sexta-feira 13 2015

Delatores detalham participação da Odebrecht no petrolão

Investigação

Paulo Roberto Costa afirma que empreiteira fazia pagamentos em nome da 'bola relação' com ele. Youssef diz que empresa pagou propina de R$ 10 mi

Carolina Farina
O delator Paulo Roberto Costa: 'um tolo', segundo executivo da Odebrecht
O delator Paulo Roberto Costa: 'um tolo', segundo executivo da Odebrecht (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Em depoimentos prestados à Justiça, os dois principais delatores do petrolão detalham a participação da Odebrecht no megaesquema de corrupção instaurado na Petrobras. A gigante da construção  é uma das únicas grandes empreiteiras do país que não teve diretores presos na Lava Jato, mas um dos braços da companhia, a Odebrecht Plantas Industriais, é alvo de inquérito policial na operação. Em declarações no âmbito do acordo de delação premiada que fecharam com a Justiça,  o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que recebeu 31,5 milhões de dólares da Odebrecht em contas no exterior. Já o doleiro Alberto Youssef afirma que a construtora pagou 10 milhões de reais em propina ao ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010.
Segundo Paulo Roberto Costa, o dinheiro depositado no exterior não era relativo à comissão dos operadores do esquema sobre os valores pagos a partidos políticos. Tratava-se, na verdade, de um “extra" por serviços prestados. A construtora queria, segundo o delator, manter a boa relação com o ex-diretor da Petrobras. As declarações foram dadas em setembro do ano passado, mas o depoimento só foi tornado público nesta quinta-feira pela Justiça Federal. Segundo ele, o dinheiro que a empreiteira depositava vinha de contas da empresa no exterior. A sugestão da abertura de contas em paraísos fiscais foi de Rogério Araújo, diretor da Odebrecht Plantas Industriais. Costa conta que o executivo o apresentou a Bernardo Freiburghaus, que intermediou a abertura das contas secretas.
Araújo, contou o delator, chegou a procurá-lo para dizer que Paulo Roberto era “um tolo, porque ajudava mais os políticos do que a si mesmo”. “A hora que você precisar de algum deles, eles vão te virar as costas”, teria dito o executivo a Costa, segundo relato do delator. Apenas na conta de uma empresa aberta no exterior, a Quinus Servises S.A, Costa declara ter recebido 9,6 milhões de dólares. A propina para o ex-diretor era depositada em bancos na Suíça, Alemanha e Canadá. Ele afirmou que os pagamentos foram feitos de 2008 ou 2009 até 2013. E que acredita, embora não tenha certeza, que possa ter havido repasses também em 2014. Segundo ele, os depósitos continuaram a ser feitos mesmo depois que Costa deixou a Petrobras.
Youssef – O doleiro Alberto Youssef também implicou gigante Odebrecht no megaesquema de corrupção instaurado na Petrobras. A construtora foi citada em depoimento prestado em 20 de novembro do ano passado, quando o delator do petrolão tratou sobre desvios em obras da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), localizada no município de Araucária, no Paraná. Segundo documentos tornados públicos nesta quinta-feira pela Justiça Federal do Paraná, Youssef afirma que a Odebrecht pagou 10 milhões de reais em propina.
Aos investigadores, Youssef afirmou que foi procurado entre 2005 e 2006 pelo então deputado José Janene (PP), morto em 2010. Janene buscava dinheiro de propina paga pela UTC relativa a uma obra da Repar que era executada por um consórcio formado pela construtora e a Odebrecht. Segundo ele, a obra estava orçada em 2 bilhões de reais – e a “comissão” acertada com a construtora foi de 10 milhões de reais. O dinheiro, segundo ele, foi parcelado em 10 vezes. Youssef declarou que algumas vezes retirava o dinheiro na sede da UTC em São Paulo e, em outras, a propina era entregue em seu escritório por um funcionário da empresa.
Youssef afirmou aos investigadores que não participou dessa negociação, fechada por Ricardo Pessoa, dono da UTC e apontado como chefe do clube do bilhão, pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e por José Janene. Cabia ao doleiro apenas recolher o dinheiro e repassar os porcentuais de Costa, do PP, e de João Cláudio Genu, ex-assessor do partido. A ele cabia 5% de comissão.
O doleiro afirmou, então, que o acerto envolveu também a Odebrecht, que pagou a outra “metade” da propina: 10 milhões de reais. Ele disse que o dinheiro foi pago em dólares, e depositado em uma conta de Janene em um paraíso fiscal, aberta em nome de Rafael Ângulo Lopes. Segundo Youssef, a conta era movimentada pelo parlamentar e o dinheiro voltou para o Brasil por meio da ação de doleiros.
Odebrecht – Em nota, a empreiteira negou ligação com os delatores. "A Odebrecht nega as alegações caluniosas feitas pelo ex-diretor da Petrobras e por doleiro igualmente réu confesso em investigação em curso na Justiça Federal do Estado do Paraná. A Odebrecht nega em especial ter feito qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer político, executivo ou ex-executivo da estatal."

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