Investigação
Paulo Roberto Costa afirma que empreiteira fazia pagamentos em nome da 'bola relação' com ele. Youssef diz que empresa pagou propina de R$ 10 mi
Carolina Farina
O delator Paulo Roberto Costa: 'um tolo', segundo executivo da Odebrecht (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Em depoimentos prestados à Justiça, os dois principais delatores do petrolão detalham a participação da Odebrecht no megaesquema de corrupção instaurado na Petrobras. A gigante da construção é uma das únicas grandes empreiteiras do país que não teve diretores presos na Lava Jato, mas um dos braços da companhia, a Odebrecht Plantas Industriais, é alvo de inquérito policial na operação. Em declarações no âmbito do acordo de delação premiada que fecharam com a Justiça, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que recebeu 31,5 milhões de dólares da Odebrecht em contas no exterior. Já o doleiro Alberto Youssef afirma que a construtora pagou 10 milhões de reais em propina ao ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010.
Segundo Paulo Roberto Costa, o dinheiro depositado no exterior não era relativo à comissão dos operadores do esquema sobre os valores pagos a partidos políticos. Tratava-se, na verdade, de um “extra" por serviços prestados. A construtora queria, segundo o delator, manter a boa relação com o ex-diretor da Petrobras. As declarações foram dadas em setembro do ano passado, mas o depoimento só foi tornado público nesta quinta-feira pela Justiça Federal. Segundo ele, o dinheiro que a empreiteira depositava vinha de contas da empresa no exterior. A sugestão da abertura de contas em paraísos fiscais foi de Rogério Araújo, diretor da Odebrecht Plantas Industriais. Costa conta que o executivo o apresentou a Bernardo Freiburghaus, que intermediou a abertura das contas secretas.
Araújo, contou o delator, chegou a procurá-lo para dizer que Paulo Roberto era “um tolo, porque ajudava mais os políticos do que a si mesmo”. “A hora que você precisar de algum deles, eles vão te virar as costas”, teria dito o executivo a Costa, segundo relato do delator. Apenas na conta de uma empresa aberta no exterior, a Quinus Servises S.A, Costa declara ter recebido 9,6 milhões de dólares. A propina para o ex-diretor era depositada em bancos na Suíça, Alemanha e Canadá. Ele afirmou que os pagamentos foram feitos de 2008 ou 2009 até 2013. E que acredita, embora não tenha certeza, que possa ter havido repasses também em 2014. Segundo ele, os depósitos continuaram a ser feitos mesmo depois que Costa deixou a Petrobras.
Youssef – O doleiro Alberto Youssef também implicou gigante Odebrecht no megaesquema de corrupção instaurado na Petrobras. A construtora foi citada em depoimento prestado em 20 de novembro do ano passado, quando o delator do petrolão tratou sobre desvios em obras da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), localizada no município de Araucária, no Paraná. Segundo documentos tornados públicos nesta quinta-feira pela Justiça Federal do Paraná, Youssef afirma que a Odebrecht pagou 10 milhões de reais em propina.
Aos investigadores, Youssef afirmou que foi procurado entre 2005 e 2006 pelo então deputado José Janene (PP), morto em 2010. Janene buscava dinheiro de propina paga pela UTC relativa a uma obra da Repar que era executada por um consórcio formado pela construtora e a Odebrecht. Segundo ele, a obra estava orçada em 2 bilhões de reais – e a “comissão” acertada com a construtora foi de 10 milhões de reais. O dinheiro, segundo ele, foi parcelado em 10 vezes. Youssef declarou que algumas vezes retirava o dinheiro na sede da UTC em São Paulo e, em outras, a propina era entregue em seu escritório por um funcionário da empresa.
Youssef afirmou aos investigadores que não participou dessa negociação, fechada por Ricardo Pessoa, dono da UTC e apontado como chefe do clube do bilhão, pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e por José Janene. Cabia ao doleiro apenas recolher o dinheiro e repassar os porcentuais de Costa, do PP, e de João Cláudio Genu, ex-assessor do partido. A ele cabia 5% de comissão.
O doleiro afirmou, então, que o acerto envolveu também a Odebrecht, que pagou a outra “metade” da propina: 10 milhões de reais. Ele disse que o dinheiro foi pago em dólares, e depositado em uma conta de Janene em um paraíso fiscal, aberta em nome de Rafael Ângulo Lopes. Segundo Youssef, a conta era movimentada pelo parlamentar e o dinheiro voltou para o Brasil por meio da ação de doleiros.
Odebrecht – Em nota, a empreiteira negou ligação com os delatores. "A Odebrecht nega as alegações caluniosas feitas pelo ex-diretor da Petrobras e por doleiro igualmente réu confesso em investigação em curso na Justiça Federal do Estado do Paraná. A Odebrecht nega em especial ter feito qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer político, executivo ou ex-executivo da estatal."
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