sábado 29 2013

As revoltas e manifestações que fizeram a história do Brasil

Caras-pintadas (1992)


Em 1992, a população foi às ruas pedir a saída do presidente Fernando Collor, envolvido em denúncias cabeludas de corrupção feitas pelo próprio irmão Pedro a VEJA. Pressionados pelos jovens que pintaram o rosto e se vestiram de preto em resposta ao pedido de apoio de Collor, que implorou que a população fosse à rua de verde e amarelo, o Congresso e o Judiciário puseram-se à caça do alagoano. Em 29 de setembro de 1992, Collor caiu e se tornou o primeiro presidente da história política brasileira a sofrer um processo de impeachment.

Diretas Já (1984)


Em 1984, a campanha das Diretas Já, que exigia a retomada do voto popular para presidente da República, eletrizou a atmosfera política. Depois de vinte anos amordaçados, os cidadãos brasileiros saíram às ruas para pedir a volta da democracia ao país. O regime militar estava com seus dias contados. Entre janeiro e abril de 1984, dezenas de comícios foram organizados nas principais cidades brasileiras. O maior deles teve São Paulo como palco. Cerca de 1,5 milhão de pessoas foram ao Vale do Anhangabaú, no centro da cidade.

Revolução Constitucionalista (1932)


Não é à toa que São Paulo para no dia 9 de julho, feriado no estado. Nessa data, em 1932, os paulistas foram às ruas contra Getúlio Vargas, que havia tomado o poder dois anos antes e fechado o Congresso Nacional, centralizando o poder no Rio de Janeiro e dando fim à política chamada de café-com-leite, em que paulistas e mineiros se revezavam no comando do país. Irritados por se ver diminuídos pela política de Vargas, que pôs, para governar São Paulo, um interventor pernambucano, fazendeiros paulistas, com apoio de estudantes universitários, pegaram em armas para pedir uma nova Constituinte, eleições para presidente e a ampliação da autonomia política dos Estados.

Tenentismo (1922 a 24)


Um dos primeiros movimentos de classe média urbana, unia militares de média e baixa patente insatisfeitos com os mandos e desmandos da Primeira República. Eles pediam voto secreto e o fim do domínio político dos cafeicultores paulistas. Em 1922, apoiaram a candidatura do fluminense Nilo Peçanha contra o mineiro Arthur Bernardes, ligado a São Paulo. Derrotados, fizeram uma série de levantes nos anos seguintes, ente os quais se destacou a revolta dos 18 do Forte de Copacabana, no Rio. Duas novas revoltas aconteceriam os anos seguintes, no Rio Grande do Sul (1923) e em São Paulo (1924). Fracassados, os revoltosos se uniram ao que viria a ser a Coluna Prestes, grupo que sob o comando do Luís Carlos Prestes percorreu milhares de quilômetros do interior do país.

Revolta de Amador Bueno (1641)


Considerada a primeira revolta nativista, opôs os bandeirantes da Capitania de São Vicente à Metrópole, que proibiu a comercialização de escravos indígenas, uma das principais fontes de renda dos bandeirantes paulistas, como forma de forçá-los a adquirir escravos africanos -- e aumentar assim os ganhos do reino português. Para ampliar suas forças, os bandeirantes revoltosos procuraram o apoio do fazendeiro Amador Bueno, que era a favor da escravização indígena. Ofereceram a ele o comando de São Paulo, caso saíssem vencedores, mas Bueno recusou, jurando fidelidade à coroa portuguesa e desmoralizando o movimento.

Revolta da Chibata (1910)


Cansados dos maus tratos a que eram submetidos, marinheiros do Rio de Janeiro se rebelam sob a liderança de João Cândido Felisberto, o "Almirante Negro", e tomam alguns navios de guerra, posicionando seus canhões para a capital federal. De base popular, a revolta era motivada pelos baixos salários recebidos pelos marinheiros, pela péssima alimentação oferecida e, em especial, pelos castigos corporais, empregados com as chibatas que batizam a revolta. O movimento foi sufocado ainda em 1910, mas ganhou uma homenagem, décadas depois, de João Bosco e Aldir Blanc, o sambaO Mestre-Sala dos Mares ("Rubras cascatas / Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas / Inundando o coração do pessoal do porão").

