POR: Política & Cia
O que será que anda acontecendo com o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB)? (Ou vai ver que ele sempre foi assim…).
O homem tem cometido alguns desatinos e destravado a língua — para o mal –de tal forma que parece querer seguir os passos do irmão, Ciro, que colocou a perder suas boas chances na disputa pela Presidência em 2002 por falar e fazer, sucessivamente, o que não devia. (Para os que não se lembram, durante os primeiros meses de campanha Ciro Gomes esteve disparado na frente de Lula e Serra).
Professor, para ele, não trabalha pelo salário
Irritado com as exigências dos professores cearenses em greve desde o começo do mês por causa dos péssimos salários — 1,3 mil por 40 horas semanais no início de carreira, por exemplo –, o governador soltou esses dias a seguinte pérola:
– Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado.
Posso estar no mundo da lua, mas acho imoral, obscena uma declaração desse tipo, partida de um governador de Estado. E dirigida à sacrificadísima classe dos professores de escola pública.
Os professores da rede pública cearense querem, além de reajuste salarial — ganham em média metade do salário dos professores do Distrito Federal –, melhores condições de trabalho e eleições diretas para a direção das escolas. “A declaração do governador só fez jogar combustível na greve. A adesão no interior nunca foi tão grande”, disse ao site Brasil 247 o secretário-geral do Sindicato Associação dos Professores de Estabelecimentos Oficiais do Ceará (Apeoc), Juscelino Linhares. “A declaração é ainda mais infeliz se levarmos em conta que as escolas privadas do estado pagam ainda menos que o governo”.
Depois da frase estapafúrdia sobre os professores públicos, Cid Gomes constrangeu a presidente Dilma Rousseff numa solenidade pública ao fazer referências grosseiras a um procedimento médico essencial para o sexo masculino — o exame de próstata, cujo câncer é o de maior incidência entre pacientes homens no país.
Como se fosse um faraó ou um semideu
O cúmulo do delírio, porém, é o projeto de lei que enviou à Assembléia criando uma “área de segurança institucional” em seu benefício. O texto inicial da proposta, sensatamente expurgado pela Assembleia Legislativa, pretendia criar uma “área de segurança transitória” ao redor do governador aonde quer que ele fosse. Uma espécie de “área de exclusão aérea”, que grandes potências ou a ONU decretam ao redor de determinados países conflituados — como ocorreu na Líbia — e onde o avião do país em questão que ousar levantar vôo será abatido.
Haveria um espaço virtual ao redor da sacrossanta figura do governador socialista, como se ele fosse um faraó ou um semideus, dentro da qual ninguém poderia penetrar ou se aproximar sem passar pelo crivo de sua segurança.
Cid acabou também recuando de dispositivo que estabelecia como “área de segurança institucional” o espaço compreendido no raio de 250 metros ao redor do Palácio da Abolição, sede do governo estadual, mas a lei fixou, de todo modo, um espaço considerável nas imediações do palácio e da residência oficial no qual o governador poderá impor restrições. A área inclui prédios públicos e particulares e até residências.
Entre os 46 deputados estaduais, apenas 3 — 1 do PSB e 2 do PV — votaram contra a maluquice, argumentando, acertadamente, que ela interfere no direito de ir e vir dos cidadãos, garantido pela Constituição.
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