Memória
Filho mais velho de Leonel Brizola denunciou petistas gaúchos por envolvimento com bicheiros e foi expulso do partido
Em 28/12/2012 - 18:24
Jean-Philip Struck
José Vicente Brizola, filho de Leonel Brizola, em 2000. Ex-deputado morreu na madrugada desta sexta (Agência RBS)
O ex-deputado José Vicente Goulart Brizola, de 61 anos, morreu na madrugada desta sexta-feira em um hospital do Rio de Janeiro. Filho mais velho do ex-governador e cacique político Leonel Brizola (1922-2004), José Vicente foi o responsável por levar a presidente Dilma Rousseff para o PT gaúcho. Poucos anos depois, foi expulso por denunciar um esquema que envolvia a arrecadação ilegal de recursos para campanhas do partido junto a empresários do jogo do bicho.
Segundo o gabinete da deputada estadual gaúcha Juliana Brizola (PDT), filha de José Vicente, a causa da morte do ex-deputado foi hemorragia estomacal. José Vicente estava internado há duas semanas no Hospital Miguel Couto no Rio de Janeiro. O corpo do ex-deputado está sendo velado na tarde desta sexta-feira no Memorial do Carmo, no Caju, Rio de Janeiro, e deve ser cremado em uma cerimônia no final da manhã de sábado. Além da deputada Juliana, José Vicente também é pai do atual ministro do Trabalho, Carlos Daudt Brizola (PDT) e do vereador do Rio de Janeiro Leonel Brizola Neto (PDT).
Capa de VEJA em 2004 com José Brizola
Nascido em Porto Alegre em 1951, José Vicente excerceu o mandato de deputado federal entre 1991 e 1995, quando fazia parte do PDT, o partido fundado por seu pai. Ele acabou rompendo com o pai e com o PDT no começo dos anos 2000, liderando um movimento de migração de membros da ex-legenda para o PT gaúcho. À época, o grupo de dissidentes incluía a então secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, a ainda desconhecida Dilma Rousseff. À época, o cacique Leonel Brizola acusou os dissidentes de se venderem "por um prato de lentilhas".
O namoro do ex-deputado com o PT durou pouco. Durante o governo do petista Olívio Dutra (1999-2002), José Vicente presidiu a Loteria do estado, a Lotergs, hoje extinta.
Entre 2004 e 2005, na esteira do escândalo Waldomiro Diniz, ele denunciou ter sido pressionado durante a campanha de 2002 para levantar recursos junto a bicheiros e donos de casas de bingos para enviar ao caixa dois de campanhas do PT gaúcho. O escândalo foi tema de capa de VEJA em fevereiro de 2004. As denúncias acabaram custando a expulsão de Brizola do PT, em março do mesmo ano.
“Quando fiz a denúncia do "caixa 2" do PT, os políticos locais do partido tentaram me desqualificar. A verdade é que denunciei algo que hoje está sendo comprovado. Eu fui o primeiro a ter coragem de denunciar”, disse o ex-deputado em depoimento na CPI dos Bingos, em julho de 2005.
No mesmo depoimento, Brizola também citou o nome de Carlos Augusto Ramos, mais conhecido como Carlinhos Cachoeira. Segundo Brizola, uma empresa do bicheiro havia ganhado de forma “estranha” uma licitação para administrar a Lotergs durante o governo Olívio Dutra. O contrato acabou sendo rompido em 2004, no governo Germano Rigotto (PMDB) e Cachoeira resolveu processar a Lotergs por quebra de contrato, pedindo mais de 20 milhões de indenização. A ação ainda corre na 1º Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre.
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