Revolta da Vacina (1904)



Assim como os 20 centavos que deram origem à atual onda de manifestações no país, detonada em São Paulo com a elevação da tarifa de ônibus de 3 para 3,20 reais, a imposição da vacina contra a varíola foi a gota d'água para a população pobre urbana do Rio de Janeiro, que já se sentia acuada pela remodelação das áreas portuária e central da cidade, ocorrida no início do século XX, e vivia em situação precária, sem saneamento básico. Além da ridicularização do sanitarista Oswaldo Cruz, pai da ideia da vacinação compulsória, a revolta acabou em pancadaria pelas ruas da capital federal. O saldo foi de 23 mortos e 67 feridos.

Motim do Vintém (1880)



Nenhuma outra revolta da história brasileira guarda tanta semelhança com a atual como o Motim do Vintém. Em dezembro de 1879, cerca de 5.000 pessoas se reuniram sob a liderança de um militante republicano, o médico e jornalista Lopes Trovão, em frente ao palácio imperial, o Rio, para fazer chegar ao imperador Dom Pedro II uma petição que pedia a revogação de uma taxa de 20 réis, um vintém, nos bondes puxados a burro. O vintém era a moeda menos valiosa da época, mas ainda assim representava um aumento de 20%. A revolta, que teve cenas de violência, com condutores agredidos e mulas esfaqueadas, seguiu até setembro de 1880, quando a tarifa foi enfim suspensa. Serra e Haddad agiram mais rápido.

Balaiada (Maranhão, 1838-1840)


Outra revolta popular, em que as camadas mais baixas da sociedade maranhense se levantaram contra a política opressora e escravistas a que eram submetidos. Em 1838, um grupo de vaqueiros comandado por Raimundo Gomes invadiu uma cadeia para libertar companheiros presos e no ano seguinte se juntou ao fazedor de balaios (cestas) Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, ampliando o movimento. Quando os revoltosos tomaram a Vila de Caxias, a segunda maior da província do Maranhão, as duas facções políticas que se revezavam no poder, os cabanos e os bem-te-vis, se uniram para derrotá-los, subornando rebeldes e desmoralizando o grupo. Com a anistia, em 1840, 2.500 balaios se renderam.

Cabanagem (1834-1835)


Revolta popular em que os cabanos, moradores de cabanas de barro do norte do país, se ergueram contra os governantes do Grão-Pará, província que abrangia o atual Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia. Formada por índios, mestiços e representantes da classe média, a massa de revoltosos chegou a tomar o controle de Belém por duas vezes. Debelado da capital, o movimento seguiu agindo no interior, na forma de guerrilhas, mas não obteve consquistas maiores. O saldo foram milhares de mortes e destruição em Belém.

Confederação do Equador (1824)


Insatisfeitos com a administração de D. Pedro I, que após a Independência, em 1822, centralizou o poder no Rio de Janeiro e seguiu sintonizado com as vontades da coroa portuguesa, a elite financeira e intelectual de Pernambuco, com apoio de camadas populares urbanas, organizou um movimento de perfil liberal, que pleiteava a emancipação da região, a instalação de uma república e o fim da escravidão. Com a liderança de Cipriano Barata (ex-Conjuração Baiana) e Frei Caneca, dos jornais liberais Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco e Tífis Pernambuco, o movimento separatista se expandiu para a Paraíba, o Rio Grande do Norte e o Ceará, até ser sufocado pelas tropas imperiais. As marcas das balas que mataram Frei Caneca, executado em fuzilamento, podem ser vistas até hoje, em Recife.

