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Eu lhes mostro em dois flagrantes qual é a natureza do PSDB e qual é natureza do PT. Vamos lá. Ambos mostram por que um partido exerce o terceiro mandato consecutivo, e o outro continua a ter o seu patrimônio depredado.
A ex-prefeita Marta Suplicy foi votar neste domingo. É ministra de Estado. Isso quer dizer que deva ter alguma — nem precisa muita… — compostura. Levando os conta os resultados das pesquisas divulgadas ontem, deu a seguinte declaração:
“Desta vez, [Serra] se enforcou com a própria corda (…). Ficaram evidentes as armadilhas que fazia, a pessoa que ele é. Foi bom ver que os paulistanos perceberam e deram o troco”.
“Desta vez, [Serra] se enforcou com a própria corda (…). Ficaram evidentes as armadilhas que fazia, a pessoa que ele é. Foi bom ver que os paulistanos perceberam e deram o troco”.
É uma fala estúpida!
Quais armadilhas?
Quais armadilhas?
Ainda se referindo a Serra, afirmou: “Não é fácil disputar com alguém muito experiente e traiçoeiro”. Entenderam? Serra não seria, assim, um adversário, mas alguém “traiçoeiro”. E por que o tucano a teria “traído”? Suponho que seja porque a venceu em 2004. Em 2008, ela foi derrotada por Gilberto Kassab. Traição também?
Marta, sabe-se, só entrou na campanha de Haddad depois de ter recebido da presidente Dilma um ministério de presente. Enquanto esteve fora da campanha, contribuía para desgastar a imagem de Fernando Haddad mais do que qualquer adversário.
Fica evidente em sua fala, e isso encontra eco na imprensa paulistana, o esforço de criminalização do adversário. Marta, a gente nota, acha absurdo e ilegítimo que adversários tenham disputado a prefeitura com ela três vezes e que só tenha vencido uma. Para quem disse que Lula é Deus — e ela voltou ao assunto hoje —, não é estranha a concepção de que o poder é um merecimento que só passa acidentalmente pelas urnas.
Eis aí: uma estrela do partido, mesmo se considerando vitoriosa, aproveita para espezinhar aquele que já dá como derrotado. E isso evidencia a sua superioridade moral.
Agora FHCAgora vamos falar um pouco do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teve a sua biografia política espicaçada ao longo de, atenção!, 16 anos: durante o seu mandato de oito anos, e durante os oito seguintes, no mandato de Lula. Na gestão Dilma, as coisas melhoraram um pouco — o que não quer dizer que ele seja sempre preservado. Agora mesmo, na campanha em São Paulo, os tucanos voltaram a ser acusados de ter privatizado estatais a preço de banana, e o ex-presidente voltou a ser acusado de ter tentando vender a Petrobras e o Banco do Brasil, o que é mentira.
O que disse FHC neste domingo? Na prática, vênia máxima, aderiu, ainda que de modo oblíquo, à metafísica petista. Fazendo eco ao discurso da “renovação” — como se isso se resumisse a pessoas, não a ideias — afirmou que o PSDB “precisa voltar a ter uma atitude muito mais próxima do que o povo está sentindo (…) Tem de estar alinhado com o futuro.” Não sei o que isso quer dizer, mas concordo. Com isso, com a Lei da Gravidade e com a Terceira Lei de Newton. Foi ainda mais explícito: disse que “o partido vai precisar de renovação”. E mais: “A gente tem que empurrar os novos para ir para a frente”,
Se Marta chama Serra de “traiçoeiro” e usa metáforas de paz como “corda” e “pescoço”, o ex-presidente age de outro modo. Considera, destaca a Folha, “Haddad uma pessoa séria”. Falou também sobre o mensalão e coisa e tal, mas é evidente que isso não iria parar no lead de reportagem nenhuma.
Caminhando para a conclusãoAinda voltarei a esse tema, claro! Os sinais que estão aí remetem a coisas mais relevantes do que dão entender à primeira vista. Ah, sim: o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, também se pronunciou sobre a eleição anunciando um troço estranho: “a maior derrota municipal da história do PSDB” — seja lá o que isso signifique. Supõe-se que esta mesma derrota já tenha sido do PT, quando, em 2004, perdeu para o PSDB… Com raciocínios assim tão singelos, conduz a educação do país.
Os petistas já não escondem: deram a largada para o que consideram a tomada do “Palácio de Inverno”: o governo de São Paulo. Vão insistir nos próximos dois anos no discurso da “renovação”, como se Geraldo Alckmin estivesse a cometer um crime em disputar a reeleição em 2014. É a turma comandada por Lula, que, amante no novo, disputou a Presidência da República CINCO vezes! E só não disputou uma sexta porque o Senado recusaria a emenda da (re)reeleição.
O caminho para tentar chegar aos Bandeirantes já está dado, e as tropas já estão prontas. Há muitos aliados objetivos na jornada (ver o conceito de “aliado objetivo”): de setores importantes da imprensa ao PCC.
Mas não só: também o PSDB costuma ser um entusiasmado aliado objetivo do PT. O mais impressionante é que, quanto mais o remédio se mostra errado, mais convictos se mostram os tucanos de sua eficácia.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
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