Paleontologia
Análise do tártaro de hominídeos mostrou evidências do consumo de tubérculos e plantas amargas
Pesquisadores descobriram que neandertais tinham dieta variada e comiam vegetais, além da carne; na imagem, reprodução de uma família de neandertais (Nikola Solic/Reuters)
Nem só de carne viviam os antigos hominídeos. Um grupo internacional de pesquisadores demonstrou que os neandertais que viveram em El Sídron, na Espanha, conheciam as propriedades medicinais e nutricionais de algumas plantas, como a camomila e a aquileia (usadas para aliviar problemas estomacais) e incluíam vegetais em sua dieta.
A pesquisa, que contou com a participação de especialistas do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha, da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e da Universidade de York (Reino Unido), chegou a estas conclusões a partir da análise do tártaro presente nos dentes de cinco indivíduos adultos e de um jovem da espécie.
Os pesquisadores encontraram nos tártaros algumas moléculas de amido que estão presentes em tubérculos, legumes e frutas secas. O tártaro cresce nos dentes por uma superposição de camadas e entre elas ficam armazenadas as moléculas e os compostos químicos.
Além disso, o estudo constatou que pelo menos um dos indivíduos analisados tinha ingerido plantas de sabor amargo, concretamente aquileia e camomila, disse em uma nota de imprensa Stephen Buckley, do centro BioArCh, da Universidade de York.
Até pouco tempo atrás, pensava-se que os Neandertais, que foram extintos há cerca de 30 mil a 24 mil anos, eram predominantemente carnívoros.
Dieta variada - No entanto, cada vez mais estudos como este publicado no periódico alemão Naturwissenschaften mostram que a espécie também se alimentava de vegetais, sobretudo em latitudes mais ao sul, disse à Efe Antonio Rosas, diretor do grupo de paleoantropologia do Museu Nacional de Ciências Naturais e um dos autores do trabalho.
“O fato de usarem este tipo de planta com pouco valor nutritivo é surpreendente. Nós sabemos que os Neandertais usavam as plantas amargas, portanto provavelmente a espécie as selecionava por razões que vão além de seu sabor”, afirmou Buckley.
Antonio Rosas compartilha da opinião e disse que a partir da descoberta de compostos químicos derivados da camomila se conclui que a espécie sabia de suas propriedades medicinais.
Karen Hardy, da UAB, ressaltou que a variedade de plantas identificadas sugere que os Neandertais de El Sidrón tinham um conhecimento sofisticado do meio natural onde viviam, o que incluía a habilidade de selecionar e usar certas plantas por seu valor nutricional e curativo. “A carne era claramente primordial, mas nossa pesquisa evidencia uma alimentação bastante mais complexa do que sabíamos até agora”, explicou Karen.
A presença de componentes vegetais na dieta da espécie não é a única descoberta do trabalho. Segundo Rosas, foram encontradas evidências de fumaça no tártaro, provenientes, ao que tudo indica, de alimentos feitos à lenha.
O sítio arqueológico de El Sidrón, descoberto em 1994, possui a maior coleção de Neandertais da Península Ibérica.
(Com agência EFE)
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