“Eu estou com medo”, assim começa o depoimento de Regina Duarte exibido pelo programa eleitoral de José Serra na campanha presidencial de 2002. No vídeo de 1 minuto, a grande atriz explica que, por conhecer o candidato que apoia, sabe o que fará se for eleito. Lula não lhe inspira a mesma confiança. Julgava conhecê-lo até ficar intrigada com súbitas mudanças de rumo e discurso. Por já não saber exatamente quem é o candidato do PT, teme, por exemplo, a volta da inflação que galopou à solta anos a fio até ser domada em 1994 pelo Plano Real.
O medo de Regina Duarte foi imediatamente justificado pela reação dos devotos de Lula. Favorecidos pela omissão covarde dos artistas, patrulheiros coléricos e intelectuais intolerantes reduziram a opção feita democraticamente por uma eleitora brasileira a uma manifestação “preconceituosa”, “direitista” ou “elitista”. Nos anos seguintes, o medo inspirado por Lula foi justificado pelo troca do modelo antigo pela metamorfose ambulante.
Neste outono, confrontado com sinais de que a inflação pode escapar ao controle da equipe econômica, o governo que Lula elegeu coleciona demonstrações de perplexidade, inépcia e despreparo ─ em proporções amedrontadoras. Milhões de brasileiros temem o que Dilma Rousseff e seus ministros podem fazer, ou deixar de fazer. Revejam o depoimento de Regina Duarte. O que sempre pareceu apenas uma declaração de voto está ficando com cara de profecia.
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