quarta-feira 10 2013

Copa tem tudo a ver com Bola

Por: Marcos Saboya


Excelentíssima presidente Dilma Rousseff...
Esta é a primeira vez que escrevo para uma presidente.
O motivo é nobre.
Quero avisá-la que a senhora irá entrar para a história com a Copa do Mundo.
Mas não da maneira que imagina.
Por mais que sua participação efetiva seja dar bicudas na bola...
Fazer discursos eleitorais para políticos aliados que não vão poupar palmas...
Derrubar Ricardo Teixeira...
E delegar todo o controle do Mundial mais caro da história a Aldo Rebelo.
A senhora herdou esta Copa do seu mentor, o ex-presidente Lula.
Esperto, ele vislumbrava o maior amor do Brasileiro.
E, principalmente, a ano que o Mundial será disputado.
Não é uma beleza ele acontecer justo quando haverá eleição presidencial?
Melhor impossível.
O Brasil assegurou a Copa aqui em 30 de outubro de 2007.
Há quase seis anos.
O anúncio oficial arrancou lágrimas de felicidade de Lula.
E de várias construtoras e empreiteiras.
A Fifa propôs e o governo de integração aceitou de imediato.
Pela primeira vez desde 1930 haverá 12 sedes em um Mundial.
O 'normal' eram oito.
Mas aqui não.
Houve uma reunião governamental em 2010.
Sim, três anos depois do anúncio do Mundial nesta terra.
Com pomposo nome, presidente: Matriz de Responsabilidades.
Ficou acertado que os estádios custariam no máximo R$ 5,4 bilhões.
Pois três anos depois, as obras já passaram de R$ 7,1 bilhões.
E vão aumentar, para que todas sejam entregues no prazo.
Cara Dilma, me permita a intimidade...
Sabia que quatro destes oito estádios são elefantes brancos?
O de Manaus, Cuiabá, Natal e a que a senhora acaba de inaugurar?
Onde ironizou os como eu, pessimistas de plantão?
Isso, o da cidade onde mora, presidente.
Onde ouviu o assanhado Aldo Rebelo chamar de Coliseu da nova Roma?
Será que ele está prevendo como ficará daqui a alguns anos a arena?
Aos poucos a senhora entenderá o motivo pelo qual entrará na história.
O estádio Mané Garrincha que acabou de inaugurar.
Sem saber, teve a primazia de batizar o primeiro elefante branco do País.
A arena custou um bilhão de reais.
Tem capacidade para 75 mil pessoas, que beleza.
Sabe qual é a média de público do Campeonato Brasiliense?
844 pessoas.
Com um detalhe muito interessante.
Ingressos a R$ 1,00.
Vamos falar de Cuiabá.
A nova arena custou até agora R$ 519 milhões.
43.600 pessoas poderão assistir grandes confrontos por lá.
Isso se decidirem sair de casa.
A média do Campeonato Mato-Grossense é de 612 pessoas.
Mesmo com o incentivo governamental.
Um quilo de comida vale um ingresso.
A arena das Dunas em Natal ficou linda, nos trinques.
Cabem 45 mil pessoas.
A senhora quer a média de público no Campeonato Potiguar?
Como ou sem emoção, como perguntam os bugueiros de lá?
O emocionante primeiro turno mostrou 1.041 pagantes.
Porém a mais confortável será a de Manaus.
Ela custou baratinho: R$ 529 milhões.
Caberão 44.310 pagantes.
No poderoso Campeonato Amazonense será uma festa.
Será possível acampar, jogar futebol nas arquibancadas.
A média do torneio é de 588 pagantes.
Sim, presidente.
Elefantes brancos anunciados antes mesmo de começarem as obras.
Mas para que parar?
Há de se ter uma solução.
Talvez a criação do bolsa ingresso.
José Maria Marin tem uma solução.
Lembrando o tempo da Ditadura Militar que o fez governador.
E discursar contra o Vlado Herzog, se recorda?
Lógico que sim...
Pois bem, ele quer que os grandes clubes brasileiros ajudem na marra.
Sejam obrigados a levar partidas como mandantes para estes estádios.
Sem poder de barganha.
Quer tornar isso uma prática normal no Campeonato Brasileiro.
Por enquanto não anunciou oficialmente.
Mas já está articulando.
Haverá enormes conflitos e provável rebelião.
A senhora sabe, presidente, o efeito colateral destas arenas?
O preço dos ingressos subiu em média 300% no país.
A se fosse o nosso PIB, hein presidente?
Mas não é.
As arenas estão elitizando o público.
Na Copa então, será uma doideira.
Futebol só na televisão ou nos telões de lanchonete.
A Fifa já começou a vender os ingressos para o Mundial.
Vou mostrar para a senhora os preços dos caros.
Os baratos só depois da Copa das Confederações.
É para assustar, presidente.
Tem direito a buffet, os melhores lugares.
Os jogos são da primeira fase, da Seleção Brasileira.
No Itaquerão custam US$ 2.552, nada menos do que R$ 5.145.
Em Fortaleza e Brasília será uma pechincha.
US$ 1.595, R$ 3.190, em cada jogo.
Se a seleção do Felipão se classificar para a final, vou ficar muito feliz.
E surpreso.
Tanto assim que convido a senhora, eu pago.
Faço questão.
Desembolso US$ 4.543 ou R$ 9.086,00 para cada ingresso.

Carta" que o jornalista Cosme Rímoli escreveu para esclarecer à presidente Dilma o que está se passando no país da Copa.

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