quarta-feira 27 2013

Cientistas brasileiros descobrem nova espécie de gato selvagem

Biodiversidade

O "Leopardus guttulus" vive no Sul e Sudeste do Brasil e tem o tamanho de um gato doméstico pequeno

Juliana Santos
Leopardus guttulus, nova espécie descoberta pelos pesquisadores
Leopardus guttulus, nova espécie descoberta pelos pesquisadores - Projeto Gatos do Mato – Brasil
Leopardus tigrinus, espécie de gato-do-mato que ficou com o nome antigo, apesar de ser a menos conhecida
Leopardus tigrinus, espécie de gato-do-mato que ficou com o nome antigo, apesar de ser a menos conhecida - Projeto Gatos do Mato – Brasil
Gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi)
Gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi) - Reprodução Wikipedia
Gato-palheiro (Leopardus colocolo)
Gato-palheiro (Leopardus colocolo) - Projeto Gatos do Mato – Brasil
Uma equipe de pesquisadores brasileiros descobriu uma nova espécie de felino, que vive no Sul e Sudeste do país. O Leopardus guttulus, um tipo de gato-do-mato, tem o tamanho de um gato doméstico pequeno, pelagem com manchas semelhantes às de uma onça-pintada e 2 a 3 quilos de peso. Em um estudo publicado nesta quarta-feira no periódico Current Biology, os cientistas relatam também dois casos de cruzamento entre espécies diferentes (conhecido como hibridação) de felinos brasileiros.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Molecular data reveal complex hybridization and a cryptic species of Neotropical wild cat

Onde foi divulgada: periódico Current Biology

Quem fez: Tatiane C. Trigo, Alexsandra Schneider, Tadeu G. de Oliveira, Livia M. Lehugeur, Leandro Silveira, Thales R.O. Freitas e Eduardo Eizirik

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade Estadual do Maranhão e outras

Resultado: Os pesquisadores descobriram uma nova espécie de felino, o Leopardus guttulus, e dois casos de cruzamento entre espécies diferentes (conhecido como hibridação) entre os felinos de pequeno porte do Brasil
Eduardo Eizirik, pesquisador do Laboratório de Biologia Genômica e Molecular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), e sua equipe da área de genética evolutiva de felinos estudam animais de pequeno porte da América do Sul, desde os anos 1990. Um dos objetos de pesquisa era o gato-do-mato (Leopardus tigrinus), relativamente comum do Sul ao Nordeste do Brasil.
Estudos anteriores concentravam-se nos animais que viviam na região de Mata Atlântica. A equipe de Eizirik foi a primeira a colher e analisar a amostra genética doLeopardus tigrinus do Nordeste. Ao comparar o material genético de gatos-do-mato das duas regiões, os pesquisadores descobriram que, na verdade, eram duas espécies distintas.

Saiba mais

DNA MITOCONDRIAL
O DNA mitocondrial não se encontra no núcleo da célula, mas dentro das mitocôndrias (estruturas responsáveis por fornecer energia, a partir da quebra de nutrientes, para as células). Ele é ideal para o estudo de arqueologia molecular, especialmente por ser naturalmente amplificado, ou seja, apresentar centenas ou milhares de cópias em uma única célula.
Em virtude de regras taxonômicas, o nome já utilizado, L. tigrinus, ficou com os animais do Nordeste, enquanto os do Sul receberam o nome científico L. guttulus. A nova espécie é, portanto, aquela mais conhecida pelos pesquisadores, enquanto pouco se sabe sobre os gatos-do-mato do Nordeste.
A descoberta de um novo felino é um fenômeno raro. A última vez descrição ocorreu em 2006, quando o leopardo-nebuloso encontrado nas ilhas de Bornéu (Indonésia, Malásia e Brunei) e Sumatra (Indonésia) foi identificado como uma espécie. "Ao longo do século XX, praticamente nenhuma das espécies atualmente reconhecidas de felinos foi descrita", explicou Eizirik, em entrevista ao site de VEJA.
Aparências enganam – Pela aparência, é quase impossível distinguir o L. guttulus e o L. tigrinus. "Por observação, notamos que o L. tigrinus tem pelagem um pouco mais clara e manchas menores. A cauda parece ser mais peluda no Sul e mais comprida no Nordeste. Mas essa análise não é estatística", disse Eizirik. Apesar da semelhança física com os gatos domésticos, os gatos-do-mato não são animais dóceis. "Eles não são agressivos a ponto de atacar uma pessoa, até porque nós somos muito grandes para eles, mas são selvagens", explica.
Cruzamento entre espécies – O estudo traz também uma importante descoberta comportamental sobre a nova espécie: casos de cruzamento com o Leopardus geoffroyi,conhecido como gato-do-mato grande. As duas espécies se encontram na região central do Rio Grande do Sul e praticam o fenômeno chamado hibridação.
Os pesquisadores ainda não sabem a causa do cruzamento. Segundo Eizirik, é possível que as duas espécies não saibam se reconhecer e evitar a reprodução. "Pode ser que ocorra uma seleção dos indivíduos que conseguem se distinguir, e a zona híbrida suma com o tempo." A interferência humana, em forma de modificação de habitats e desmatamento, também pode ser uma explicação para o fenômeno.

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