quinta-feira 21 2013

Francisco Buarque de Hollanda percebeu que queria ser músico quando ouviu o álbum "Chega de Saudade", de João Gilberto.


Francisco Buarque de Hollanda percebeu que queria ser músico quando ouviu o álbum "Chega de Saudade", de João Gilberto. Gostou tanto que o ouviu sem parar, atazanando o juízo de toda a família, inclusive da irmã Miúcha, que viria a casar-se com Gilberto. Viveu em Itália e para lá voltou em 1969, num auto-exílio, face à ditadura militar do Brasil. Cantou a revolução dos cravos em "Tanto Mar" e tornou a cantá-la, em 1978, numa letra mais desiludida. Aos 67 o músico brasileiro edita um novo álbum, "Chico", que chegou dia 21 de Julho às lojas portuguesas. O que é que Chico tem, afinal? Fomos perguntar o mesmo a quem percebe disto
Não são só os olhos azuis nem os dentes brancos e risonhos que mostra a toda a hora. Não é só a voz, as letras, a música, as mulheres que cria e fala quando as canta e descreve. É isso tudo. Aos 67 anos, Chico Buarque, com um álbum novo, continua a ser isso tudo e mais qualquer coisa. Perguntámos a cinco ilustres conhecidos o que é que Chico Buarque tem.

Alípio de Freitas (Revolucionário, preso político no brasil nos anos 70) Gosto muito do Chico e não há ninguém que não goste, a menos que seja maluco. Ele fala do quotidiano com uma facilidade e intimidade que é acessível a todas as pessoas. E quase sem se dar por isso, sem grandes militâncias, esteve sempre ao lado das pessoas que lutaram contra a ditadura no Brasil. Esteve sempre presente com a sua música. O Chico é acessível, não é difícil para ninguém, é um companheiro de todos os dias mesmo para quem nunca o viu. As pessoas identificam-se e acham-no parecido com elas.

Música favorita: É difícil escolher uma mas acho que "A Banda" continua a ser uma obra de arte. Acho que nem o Chico a repetiria.

vitorino (músico) Gosto muito. Além da estética da música, gosto do posicionamento social e ideológico dele. Ele tem uma canção, "Não existe Pecado ao Sul do Equador", sintomática da ingenuidade dos povos latino-americanos que são esmagados pelo Norte. É dos cantores brasileiros que mais assumem as questões ideológicas. Além de ser um grande poeta e compositor, tem a componente social. Sou grande admirador por isso, porque é um defensor do Sul. O Chico dá consistência à ideia que os povos do Sul têm uma cultura muito forte. E vou confessar um segredo: eu desfilo na escola de samba da Mangueira. A última vez que lá estive foi há dois anos e o tema era "Minha Pátria, Minha Língua" e o Chico Buarque, que é mangueirense, ia à frente da escola. Cruzei-me com ele por um breve momento.

Música Preferida:
 Acho que que é mesmo "Não Existe Pecado ao Sul do Equador".

Francisco José Viegas (Secretário de Estado da Cultura) Conheci Chico Buarque dois anos depois do disco "Paratodos", quando o entrevistei para um programa da SIC, "Escrita em Dia" - como escritor e autor de "Estorvo" e de "Benjamim". Gosto dos sambas de Chico Buarque e da maior parte das suas canções onde o samba se liga à nuvem romântica que o persegue desde "A Banda". É essa nuvem que o protege e prolonga a sua arte, acho eu.

Música Preferida: Para a escolha conta o melhor poema, o de "Futuros Amantes", uma canção belíssima e pouco escutada, de 1993, do álbum "Paratodos". 


Rúben de Carvalho (Programador da Festa do avante) É um excelente poeta, compositor e intérprete. Tem algumas características que não são comuns na poesia, como a forma como escreve sobre as mulheres. Diria que é quase única, é quase como se escrevesse no feminino. Obviamente que isto que estou a dizer é quase um cliché, não é uma grande descoberta, mas é muito curioso. E tenho também uma identificação de carácter ideológico.

Música Preferida: É uma pergunta embaraçosa porque depende das circunstâncias... mas como ando a preparar a Festa do Avante vou escolher a que fez para o 25 de Abril, "Tanto Mar".

jp simões (Músico) Ouço Chico Buarque desde pequenino e há coisas que são quase orgânicas. Desde pequeno que gosto que me contem histórias e ele conta histórias que têm sempre dimensões poderosas, sociais e metafísicas. O Chico criou uma herança de doçura, cidadania e malandragem.

Música preferida: "Construção"é uma canção inacreditável. 

http://www.vantagenscaixa.pt/gca/micropaginas/gentes-lugares/meus-caros-amigos-chico-buarque-esta-de-volta

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