Revolução Pernambucana (1817)



A chegada da Família Real Portuguesa, em 1808, trouxe boas novas para o Brasil, que ganhou médicos, hospitais e alguns graus de urbanização em diversas áreas, em especial no Rio de Janeiro. Mas resultou também no aumento de impostos, fonte de arrecadação para sustentar os luxos e as regalias da corte portuguesa, que veio para cá acompanhando D. João VI e Carlota Joaquina. Pressionados de um lado pelo baixo preço do açúcar no mercado internacional e do outro pelas taxas impostas pela coroa, senhores de terra de Pernambuco se uniram em um movimento que chegou a estabelecer um governo provisório, em 1817. O plano era decretar a independência do Brasil, que no entanto só viria 5 anos mais tarde, e pelas mãos do filho do rei português, Pedro. Como a Conjuração Baiana, teve influência do pensamento iluminista.

Conjuração Baiana (1798)


Praça da Piedade, local da execução dos conjurados
Também conhecida como Revolta dos Alfaiates pela grande participação de costureiros -- os únicos, aliás, a serem presos e torturados, enquanto líderes abastados como o jornalista Cipriano Barata foram absolvidos pela coroa portuguesa. De caráter emancipatório, o movimento se alimentou do descontentamento dos moradores de Salvador, cuja economia decaiu bastante desde que D. João VI, ao chegar ao Brasil, transferiu a capital da Colônia para o Rio de Janeiro. Além da emancipação política, os revoltodos queriam a implantação da república, liberdade comercial e o fim da escravidão. Esperto, D. João VI infiltrou "anjos da lei" (soldados disfarçados) entre os rebeldes, para derrotá-los.

Conjuração Mineira (1789)


Um dos movimentos mais conhecidos do país, a também chamada de Inconfiência Mineira eclodiu no momento em que a produção de ouro em Minas Gerais começava a diminuir, mas não a pressão feita pela coroa portuguesa para tirar o máximo dos brasileiros. Os proprietários das minas tinham de dar um quinto do que extraíam para a Metrópole que, insatisfeita com a queda na arrecadação, a despeito da redução na produção de ouro, ordenou que fossem cobrados, à força, os impostos atrasados -- iniciativa que levou o nome de "derrama". Descontentes com a coroa portuguesa, os revoltosos planejavam se independer politicamente e instalar uma república em Minas. Literatos e intelectuais, também pretendiam fundar uma universidade. As coisas não terminaram muito bem, porém. Feito de Cristo do episódio, além de enforcado, Tiradentes, um dos líderes do grupo, foi esquartejado e teve seus membros espalhados por Vila Rica, a antiga Ouro Preto.

Quilombo dos Palmares (início em 1644)


Os primeiros quilombos -- espécie de acampamento onde escravos fugitivos se escondiam dos senhores de terra -- datam ainda do século XVI, quando a mão-de-obra indígena foi substituída pela africana no Brasil. Mas o primeiro a ganhar vulto e fama em todo o território, e que é bastante conhecido até hoje, foi o de Palmares, situado no que é hoje o município de União dos Palmares, no estado de Alagoas. O quilombo, de onde saiu o quase mítico Zumbi, existe até hoje, e é prova de, mais que guerra, um movimento de resistência da população africana traficada para o Brasil.

Confederação dos Tamoios (1555-1567)


A primeira das muitas revoltas indígenas ocorridas entre os séculos XVI e XVII voltava-se não contra a ocupação do território brasileiro pelos portugueses, mas contra a tentativa da Metrópole de escravizá-los. Casado com Bartira, filha do cacique Tibiriçá, como meio de se infiltrar na tribo dos Guaianazes e contribuir para a dominação portuguesa, o bandeirante João Ramalho comandou um ataque aos Tupinambás, que queriam fazer de escravos. A morte do chefe da tribo, Caiçuru, levou seu filho, Aimberê, a pilotar uma guerra de vingança, a Confederação dos Tamoios, que contou com apoio de outros grupos indígenas da região entre o litoral norte paulista e o litoral sul fluminense, além do apoio de franceses interessados em tirar dos portugueses o domínio do Brasil. Com a chegada de Estácio de Sá ao Rio de Janeiro, em 1567, os portugueses derrotaram os franceses e os tamoios. Mesmo assim, desistiram da mão-de-obra indígena.

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