De: Direto ao Ponto com Augusto Nunes
Em 3 de junho de 2009, já acumulando as atribuições de chefe da Casa Civil com os deveres de candidata de Lula à presidência da República, Dilma Rousseff jurou que o governo não gastaria um só tostão na reforma ou na construção de estádios. Os investimentos públicos seriam reservados a “obras de mobilidade urbana” que transformariam em miniaturas tropicais da Noruega as 12 cidades incluídas no roteiro da Copa do Mundo.
O desfile de tapeações foi encerrado com a louvação do deslumbramento sobre trilhos que desde 2007 só apita na imaginação de Dilma. “Nosso projeto é que o trem-bala esteja integralmente pronto em 2014 ou pelo menos o trecho entre Rio e São Paulo”, reincidiu a babá do Brasil Maravilha que Lula pariu. “Pretendemos ter os trens em funcionamento para a Copa, até porque esta é uma região muito importante em termos de movimentação na Copa”.
Passados quatro anos e meio, os estádios não param de sangrar cofres públicos, o trem-bala segue enfurnado na cabeça dos farsantes e os milagres de mobilidade urbana não desceram do palanque. Os metrôs subterrâneos, de superfície ou elevados, os trens metropolitanos com ar condicionado, o mundaréu de aeroportos, as rodovias de matar gringo de inveja ─ nada disso se tornou visível. A única obra de grande porte inaugurada pela presidente de um país cuja infraestrutura implora por socorros urgentes fica em Cuba.
Construído pela Odebrecht e financiado pelo BNDES, o porto de Mariel (cuja capacidade supera em 30% a de Suape) já engoliu 682 milhões de dólares subtraídos dos brasileiros que pagam impostos. Como Dilma desembarcou na ilha-presídio dos Irmãos Castro decidida a gastar por lá o dinheiro que falta aqui, os canteiros de obras no Caribe acabam de ser irrigados por mais 290 milhões de dólares. Vai chegando a 1 bilhão de dólares, portanto, a contribuição à modernização logística de Cuba que começou em 2008 (com a celebração do acordo inaugural entre o governo Lula e a ditadura castrista) e não tem prazo para terminar.
Foi doação ou empréstimo?, faz questão de saber o Brasil decente. Na primeira hipótese, como explicar tamanha generosidade com a velharia comunista devastada pela indigência econômica? Quem garante que a dívida não será perdoada pelo pobretão metido a novo-rico? Na segunda hipótese, em que condições foi concedido o empréstimo? Como e quando será quitado? Qual é a taxa de juros? Que precauções adotou o Brasil para zerar o risco do calote e prevenir atrasos no pagamento? Quais são as vantagens e contrapartidas capazes de justificar a gastança de dimensões escandalosas?
Se depender da seita que reza no altar de Fidel Castro e se ajoelha diante do mano Raúl, essas e outras zonas de sombras só serão dissipadas daqui a 13 anos. Isso porque em junho de 2012, um mês depois da entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, o companheiro Fernando Pimentel, um velho amigo de Dilma disfarçado de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, decretou que só em 2027 deixarão de ser secretos os contratos que envolvem o porto de Mariel.
O BNDES premiou numerosos países com financiamentos de bom tamanho. Mas apenas o papelório que detalha os negócios fechados com Cuba e Angola, controlada desde 1979 pelo ditador companheiro José Eduardo dos Santos, foi enterrado na tumba dos segredos de Estado. Os adjutórios repassados ao parceiro africano, oficialmente destinados a estimular a “importação de bens e serviços de empresas brasileiras”, já alcançam 5 bilhões de dólares.
O dinheiro desviado para as duas tiranias de estimação se aproxima dos 7 bilhões de dólares necessários para eliminar até 2024 as carências que acossam o porto de Santos, o maior da América Latina, responsável por 1/4 da balança comercial brasileira. A profundidade, por exemplo, precisa passar de 13 para 17 metros (Mariel já nasceu com 18 metros). Os 12 quilômetros de cais são cada vez mais acanhados para um movimento anual que em 2013 atingiu 114 milhões de toneladas. Enquanto filas monstruosas congestionam as imediações do porto de Santos, Mariel já conta com 12 quilômetros de ferrovias e 70 quilômetros de estradas pavimentadas com pista dupla.
A PEC 37, que pretendia reduzir os poderes investigativos do Ministério Público, foi prontamente arquivada pelo Congresso tão logo entrou na mira dos atos de protesto promovidos em junho passado. Vem aí uma segunda onda de protestos contra a gastança e a corrupção escancaradas pela Copa da Roubalheira. Para mostrar que os brasileiros não são um bando de idiotas, é preciso incorporar às palavras de ordem a quebra do sigilo dos contratos com Cuba e Angola.
Duas ou três manifestações de rua serão suficientes que se revogue, em regime de urgência urgentíssima, o segredo mais que suspeito. E então saberemos o que foi tramado pela turma que morre de saudade do Muro de Berlim.
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