Dia da Independência
PM revistará o público que for assistir aos desfiles e pretende proibir máscaras; black blocs e antifascistas querem se infiltrar em manifestação apartidária
Felipe Frazão, Gabriel Castro, Marcela Mattos e Pâmela Oliveira
Manifestantes voltarão à Avenida Paulista, região central de São Paulo, neste 7 de setembro (Eduardo Biermann)
O Brasil terá um feriado de 7 de Setembro pouco usual neste sábado. Pelo menos 149 cidades de todos os estados devem ser palco de manifestações de rua, similares aos protestos de junho, todas marcadas para as 14 horas. A possibilidade de grupos violentos participarem dos atos fez com que o governo federal e os governos estaduais reforçassem a segurança, inclusive próximo aos locais onde serão realizados os desfiles militares. Em alguns estados, a Polícia Militar revistará o público que for assistir aos desfiles e pretende restringir o uso de máscaras.
O Anonymous, grupo virtual que opera em redes sociais sob anonimato, fez a mobilização por um site na internet e no Facebook – criando ainda durante as manifestações de junho e batizado de "Operação 7 de Setembro". Com o apoio de movimentos anticorrupção, o grupo espera realizar atos simultâneos e de extensão nacional. Pelo menos no mundo virtual, mais de 400 000 pessoas aderiram à manifestação. Há mais de um protesto agendado em boa parte das 149 cidades listadas pelo Anonymous.
Entre as bandeiras dos protestos estão a prisão imediata dos condenados no julgamento do mensalão, a aprovação de lei de combate à corrupção, o fim do voto obrigatório, a aprovação e o cumprimento do Plano Nacional de Educação, a redução do número de deputados na Câmara de 513 para 250 e a reforma tributária.
No Dia da Independência, as atenções estão voltadas para Brasília, onde a presidente da República, Dilma Rousseff, participará do desfile militar. As autoridades locais calculam que de 40 000 a 50 000 pessoas sairão às ruas para protestar na capital federal. Em tese, o público é diverso das 30 000 pessoas esperadas na Esplanada dos Ministérios para o desfile da Independência. Mas, como já ocorreu em 2011, os grupos podem acabar se misturando. Tanto o desfile quanto o protesto estão marcados para as 9 horas – um de cada lado do Eixo Monumental, a via que passa pela Esplanada. A proximidade preocupa a segurança de Dilma, que deve desfilar em carro aberto.
A PM colocará na rua 4 000 homens a mais – além dos 2 200 mobilizados em um dia comum. As forças de segurança estão orientadas a abordar manifestantes mascarados e obrigá-los a se identificar. “Pessoas mascaradas vão ser detidas para que possam ser identificadas”, diz o comandante-geral da PM no Distrito Federal, Jooziel Melo Freire. Apesar disso, em página criada no Facebook, parte dos mais de 16 000 manifestantes confirmados para ir às ruas neste sábado questiona a restrição ao uso das máscaras e estimula que a determinação seja desrespeitada.
Seleção – O jogo de futebol entre Brasil e Austrália, marcado para as 16h15 no estádio Mané Garrincha, é outro foco de preocupação. O estádio fica a cerca de três quilômetros do local do desfile. No caminho entre os dois pontos, estão prédios importantes como os ministérios, a Catedral e o Palácio do Buriti, sede do governo distrital. Há a possibilidade de que os manifestantes se desloquem de um local a outro, o que tornaria real o risco de depredações.
A polícia legislativa da Câmara e do Senado também foi acionada e todo o efetivo estará de plantão. Os agentes atuam apenas no interior do Congresso Nacional e em seus arredores. O objetivo é evitar que os manifestantes se aproximem da portaria e forcem a entrada principal, o que aconteceu durante a onda de manifestações de junho. Há três meses, houve quebra-quebra durante protestos na Esplanada dos Ministérios. O prédio do Itamaraty, pouco protegido e próximo ao Congresso Nacional, foi um dos principais alvos dos manifestantes.
Rio – Estado onde os manifestantes se mantiveram mais ativos desde junho, o Rio de Janeiro tem, para este sábado, três concentrações principais convocadas pelo Facebook. Duas delas, às 7 horas e às 14 horas, estão marcadas para a região do centro: o primeiro na Avenida Presidente Vargas, local do desfile militar; o segundo para a Cinelândia. Um terceiro protesto deve ocorrer às 17 horas, no Largo do Machado, ponto de onde os manifestantes costumam caminhar para o Palácio Guanabara, sede do governo estadual. Estão destacados para atuar nos protestos 1 900 PMs. Mil deles vão acompanhar o desfile cívico; outros 900 serão distribuídos nos demais pontos de protestos. Foi reduzida, no entanto, a presença da PM na parada militar, que terá apenas 200 cadetes da corporação.
O Grupamento de Policiamento de Proximidade de Multidões, encarregado de abordar os manifestantes e identificar materiais perigosos, como coquetéis, pedras e fogos de artifício lançados contra a PM, atuará com todo o efetivo. De acordo com o tenente coronel Mauro Andrade, que lidera a tropa, nenhum dos 160 homens do grupo estará de folga neste sábado. Por determinação da chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, todos os delegados titulares estarão de plantão.
