Botânica
Livro conta como 50 espécies vegetais, do tabaco à samambaia, transformaram a vida no planeta
Juliana Santos
Seringueira, árvore da qual se extrai o látex para a fabricação da borracha (Thinkstock)
O jornalista e escritor inglês Bill Laws é interessado por jardinagem e tem livros escritos sobre o assunto, como The Field Guide to Fields (O guia de Campo dos Campose) e The Curious History of Vegetables (A Curiosa História dos Vegetais). Em seu primeiro trabalho publicado no Brasil, 50 Plantas que Mudaram o Rumo da História (Sextante, 224 páginas), o autor fala de plantas como tabaco, café e cana-de-açúcar, com trajetórias mais conhecidas, mas também de como a pimenta-do-reino influenciou o sistema bancário mundial, a tulipa causou o primeiro grande colapso financeiro do mundo e o cânhamo – uma das denominações da maconha – serviu de matéria-prima para o papel em que foi impressa a declaração de independência dos Estados Unidos.
Biblioteca
50 Plantas que Mudaram o Rumo da História
Autor: BILL LAWS
Editora: SEXTANTE
"A história não precisa necessariamente ser um evento global. A seringueira e seu papel no combate à aids pode ser considerada parte da história tanto quanto o açafrão, um luxo medieval e uma das especiarias mais caras do mundo", diz Laws, ao explicar por que selecionou não apenas espécies ligadas a grandes acontecimentos mundiais, mas também plantas aparentemente menos importantes.
Laws mostra no livro como nossa concepção sobre espécies vegetais muda ao longo do tempo. Na Europa dos séculos XVI e XVII, quando imperavam a tensão religiosa e a superstição, a batata era considerada "obra do diabo", por suas “curvas voluptuosas” e “formas sugestivas”. Para piorar, havia relatos de que pessoas que consumiam o tubérculo cru sofriam de eczema, uma inflamação cutânea então considerada um tipo de lepra. Em 1795, o escritor inglês David Davies registrou que "embora a batata seja um excelente tubérculo, não parece provável que seu consumo venha a se tornar normal neste país". A popularização do fish and chips, prato típico inglês com peixe e batatas fritas, mostrou que Davies estava errado.
O papel das plantas – Para Débora Medeiros, pesquisadora do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e revisora técnica da versão brasileira do livro, a obra realça a importância da botânica para o público. "As plantas não recebem a mesma atenção de esforços conservacionistas quanto alguns animais considerados mais 'carismáticos', como baleias e pandas, mesmo sendo a base de toda a cadeia alimentar e componente essencial do ambiente", diz.
Levando em consideração quem habita o planeta há mais tempo, a diferença é injusta. Enquanto os humanos modernos se desenvolveram na África há apenas 130.000 anos, as espécies vegetais colonizaram a Terra há 470 milhões de anos. As plantas sempre forneceram à humanidade combustível, alimento, abrigo e remédios. Elas controlam a taxa de erosão do solo e regulam a quantidade de dióxido de carbono e oxigênio no ar. Produtos derivados delas são usados em inúmeros processos industriais.
Laws afirma que o livro, além de fonte de conhecimento e entretenimento, é um alerta sobre a forma como a humanidade tem interagido com as plantas e o dinamismo delas em modelar a história. "As plantas tiveram e têm papel significativo e muito mais amplo do que se pensa na história da humanidade. Ignorar isso não é só ingênuo, é perigoso", afirma.
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