terça-feira 29 2012

CPI do Cachoeira quebra sigilo da Delta nacional


Congresso

Apenas o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi contra o requerimento. Convocação de governadores não chegou a ser apreciada

Gabriel Castro e Carolina Freitas
O presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) (e), conversa com o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) no depoimento do ex-vereador Wladimir Garcez (PSDB) na CPI do Cachoeira
O presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) (e), conversa com o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) no depoimento do ex-vereador Wladimir Garcez (PSDB) na CPI do Cachoeira (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Os parlamentares integrantes da CPI do Cachoeira votaram na tarde desta terça-feira a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico da construtora Delta, em âmbito nacional. O requerimento foi aprovado por larga vantagem. Apenas o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) votou contra o pedido. Com isso, a CPI dá um passo importante para esclarecer o grau de envolvimento da Delta com o esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira.
Até agora, as investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito estavam restritas à diretoria da construtora no Centro-Oeste. A quebra do sigilo da Delta nacional pode ter reflexos sobre o governo federal e o governo do Rio de Janeiro, comandado pelo peemedebista Sérgio Cabral. A empresa executa boa parte das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), bandeira da presidente Dilma Rousseff.
"Abrir o sigilo da Delta é colocar o dedo na ferida", afirmou o deputado Rubens Bueno (PPS-PR). "Com essas informações poderemos explicar por que tanto dinheiro saiu da Delta e foi para empresas laranja e, daí, para outras contas." O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AM) também comemorou a decisão: "Antes tarde do que nunca. A CPI não é só de Carlos Cachoeira, mas da empresa Delta." 
Único a se opor à abertura das contas da Delta, Vaccarezza tentou se justificar após a sessão, dizendo que a quebra de sigilo da empresa deveria ser restrita a relação dela com o grupo do contraventor. "Essa CPI não tem a chancela para fazer uma devassa no país inteiro. As obras da Delta pelo Brasil não fazem parte do foco da CPI", disse o petista, que se apressou a esclarecer. "Eu não tenho nenhum interesse com a Delta, não conheço Fernando Cavendish, nunca recebi um tostão dessa empresa."
Governadores - A convocação de governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ), citados nas investigações da quadrilha de Cachoeira foi, mais uma vez, adiada. A comissão nem mesmo chegou a analisar a questão. O deputado Gladson Cameli (PP-AC) apresentou uma questão de ordem alegando que a CPI não tem poder legal de questionar governadores. O presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), pediu que a área técnica analisasse a procedência da tese de Cameli. Antes que houvesse uma resposta, a sessão teve de ser encerrada: como o Senado havia iniciado a ordem do dia, a CPI já não podia votar qualquer requerimento.
Marconi Perillo surpreendeu os parlamentares a apareceu no meio da sessão. Ele entregou uma carta de três páginas ao presidente da CPI em que se coloca à disposição para prestar esclarecimentos à comissão. "Um dos governadores já compareceu, Marconi Perillo. Onde estão Agnelo Queiroz e Sérgio Cabral?", questionou Rubens Bueno.
Randolfe lamentou que a convocação dos governadores não tenha sido votada. "O governador Perillo cumpriu o seu dever, mas não adianta ele vir aqui se colocar a disposição se, no meio da CPI, alguém apresenta uma questão de ordem para blindar os governadores", disse o senador. "Os parlamentares não tiveram coragem de convocar os governadores."
O relator da CPI, Odair Cunha (PT), esforçou-se para sair pela tangente e disse que é preciso mais trabalho de investigação antes de trazer os governadores para depor.  "Eu defendo a convocação dos governadores, mas agora não é o momento", disse o deputado. "Não é momento de pessoas importantes como governadores virem à CPI. Estamos criando um conjunto de provas necessárias para a oitiva de governadores mais para frente." Ainda assim, o relator disse não ver qualquer impedimento jurídico para que os chefes de executivo estadual falarem à comissão.
Requerimentos - Ainda na sessão desta terça-feira, a CPI aprovou um requerimento que pede o compartilhamento das informações da operação Saint Michel, que foi deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal e prendeu comparsas de Carlinhos Cachoeira. Foi aprovada ainda a quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico dos ex-diretores da Delta Cláudio Abreu e Heraldo Puccini. 
Mais cedo, os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito haviam elegido o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) para a vice-presidência do colegiado. A CPI volta a se reunir nesta quarta-feira às 10h15. Os requerimentos de convocação dos governadores continuam na pauta. Depois da sessão administrativa, a comissão ouvirá cinco comparsas de Carlinhos Cachoeira.

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