçável surpresa das autoridades de segurança com a complexidade dos eventos, e uma dificuldade de dosar a força policial e a tolerância com os protestos.
Beltrame destaca o ineditismo do cenário atual. “São 30 dias de manifestação e que vêm acontecendo coisas que até então não tínhamos visto, como coquetéis molotov e estilingues incendiários. Esse é o quadro em que a PM e a polícia são colocadas”, explicou ele, acrescentando que a falta de um líder torna impossível a negociação.
Mais contundente, o comandante-geral da Polícia Militar, Erir Ribeiro Costa Filho, deu um sinal de que, nos próximos atos, a postura não será tão branda. “O que foi pactuado com a OAB, a Anistia Internacional e órgãos de direitos humanos não deu certo. Depois do que aconteceu ontem vamos fazer uma reavaliação da nossa forma de atuar”, disse.
Também pela PM, o coronel Alberto Pinheiro Neto, do Estado-Maior operacional, afirmou que o episódio do Leblon e de Ipanema provou que o vandalismo não é uma reação à postura da polícia. “A polícia foi atacada com mais de mil pedras, bolas de gude, coquetéis molotov e rojões. Polícia manteve o pacto de tolerância. Desde o início dos protestos, as pessoas diziam que as depredações ocorriam depois que manifestantes eram acuados pela polícia. Ontem (quarta-feira), foi uma prova de que estavam errados. A polícia ficou concentrada em um lugar e a turba saiu quebrando tudo”, disse.
O procurador-geral de Justiça do Rio, Marfan Martins Vieira, chamou de “atentado à democracia” a ação dos manifestantes. “Os eventos de ontem foram um atendado à democracia. Os movimentos no Rio são atentatórios à ordem jurídica e ao regime democrático. Entre os movimentos, há os legítimos e democráticos. Houve a ação isolada de grupos paramilitares. O que se viu ontem foi um passeio pelo código penal. Percebia-se formação de quadrilha, furto qualificado com arrombamento, incêndios, explosões e agressão física contra os policiais”, criticou.
Desde o início dos protestos, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) atuam para defender manifestantes detidos. Ontem, havia advogados de plantão. A postura do presidente da seccional Rio da OAB, no entanto, não foi de apoio aos protestos. Felipe Santa Cruz fez o ataque mais duro à manifestação. “A manifestação que é legítima desbordou numa manifestação com traços de fascismo. O que estamos vendo na internet nas últimas 24 horas tem caráter autoritário, fascista, que desconsidera por completo o estado democrático brasileiro”, afirmou.
Nota oficial - Aguardado pela imprensa, Sérgio Cabral se recusou a dar entrevista. O governador se manifestou somente por meio de nota, divulgada por sua assessoria de imprensa: "Os atos de vandalismo na madrugada de ontem nos bairros do Leblon e de Ipanema são uma afronta ao Estado Democrático de Direito. O governo do estado reitera a sua posição de garantir, através das forças de segurança pública, não só o direito à livre manifestação, como também o direito de ir e vir e à proteção ao patrimônio público e privado".


Nenhum comentário: