Reinaldo Azevedo
Vejam esta foto.
No post anterior, vocês leram que um grupo de esquerdistas foi tomar café da manhã com Mahmoud Ahmadinjead, o ditador terrorista e sanguinário (parece caricatura do Casseta & Planeta, mas é tudo verdade). Ele ganhou até uma bandeira da UNE de presente. A partir de agora, o símbolo da entidade estudantil brasileira foi convertido na corda que enforca os esquerdistas iranianos, os cristãos iranianos, os democratas iranianos, os homossexuais iranianos, todos aqueles, enfim, que o regime mandou e manda ainda para a morte em nome daquele “Deus Único” que o ditador exaltou em seu discurso na “Rio+20″. Um delinquente que toca um programa nuclear secreto e que tem o declarado intuito de varrer um outro país do mapa ser convidado para um evento como esse diz muito, lamento, da seriedade do encontro. Sigamos.
Que estranho mundo este, não é mesmo? Posts abaixo, publico duas fotos da manifestação que pastores evangélicos organizaram contra a presença de Admadinejad no Brasil. Eles cobram do presidente do Irã a libertação de Yousef Nadarkhani, condenado à morte por ter-se convertido ao cristianismo. A iniciativa é do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, atacado por certos “progressistas” porque crítico da tal PL 122, a lei que pune a homofobia. Não porque pregue discriminação contra homossexuais, é evidente, mas porque entende o óbvio: o texto pratica uma espécie de discriminação às avessas (não vou entrar nesse mérito agora porque já escrevi bastante a respeito).
No Irã, homossexuais são enforcados em praça pública. Seus corpos são pendurados em guindastes para servir de exemplo. É o que se vê na foto lá do alto. Oficialmente, e Ahmadinjad declara isso, não há gays no país — a não ser aqueles que se deixam seduzir pelas ideias erradas do… Ocidente! Entenderam? Também não há comunistas. A revolução islâmica os liquidou a todos. A esquerda iraniana ajudou a depor o xá Reza Pahlevi e foi parte ativa da revolução islâmica, mas seus representantes lideraram a fila das execuções.
A tara dos esquerdistas pela tirania religiosa iraniana é antiga. Um delinquente intelectual muito influente como Michel Foucault, ainda apreciado na periferia intelectual do complexo PUCUSP, cantou as glórias de aiatolá Khomeini e seus bravos de maneira miserável. Se vocês quiserem detalhes, leiam o livro “Foucault e a Revolução Iraniana”, de Janet Afary e Kevin B. Andersonh, publicado no Brasil pela editora “É Realizações”. O livro reproduz trechos de uma entrevista que ele concedeu a dois jornalistas franceses do Libération. Num dado momento, tomado do que costumo chamar de “estupidez dialética”, observou sobre a revolução islâmica:
“Havia demonstrações, verbais pelo menos, de um antissemitismo virulento. Havia demonstrações de xenofobia, e não apenas contra os americanos, mas também contra trabalhadores estrangeiros que tinham ido trabalhar no Irã. O que dá ao movimento iraniano sua intensidade tem sido um registro duplo. De um lado, uma vontade coletiva que tem sido muito fortemente expressada politicamente, e, de outro, o desejo de uma mudança radical na vida comum. Mas essa afirmação dupla só pode ser baseada nas tradições, instituições que carregam uma carga de chauvinismo, nacionalismo, exclusivismo, que eram uma atração muito poderosa para os indivíduos”.
“Havia demonstrações, verbais pelo menos, de um antissemitismo virulento. Havia demonstrações de xenofobia, e não apenas contra os americanos, mas também contra trabalhadores estrangeiros que tinham ido trabalhar no Irã. O que dá ao movimento iraniano sua intensidade tem sido um registro duplo. De um lado, uma vontade coletiva que tem sido muito fortemente expressada politicamente, e, de outro, o desejo de uma mudança radical na vida comum. Mas essa afirmação dupla só pode ser baseada nas tradições, instituições que carregam uma carga de chauvinismo, nacionalismo, exclusivismo, que eram uma atração muito poderosa para os indivíduos”.
Viram só? Foucault, o homem que estudou a microfísica do poder”, o pensador que buscava decupar as estruturas autoritárias vigentes no regime democrático burguês, via com olhos mais do que benevolentes — verdadeiramente entusiasmados — as balizas reacionárias da revolução iraniana. Foucault (1926-1984) era gay, o que nunca admitiu claramente, e morreu de AIDS em 1984. No Irã, teria morrido muito antes, vítima da “revolução” cujas glórias cantou. Não foi o único cretino ocidental a se encantar com a tirania religiosa, mas foi o mais festivo, o mais entusiasmado, o mais ousado na estupidez.
Os bastardos brasileiros que foram ouvir o ditador e que lhe fizeram salamaleques pertencem, de algum modo, à mesma cadeia de equívocos que foi integrada por Foucault. Veem em Ahmadinejad o líder de um país que, oh!!!, teria ousado enfrentar o imperialismo e, quem sabe?, os “preconceitos da razão” do mundo ocidental. Também eles devem achar que do antissemitismo, do chauvinismo e da xenofobia se pode fazer algo de interessante…
VergonhaSinto por esses caras a vergonha que eles não têm. Tivesse um mínimo de pudor, essa gente estaria protestando contra a perseguição a que Ahmadinejad submete a esquerda em seu país. O PT não promoveria tal ato porque parceiro do asqueroso, mas cadê os “psois” da vida? Onde estão os movimentos de homossexuais do Brasil para se juntar a Malafaia — sim, junta-se a Malafaia nesse caso! — para protestar contra a brutalidade de que são vítimas seus iguais no Irã? Cadê o buliçoso deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ)? Cadê a manifestação dos oposicionistas brasileiros, tucanos e democratas especialmente, que têm o dever moral de expressar seu repúdio, dada a intimidade do petismo com o facinoroso? Nada!
Quanto à UNE, que deu uma bandeira de presente a Ahmadinejad, dizer o quê? Quando aquele pano não está cobrindo a malversação de dinheiro público, está endossando a repressão, a violência e a morte. Alguém esperaria muito mais, ou menos, dessa gente?
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
Nenhum comentário:
Postar um comentário