Escolha do deputado petista para coordenar a nova comissão de reforma política foi criticada, em nota, por grupo de colegas de partido
BRASÍLIA - Trinta deputados federais do PT divulgaram ontem uma nota na qual contestam a escolha do colega petista Cândido Vaccarezza (SP) para coordenar a nova comissão de reforma política. Os parlamentares criticam o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que indicou Vaccarezza em detrimento do deputado Henrique Fontana (PT-RS), e dizem não aceitar a "interferência externa".
Ao lembrar que o plebiscito sugerido pela presidente Dilma Rousseff foi combatido pelos mesmos setores que "empatam" a transformação do sistema eleitoral, os signatários da nota partem para o ataque contra Alves.
"Uma das respostas conservadoras, patrocinada pela atual presidência da Câmara dos Deputados, além da rejeição da ideia do plebiscito, foi a constituição de mais uma comissão para propor uma reforma política em marcos muito mais tímidos do que inicialmente proposto pela presidente Dilma", diz a nota assinada até agora por 30 dos 89 deputados da bancada petista. "O caráter regressivo desse ato foi reafirmado por interferência externa na indicação do membro da bancada do PT para coordenar os seus trabalhos."
Os deputados afirmam, ainda, que a bancada ficou "surpresa" com o ato de Alves ao chamar Vaccarezza para o posto e manifestam solidariedade a Fontana. "Mais do que uma escolha pessoal, este gesto é um claro movimento para impor à bancada do PT preferências políticas que não são as suas", escreveram eles. "Tal atitude antecipa um antagonismo às posições que o PT defende na reforma política."
Fontana foi relator da comissão da Câmara que, durante dois anos e meio, discutiu um projeto de mudanças no sistema político-eleitoral. Nesta semana, ele abandonou a comissão depois que Alves designou Vaccarezza para coordenar os trabalhos. Vaccarezza tem o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após a briga na seara petista, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) ocupou a vaga deixada por Fontana.
Alves afirmou que o PMDB defenderá o fim da reeleição para cargos executivos, a partir de 2018. O partido do vice-presidente, Michel Temer, também quer que o financiamento privado de campanha seja mantido, mas com doações feitas diretamente aos partidos, e não aos candidatos. O PT, por sua vez, prega o financiamento público de campanha e teto para doações de pessoas físicas. Os petistas não cogitam o fim da reeleição e, em conversas reservadas, afirmam que o PMDB só está criando problema para Dilma.
Vaccarezza tem bom relacionamento com o PMDB. Sua escolha, porém, causou muitos protestos no PT. Procurado na noite de ontem, o deputado não foi localizado para comentar a rebelião na seara petista.
A nota com críticas a Alves e com o repúdio a Vaccarezza é assinada por deputados de várias correntes e Estados, como os ex-ministros Afonso Florence (BA) e Iriny Lopes (ES), o secretário-geral do PT Paulo Teixeira (SP), Alessandro Molon (RJ), João Paulo Lima e Silva (PE), Jorge Bittar (RJ), Dr. Rosinha (PR) e Domingos Dutra (MA).
No último parágrafo da nota, os parlamentares mandaram um recado a Dilma: "Conte conosco na defesa, mobilização e articulação do plebiscito." Para eles, é Fontana, e não Vaccarezza e Alves, que luta por uma "reforma para valer". O presidente da Câmara não quis comentar as críticas.
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