Ao longo da semana, houve uma ação coordenada entre governo do estado, Ministério Público e polícias Civil e Militar no sentido de conter o movimento Black Bloc, considerado o braço mais violento dos protestos. O grupo convocou um "badernaço" para o 7 de setembro e rechaça atitudes "sem violência". O plano envolveu também o Legislativo, mas a votação do projeto de lei que proíbe o uso de máscaras em protestos de rua – uma proposta da base do governador Sérgio Cabral – foi adiada, depois de um pacote de emendas apresentadas por deputados. Promotores de Justiça obtiveram uma decisão judicial para que policiais possam exigir a identificação de mascarados, conduzindo o suspeito à delegacia, se necessário. O Ministério Público também cobrou o fim do anonimato por parte da polícia: PMs descaracterizados ou sem identificação não podem mais prender manifestantes sem que os suspeitos saibam quem está dando a ordem de prisão.
As prisões de três integrantes do movimento Black Bloc, na quarta-feira, tiveram clara intenção de desarticular manifestantes sobre os quais pesam suspeitas de incitação à violência. A medida, no entanto, parece ter surtido efeito contrário: apareceram nas redes sociais convocações específicas para cobrar a liberdade dos manifestantes. No início da noite de sexta-feira, um grupo de cerca de cem pessoas fechou parte da Avenida Presidente Antônio Carlos para pedir a libertação dos três integrantes do Black Bloc presos na quarta-feira passada. Houve tumulto quando parte do grupo tentou invadir o Tribunal de Justiça, que decretou a prisão preventiva dos três jovens detidos na quarta-feira.
São Paulo – Na capital paulista, onde houve nos últimos três meses uma série de depredações na prefeitura, Câmara Municipal e sede do governo do estado, a PM optou por não revelar a quantidade de policiais de sobreaviso. A maior manifestação deve reunir cerca de 20 000 pessoas a partir das 14 horas na Avenida Paulista, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Mas o reforço de contingente também será estendido ao Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte, onde o governador e o prefeito tradicionalmente acompanham o desfile militar. Lá, a PM fará revista como em jogos de futebol e impedirá a entrada com bebidas alcoólicas, substâncias tóxicas, fogos de artifício e balões ou qualquer outro item que o patrulhamento "julgar perigoso". Máscaras, em princípio, estão liberadas.
O patrulhamento será feito a pé e em viaturas pela Força Tática, Rocam (motocicletas) e também por helicópteros Águia. "Se partirem para o vandalismo, nós vamos agir", diz o tenente-coronel Marcel Soffner. Questionado sobre a possível ação de grupos de vândalos, o comando da PM paulista disse, por nota, que aguarda atos cívicos: "Trabalhamos com a hipótese de que as manifestações, se ocorrerem, serão pacíficas".
O grupo Ação Antifascista Brasil, que apoia os black blocs, convocou seguidores a aderir aos protestos com a chamada "7 de Setembro não é dos fascistas". Eles prometem estar misturados a manifestantes apartidários. Os antifascistas devem participar também do Grito dos Excluídos – protesto de minorias que nasceu nas pastorais da Igreja Católica em 1995 e que deve reunir a militância de esquerda. Fora os estados do Acre e do Tocantins, o Grito dos Excluídos acontecerá em todos os demais 24 estados e no Distrito Federal.
Belo Horizonte – Em Belo Horizonte, o epicentro das manifestações fica na Praça Sete de Setembro, no centro. Além do protesto do Anonymous – com caminhada até a Assembleia Legislativa –, deve passar por ali também o Grito dos Excluídos, cuja concentração reunirá movimentos sociais no Viaduto Santa Tereza. O desfile cívico-militar será na mesma área, na Avenida Afonso Pena.
A PM mineira abordará pela manhã mascarados e manifestantes que levarem mochilas para a região central e arredores do desfile. A polícia vai exigir a documentação de quem estiver com rosto coberto. De acordo com o comandante de Policiamento Especializado, coronel Antônio de Carvalho, manifestantes apresentaram documentos falsos, como se fossem menores de idade, em protestos anteriores na capital mineira. Por isso, explica o comandante, papiloscopistas da Polícia Civil vão colher impressões digitais dos mascarados para verificar a veracidade em uma delegacia do centro.
A PM de Minas colocará nas ruas um carro de som para comunicação com manifestantes – a exemplo do que fez durante jogos da Copa das Confederações em Belo Horizonte, quando mascarados promoveram quebra-quebra, saques e até incêndios em concessionárias de carros. Dois jovens morreram ao cair de um viaduto.
Sul – Duas manifestações devem ocorrer pela manhã em Porto Alegre (RS), onde a Câmara Municipal foi invadida e houve depredação de prédios públicos, como a sede da prefeitura desde o início do levante. Os protestos foram marcados no Parque Redenção e em avenidas do centro da capital gaúcha, de acordo com a Brigada Militar. A Brigada detectou que integrantes do Bloco de Lutas e anarquistas de tática Black Bloc pretendem participar dos atos.
Segundo o tenente-coronel Eviltom Diaz, porta-voz da Brigada Militar, houve reforço no efetivo, com policiais designados especialmente para lidar com manifestantes na região – com presença, inclusive, do Batalhão de Operações Especiais.
Nordeste – Em Salvador, o maior protesto percorrerá ruas do Centro, também nas proximidades de onde ocorrerá o desfile cívico-militar – que reúne, na capital baiana, além dos integrantes das Forças Armadas, 800 estudantes de escolas públicas. Segundo o tenente-coronel Márcio Cunha, chefe da Comunicação do Comando da 6ª Região Militar, 1 500 policiais militares participarão do desfile e haverá contingentes das Forças Armadas e da PM posicionados na região desde as 7 horas.
(Com Estadão Conteúdo)
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