quarta-feira 05 2014

Cientistas criam chip que restaura a memória

Neurociência

Dispositivo foi testado em ratos e macacos, e os pesquisadores esperam que os testes em humanos tenham início nos próximos dois anos

cérebro
Memória reativada: microchip seria capaz de devolver ao cérebro a capacidade de registrar memórias de longo prazo, simulando os impulsos nervosos emitidos por neurônios saudáveis em regiões afetadas por algumas doenças cerebrais(Thinkstock)
Um grupo de neurocientistas de diversas universidades americanas estima que, em até dez anos, será possível reverter problemas de memória com o implante de um microchip no cérebro. Até agora, a estratégia já foi testada com ratos e macacos, e seus resultados levaram a revista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, a MIT Technology Review, a incluir a pesquisa entre os dez principais avanços tecnológicos de 2013.
Os autores analisaram o processo a partir do qual as memórias de longo prazo (aquelas das quais nos lembramos por dias ou anos) são criadas e armazenadas no cérebro, a fim de simulá-lo nos casos em que o cérebro sofreu algum dano. Eles têm como foco o hipocampo, região do cérebro na qual a memória de curto prazo, aquela que dura alguns segundos ou minutos, é transformada em memória de longo prazo.
Ted Berger, professor de engenharia biomédica da Universidade do Sul da Califórnia e integrante da equipe de pesquisadores, analisou como os sinais elétricos se propagam através dos neurônios dessa região e utilizou seu conhecimento na área da matemática para criar um modelo que imita essa movimentação.
De acordo com Berger, o processo não consiste em colocar as memórias de uma pessoa em seu cérebro, mas sim devolver a ele a capacidade de gerar memórias, estimulando uma área danificada a replicar a função das células sadias. Ainda não foram realizados testes com seres humanos, mas experimentos com animais mostraram que os eletrodos podem processar a informação da mesma forma que um neurônio.
Experimentos – Em testes com ratos, os pesquisadores treinaram os animais para puxar uma de duas alavancas para receber uma recompensa e gravaram as séries de pulsos elétricos no hipocampo quando faziam a escolha correta. Eles observaram como esses sinais se transformavam à medida que a lição aprendida se transformava em uma memória de longo prazo e então extraíram um código que representasse essa lembrança. Em um segundo momento, os cientistas deram aos ratos drogas que prejudicavam sua memória, fazendo com que eles esquecessem qual era a alavanca que oferecia a recompensa. Então, utilizaram o microchip para reproduzir os pulsos elétricos gravados no cérebro dos animais. Resultado: os ratos relembraram qual era a alavanca correta.
No ano passado, foram realizados experimentos similares com macacos, envolvendo o córtex pré-frontal, parte do cérebro que recupera as memórias criadas pelo hipocampo. Os pesquisadores posicionaram os eletrodos no cérebro dos animais para decodificar os sinais correspondentes à lembrança de uma imagem. Na etapa seguinte do experimento, deram cocaína aos macacos, droga que atua negativamente sobre córtex pré-frontal, comprometendo a memória dos animais. Depois, utilizando os eletrodos para enviar o código correto ao cérebro dos macacos, os pesquisadores melhoraram significativamente seu desempenho em uma tarefa de identificação das imagens.
Um dos principais objetivos no campo do estudo da memória é o tratamento do Alzheimer. Porém, diferentemente dos derrames e outras doenças cerebrais, o Alzheimer tende a afetar diversas partes do cérebro, especialmente quando já se encontra em estágio avançado. Por essa razão, os pesquisadores acreditam que  essa técnica de implantes cerebrais não será uma opção viável para o tratamento da doença, pelo menos a curto prazo.

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