Em VEJA desta semana
Documentos da Polícia Federal revelam enriquecimento inexplicável de servidores suspeitos de envolvimento no esquema que envolvia a Siemens
Alana Rizzo
A OLHOS VISTOS - O laudo feito pela Polícia Federal sobre a evolução patrimonial de Jorge Fagali Neto, ex-secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, mostra que sua movimentação financeira não era compatível com o que ele recebia de salário (Fernando Cavalcanti)
Nunca saiu da fase genérica a acusação de formação de cartel de companhias estrangeiras fornecedoras de equipamentos para governos de São Paulo comandados desde 1995 pelo PSDB. Sabe-se que houve combinação de preços entre as empresas de modo a encarecer a conta para os cofres do estado. Tanto assim que, na qualidade de parte prejudicada, o Estado de São Paulo analisa processar uma das empresas, a Siemens, cuja filial brasileira se autoincriminou por pressão da matriz, na Alemanha. Mas, até a semana passada, faltava ao caso um elemento crucial: para que a cartelização funcionasse, muito provavelmente teria sido necessária a colaboração de altos funcionários do governo. O corolário disso é que, tendo havido colaboração, os suspeitos deveriam ter tido algum benefício financeiro - e isso seria relativamente simples de comprovar. Uma investigação da Polícia Federal sobre a atuação da multinacional francesa Alstom, uma das parceiras da Siemens no arranjo, descobriu evidências, mesmo que indiretas, do pagamento de propina a servidores. Isso coloca o caso em um estágio superior ao que estava antes.
Os relatórios de inteligência e laudos da evolução patrimonial de funcionários do governo paulista aos quais VEJA teve acesso revelaram que ao menos quinze investigados, que ocuparam cargos nas áreas de transporte e energia, tiveram movimentações financeiras incompatíveis com seus rendimentos. Outros cinco, que não eram servidores, também apresentaram resultados considerados suspeitos pela Polícia Federal. Onze deles já foram indiciados. Os peritos que investigam as suspeitas de pagamento de propina pela Alstom analisaram mais de 352.000 lançamentos de instituições financeiras entre 1998 e 2009. O objetivo era rastrear a trilha do dinheiro. Isso foi feito com algum sucesso - mas não com a cabal comprovação de que a propina saiu dos cofres da multinacional francesa para os bolsos ou contas bancárias dos suspeitos. Na semana passada, foi revelado que João Roberto Zaniboni, ex-diretor de operações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), recebeu 836.000 dólares em uma conta em um banco suíço. Zaniboni esteve em todos os governos tucanos de São Paulo, de Mário Covas a José Serra, passando por Alckmin.
Nenhum comentário:
Postar um comentário