terça-feira 09 2012

Biquíni, a explosão que varreu o mundo – e derrubou o Houaiss



Enquanto caminhamos a passos rápidos para o verão, volto das férias com vontade de falar da palavra biquíni. No nome desse exíguo traje de banho feminino cabem uma metáfora explosiva e um intenso comércio globalizado entre línguas, a ponto de o termo ser hoje considerado, com ligeiras alterações de grafia, simplesmente universal. Cabe também uma breve lição de história.
A gloriosa carreira internacional da palavra começou em 1946, quando os Estados Unidos iniciaram uma série de testes nucleares detonando uma bomba embaixo d’água no atol de Bikini, pertencente às ilhas Marshall, no Pacífico. Chamado de Pikkini na língua local (supostamente de pik, “superfície”, e ni, “coco”, embora isso não seja pacífico), o nome do atol ganhou manchetes mundo afora.
Aparentemente – e apesar dos horrores então recentes de Hiroshima e Nagasaki – explosões nucleares ainda eram capazes de gerar cogumelos atômicos de glamour. E os franceses, principais árbitros do glamour e do batismo de peças de vestuário, foram rápidos no gatilho. Naquele mesmo ano, o designer Louis Réard (foto acima) registrou a palavra bikini como marca de sua versão especialmente exígua (e com lacinhos) de duas-peças. Tais tipos de traje vinham encolhendo cada vez mais por essa época na Riviera, mas o tal bikini era tão pequeno que todas as modelos procuradas se recusaram a vesti-lo na festa de lançamento. Foi preciso contratar uma stripper.
No ano seguinte, em tom moralista, o jornal “Le Monde” atestava o valor metafórico da nova acepção, “palavra tão devastadora quanto uma explosão, correspondente à aniquilação da superfície coberta pelo traje e à minimização extrema da vergonha”.
Depois disso, só não foi possível, para tristeza de Réard, controlar a reação linguística em cadeia que espalhou a palavra pelo mundo como substantivo comum. O inglês a adotou já em 1947. O primeiro registro em português, segundo o Houaiss, dataria de 1975, o que é um erro evidente. O arrasa-quarteirão “Biquíni de bolinha amarelinha”, versão de uma canção americana feita por Hervé Cordovil e gravada por seu filho Ronnie Cord e por Celly Campelo, é de 1961.

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