Eleições 2014
Presidente-candidata usou politicamente o mundial de futebol nas últimas semanas e anunciou que entregará a Taça ao campeão. Com vexame histórico, Palácio do Planalto e PT calculam o prejuízo
MEME – Na véspera da eliminação, Dilma reproduz gesto de Neymar em homenagem ao atacante. Minutos depois do vexame, imagem virou piada nas redes sociais (Reprodução / Twitter)
Um dia depois da humilhante eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo no Brasil — uma eliminação como nunca antes na história deste país —, a presidente-candidata Dilma Rousseff afirmou que não imaginava uma derrota tão acachapante "nem em seu pior pesadelo". A afirmação foi feita em entrevista à correspondente da rede CNN Christiane Amanpour, na manhã desta quarta, no Palácio do Planalto. Segundo escreveu a jornalista em sua conta no Twitter, a presidente completou seu raciocínio afirmando que "O Brasil vai ser capaz de superar essa situação extremamente dolorosa".
O que não veio à tona é a questão que deve estar rondando a cabeça da candidata: se a derrota do Brasil vai se transformar em situação dolorosa também para a sua campanha. Desde antes do início da competição, o governo tenta aproximar o torcedor que hoje vai aos estádios do eleitor que em outubro vai às urnas – mas a operação tem se provado das mais complicadas. Foram várias as idas e vindas. Na abertura do mundial de futebol, Dilma ouviu vaias e xingamentos em coro no estádio Itaquerão, em São Paulo. Com o torneio transcorrendo sem sobressaltos fora de campo – como protestos violentos nas ruas ou caos nos aeroportos –, aliado ao oba-oba com as vitórias da seleção, pesquisas mostraram que o vento poderia estar a favor da presidente-candidata: segundo o Datafolha, para 76% dos entrevistados, quem vaiou ou xingou Dilma no Itaquerão agiu mal. Com base nessa avaliação, a equipe de Dilma, que tenta tatear como lidar com o torcedor – e futuro eleitor – desde o começo da Copa, confirmou na última segunda-feira que Dilma entregará a Taça à seleção campeã, domingo, no estádio do Maracanã.
Nas últimas semanas, Dilma aproveitou cada discurso para bradar que a "Copa das Copas" calaria os "pessimistas", numa ofensiva contra os futuros adversários do PT nas urnas. Na segunda-feira, ela chegou a simular o "É tóis" do atacante Neymar, em bate-papo nas redes sociais, para tentar pegar carona na comoção nacional pela ausência do ídolo. Minutos após o fiasco em campo, a foto virou meme e a imagem foi usada para fazer piada. É fato que nem o mais pessimista dos brasileiros poderia prever um desastre como o ocorrido no estádio do Mineirão. Porém, para Dilma e o PT, que tentaram faturar politicamente – e eleitoralmente – tudo o que foi possível com o Mundial de futebol até a véspera da derrota, como lidar com o vexame da eliminação da sua "Copa das Copas" tornou-se uma grande dor de cabeça.
Para tentar blindar Dilma, o staff da petista também decidiu adiar para o dia 19 os eventos de campanha – liberados desde o último dia 5. Na próxima semana, ela só terá agenda como presidente, a principal delas a reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Fortaleza e Brasília. A equipe de comunicação do governo também agendou uma série de entrevistas de Dilma a correspondentes estrangeiros que estão no Brasil, como a feita nesta manhã à CNN, para tentar emplacar o discurso que a Copa foi um sucesso fora dos gramados. Com a campanha em curso, as próximas pesquisas mostrarão se, passada a euforia da Copa, será essa a avaliação dos eleitores.
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