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Internação
A fase inicial é de desintoxicação, e se estende pelos primeiros 15 dias. Como o paciente não tem controle nem noção dos prejuízos causados pela droga, o tratamento resume-se a medicamentos para reduzir as crises de abstinência e a ansiedade. O dependente volta a ter horário para dormir e vontade de comer.
E aí surge outra explicação para os efeitos pífios das políticas públicas contra o crack até o momento: na rede pública de saúde do estado do Rio o atendimento é apenas ambulatorial. Ou seja, o paciente chega, recebe os cuidados médicos e sai quando quer, sem receber o acompanhamento psiquiátrico necessário para reduzir as chances de, novamente, buscar a droga.
Para todo o estado do Rio, havia, antes do fim do contrato com as duas clínicas de dependência química para adultos, 180 vagas para internação disponíveis para todo tipo substância. O total de usuários de crack só na capital é um chute: seriam 3.000 os viciados, entre adultos e crianças. Apesar de o total de vagas no estado ser ínfimo, não chega a haver superlotação. Afinal, o dependente de crack raramente busca tratamento.
A chegada do crack à classe média, no entanto, já cria uma fila para tratamento na rede particular. Pela primeira vez em 20 anos, a Clínica Jorge Jaber, que tem capacidade para receber 70 pacientes, tem fila de espera. “O crack não é mais droga de pobre. Recebo com frequência pacientes de classe média que já foram retirados por suas famílias das ruas, de cracolândias. É muito triste. Essa turma do crack se vende por qualquer coisa, é um negócio deprimente", afirma.
“Geralmente o usuário da classe média que se vicia em crack já usou maconha, álcool ou cocaína sem ficar dependente de imediato. Então acredita que tem um domínio e experimenta. Mas um fim de semana já é suficiente para se viciar”, diz, acrescentando que 30% dos que concluem o tratamento internado pela primeira vez não têm recaídas nos seis meses posteriores. Na cocaína, o índice é de 66% a 72% em 1 ano e 8 meses após a alta da clínica.
O médico alerta que o tratamento é para sempre. "O perigo é para sempre. É como nascer. Depois que caímos no mundo estamos condenados a viver nele. A única hipótese que nos tira do mundo é a que não queremos, a morte".
Acompanhamento psicológico
Após as duas semanas iniciais, o paciente começa a achar que pode parar de usar a droga sozinho. Mas ele ainda não tem defesas mentais para dizer 'não' ao crack. Por isso, a continuidade do tratamento é voltada para o acompanhamento psicológico. A medicação é reduzida e o dependente começa a praticar atividades físicas. É como se a pessoa estivesse cursando um intensivo para passar no vestibular da abstinência.
Terapia
O paciente alta da clínica ao fim de 105 dias (três meses e meio), o que não significa que o paciente esteja curado. Para evitar recaídas, ele deve fazer terapia - tanto individual quanto em grupo, dividindo assim suas angústias com outras pessoas que também lutam contra a dependência.
Vigilância eterna e apoio
Todo o modo de vida do paciente precisa mudar após a parte mais intensiva do tratamento, e ele precisa entender que a vigilância para evitar recaídas nunca cessará. Mas não depende apenas dele - a família e as pessoas mais próximas têm papel fundamental neste apoio. É primordial também mudar as companhias e cortar relações com antigos parceiros da droga.
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