Trabalhei em casa durante a maior parte da minha vida profissional. A liberdade de trabalhar fora de um escritório tradicional foi uma das principais razões pelas quais deixei o mundo corporativo oito anos atrás, aos 23 anos de idade, para inaugurar minha empresa de software.
Trabalhei em casa durante a maior parte da minha vida profissional. A liberdade de trabalhar fora de um escritório tradicional foi uma das principais razões pelas quais deixei o mundo corporativo oito anos atrás, aos 23 anos de idade, para inaugurar minha empresa de software.
A ideia de que todos os funcionários precisam estar no mesmo lugar durante oito horas por dia, cinco dias por semana, me parece enlouquecedora e ineficiente. Eu sabia que atingia meu pico de produtividade em determinadas horas do dia, com baixas regulares entre elas. A flexibilidade de determinar quando e onde trabalho sempre me tornou uma trabalhadora melhor.
Mas à medida que minha empresa crescia, tive uma surpresa: comecei a me sentir atraída pelo escritório. Enquanto funcionária, ainda não queria passar meu dia todo lá. Mas no papel de empregadora, queria garantir que todos os meus funcionários trabalhassem de forma eficaz. Exigir que todos passassem ao menos alguns dias da semana no escritório me parecia a forma mais fácil de fazer isso. Também compreendi o valor das conversas que surgem quando as pessoas estão fisicamente juntas em uma sala.
Quando soube que Marissa Meyer, executiva chefe do Yahoo, proibiu os funcionários de trabalharem em casa, meu primeiro pensamento foi: "Ainda bem que não trabalho no Yahoo". Contudo, entendo porque ele se sentiu forçada a colocar a política em prática, ao menos por enquanto. Ela está a cargo de uma empresa gigantesca que se tornou famosa por seu inchaço. Talvez seja exatamente disso que o Yahoo precisa para voltar aos trilhos. A questão é saber se essa política será capaz de aumentar a produtividade em longo prazo.
A noção de que todo mundo precisa estar no escritório cinco dias por semana nos faz lembrar de um tempo em que os funcionários não possuíam as ferramentas necessárias para trabalhar em casa. Porém, agora vivemos em um mundo completamente diferente: uma vez que a tecnologia fez com que os funcionários se tornassem acessíveis 24 horas por dia, os patrões passaram a esperar que fizessem hora extra; sob diversos aspectos, a jornada de 40 horas se tornou um anacronismo.
O Yahoo argumentou no anúncio da nova política que "algumas das melhores decisões e insights ocorrem nos corredores e lanchonetes, quando se conhecem pessoas novas e durante reuniões improvisadas". Certamente isso é verdade, mas também é verdade que alguns dos insights mais criativos só acontecem quando o cérebro humano tem o ócio necessário para pensar. Esses momentos em que a mente vaga quase nunca ocorrem durante o corre-corre do dia a dia no escritório.
No mundo de hoje, em que estamos constantemente conectados e quase sempre trabalhando, o escritório deveria ser repensado como um local de encontro, onde se comunicam ideias e se reforçam os laços interpessoais. Além disso, os funcionários deveriam ter o respeito e a responsabilidade necessária para gerir suas próprias grades horárias, além de trabalhar pelo tempo que achassem necessário e onde preferissem. Esse é o princípio que seguimos em nossa empresa, chamada Khush. Vamos ao escritório três dias por semana, cinco horas por dia, a partir do meio dia.
Em 2011, um grande fabricante de aplicativos, a Smule Inc., nos adquiriu e descobri que a complexidade cresce juntamente com a equipe. A comunicação é um desafio ainda maior. É fácil ignorar detalhes, perder oportunidades de colaboração espontânea e até mesmo as melhores intenções podem ser mal compreendidas.
Ainda assim, a despeito do tamanho da empresa, os princípios básicos da produtividade não mudam. Pessoas espertas ainda trabalham melhor quando podem escolher quando e onde atuar. Esse tipo de flexibilidade também ajuda funcionários que têm filhos. Alguns de nossos engenheiros costumam fazer pausas à tarde para buscar os filhos na escola, então voltam para terminar o serviço. E o trabalho sempre é entregue a tempo.
A Smule já era relativamente flexível em relação aos horários de trabalho, pedindo que os funcionários trabalhassem um mínimo de 5 horas por dia, quatro dias por semana no escritório. Recentemente, quando nossas empresas se fundiram ainda mais, a matriz passou a pedir que os funcionários da Khush adotassem os horários da Smule. Mas ao invés disso, convenci o executivo-chefe da Smule a adotar a grade mínima de três dias por semana que minha empresa já mantinha. Ele concordou com a mudança, muito embora tivesse suas dúvidas – ele acredita de verdade na cooperação presencial.
Acho que essa é a política que mais se aproxima de um meio termo que satisfaça as necessidades tanto de empregados quanto de empregadores. Ao invés de contar com princípios organizacionais projetados para uma época mais antiga, as empresas deveriam desenvolver novas estratégias para acabar com os desafios de se trabalhar em casa.
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