Rússia
Pavilhão foi erguido perto do Kremlin para sediar desfile em prol de entidades carentes. Políticos, no entanto, alegam que local é “sagrado” para o comunismo
Pavilhão no formato de uma bolsa da Louis Vuitton foi construído na Praça Vermelha, em Moscou (Tatyana Makeyeva/Reuters)
O comunismo se esvaiu na Rússia junto com o fim da União Soviética, mas as raízes do movimento político instaurado por Vladimir Lenin voltam a se manifestar esporadicamente no país. Além do horror à propriedade privada e às liberdades individuais, o culto pelas múmias de seus líderes também se mostra presente entre políticos e parte da população. É este sentimento que floresceu entre os russos após a construção de um pavilhão que imita as bolsas de luxo da empresa francesa Louis Vuitton no meio da Praça Vermelha, em Moscou. A construção foi erguida para sediar um desfile em prol de entidades carentes, mas provocou protestos por contrastar com a importância simbólica do local, que abriga o Kremlin e o mausoléu onde o corpo de Lenin encontra-se embalsamado.
A contradição nas manifestações é evidente. Além de uma pista de patinação no gelo que foi construída no local, a Praça Vermelha também é vizinha de outros grandes estabelecimentos comerciais. “Este é um local sagrado? Existe um enorme shopping aqui do lado”, indagou Aleksandr Dubov, um turista do interior da Rússia, ao jornal The New York Times. Os políticos mais radicais, no entanto, alegam que o pavilhão de trinta metros de altura e 100 de largura foi construído ilegalmente. “Existem símbolos que não são permitidos por denegrir os valores”, disse Aleksandr Sidyakin, um membro da administração do presidente Vladimir Putin.
Embora exista uma lei que bane qualquer evento ou construção que “viole a aparência histórica” do local, a Praça Vermelha foi palco de concertos internacionais, incluindo a gravação de um DVD do ex-Beatles Paul McCartney, que contou com a presença de Putin, e uma exibição da empresa Dior que ocorreu em um imenso pavilhão metálico. “Tudo que está acontecendo aqui é inaceitável. Este é um lugar sagrado e nossos líderes estão enterrados aqui”, disse Tatyana Fedosova, uma moradora de Moscou de 60 anos.
A loja de departamentos GUM, responsável pela construção, emitiu um comunicado dizendo que pediu a Louis Vuitton para cancelar o desfile, por conta “do posicionamento de parte da população”. A empresa francesa não fez nenhum pronunciamento oficial sobre o cancelamento da exibição, mas a modelo Natalia Vodianova, chefe da fundação de caridade que receberia os ingressos para o desfile, disse que tem esperanças de transferir o evento para outra localidade. “Vamos torcer para que o desfile não seja cancelado, e sim transferido para outro lugar”, postou em uma rede social.
Controvérsia – Esta não é a primeira vez que a empresa Louis Vuitton desperta a ira dos russos. Em 2007, um anúncio de uma revista mostrou o ex-líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, andando de carro em frente ao Muro de Berlim com uma bolsa da marca francesa repleta de revistas russas com conteúdo liberal. O episódio provocou um intenso debate no país por apresentar uma menção ao assassinato de Alexander Litvinenko, um ex-espião da KGB envenenado em 2006.
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