quinta-feira 06 2012

Velório de Niemeyer será em Brasília. O enterro, no Rio


Memória

Arquiteto morreu na noite desta quarta, aos 104 anos. Ele estava internado desde 2 de novembro no Rio. A causa da morte foi insuficiência respiratória

O arquiteto Oscar Niemeyer
O arquiteto Oscar Niemeyer - Felipe Dana/AP
O velório do arquiteto Oscar Niemeyer começará na tarde desta quinta-feira em Brasília, cidade que ajudou a projetar. Niemeyer morreu na noite desta quarta no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, aos 104 anos. O corpo do arquiteto foi embalsamado nesta manhã no laboratório da Santa de Casa de Misericórdia, em Inhaúma. Por volta das 10 horas, será transportado à capital federal. O velório ocorrerá no Palácio do Planalto. Na sexta-feira, o corpo volta ao Rio para ser velado no Palácio da Cidade. O enterro será à tarde, no cemitério São João Batista.
De acordo com informações da assessoria da Presidência da República, a presidente Dilma Rousseff sugeriu que a cerimônia fosse realizada em Brasília por todo o vínculo que a figura de Oscar Niemeyer tem com a capital federal, e a família aceitou. 
Oscar Niemeyer morreu nesta quarta, às 21h55. Segundo os médicos, o arquiteto morreu de insuficiência respiratória, rodeado pela mulher, Vera, e por outros familiares. Ele estava internado no Hospital Samaritano, localizado em Botafogo, desde 2 de novembro, quando foi diagnosticado com desidratação.
O mesmo motivo o levara, no início de outubro, a passar duas semanas no mesmo hospital. Neste período, ele teve duas hemorragias digestivas e apresentou quadro de insuficiência renal, motivo que o levou a fazer hemodiálise. Ele completaria 105 anos no próximo dia 15.
Em entrevista coletiva após a confirmação da morte, o médico de Niemeyer, Fernando Gjroup, detalhou que o arquiteto vinha apresentando piora em seu estado de saúde desde terça-feira. Na manhã de quarta, Niemeyer havia apresentado insuficiência respiratória e precisou ser entubado. Gjroup contou que, durante a internação, o arquiteto teve momentos de lucidez e evitava falar sobre morte. "Ele chegou a trabalhar no hospital e conversar com a equipe dele sobre projetos. Ele nunca perguntava muito sobre seu estado de saúde. E falava só em viver."
A razão do sucesso de Niemeyer está em sua ligação com um certo momento histórico do Brasil. “Sua carreira coincide com a modernização do Brasil. Ele foi um gênio no momento que a arquitetura queria se reinventar radicalmente”, diz Frederico Flósculo, professor de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB).  Ao mesmo tempo, na definição de Flósculo, “suas obras têm a mesma marca, uma força plástica e de expressão que ignora as necessidades dos demais seres vivos”. A ventilação ruim e a iluminação insuficiente são os problemas mais apontados. “O Museu Nacional em Brasília, por exemplo, é um pavor climático. É um prédio totalmente fechado e uma praça toda cimentada com cerca de seis hectares. Nos dias de hoje, isso chega ao limite da ignorância em relação ao clima e ao conforto.”
Dinossauro - A tenacidade com que Niemeyer se aferrou aos seus cânones arquitetônicos só é comparável ao seu apego a uma ideologia inimiga dos homens. O arquiteto se tornou um dinossauro da esquerda, e morreu fiel ao comunismo e admirador de Josef Stálin, um dos maiores genocidas da história, que considerava “um estadista fantástico”. Em algumas ocasiões, levou ao desespero amigos conhecidos pelo radicalismo esquerdista, como o escritor uruguaio Eduardo Galeano, que pretendia publicar em um jornal de seu país uma entrevista que Niemeyer dera ao Jornal do Brasil. Preocupado em preservar o arquiteto de críticas, Galeano sugeriu retirar do texto os elogios a Stálin. Ouviu um sonoro “não” e desistiu da ideia. “Ele disse que não pegaria bem para mim”, contou Niemeyer a Lauro Jardim, um dos redatores-chefes de VEJA, em 2001. “Mas eu digo o que penso, mesmo que possa estar errado. Não cobro posição ideológica de ninguém. Tenho até amigos reacionários. Eles sempre pensando que eu estou errado, e eu achando que quem está errado são eles.”

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