CPI do Cachoeira
Para relator da CPI, conversa captada nos grampos da Polícia Federal indica que governador mentiu à CPI
Laryssa Borges e Gabriel Castro
A casa que o governador Marconi Perillo vendeu em condomínio de luxo de Goiânia (Fernando Gallo/AE)
Interceptações telefônicas da operação Monte Carlo, da Polícia Federal, apontam que o contraventor Carlinhos Cachoeira era o real comprador da casa do governador Marconi Perillo (PSDB) em Goiânia. O teor dos grampos, já em poder da CPI, mostra que no dia 5 de maio de 2011, a então amante de Cachoeira, Andressa Mendonça, conversa com o bicheiro sobre a mansão. Nas interceptações, Cachoeira diz que precisará rasgar o contrato de compra do imóvel para apagar rastros de que ele é o verdadeiro proprietário da residência. Em entrevista ao site de VEJA na semana passada, Andressa negou relações de Cachoeira com o governador.
“Não quero meu nome não por causa dos depósitos que foram feitos, entendeu? Eu tinha botado o meu nome”, disse Cachoeira a Andressa. Em seguida, o contraventor explica: “[Preciso] passar o contrato que eu tenho para rasgar urgentemente, o contrato que eu tinha no meu nome”.
Na conversa, o empresário de jogos aponta um suposto laranja, identificado como Deca nas ligações, para apagar os vestígios de que ele seria o dono da casa. A Polícia Federal diz que Deca é André Teixeira Jorge, ex-funcionário da construtora Delta em Goiás e também ex-funcionário da empresa farmacêutica Vitapan, de propriedade de Cachoeira. Entre 2002 e 2006, informam documentos em poder da CPI, Deca fez 95 saques das contas da Vitapan.
O relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), está convencido de que Perillo mentiu ao tentar explicar a venda da casa. "O que fica evidente é que quem contratou o arquiteto foi o senhor Carlos Cachoeira, para fazer uma decoração vultuosa que custou mais de 500 000 reais. Quem contratou o arquiteto foi Carlos Cachoeira, para decorar a casa que lhe pertencia, que ele havia comprado do governador Marconi Perillo. Está evidente foi montada uma história da casa para negar a relação do governador com o senhor Carlos Cachoeira”, afirmou.
As incongruências sobre a venda da casa de Marconi Perillo têm sido repetidas por pessoas ligadas ao bicheiro. Em depoimento à CPI, no dia 24 de maio, o ex-vereador tucano Wladimir Garcez disse que em junho de 2011 pediu a mansão emprestada a Walter Paulo Santiago, dono da Faculdade Padrão, empresário para quem o governador diz ter vendido o imóvel. “Emprestou essa casa e a Andressa foi ficando nessa casa”, disse Garcez na época. A versão, no entanto, contrasta com a conversa de Cachoeira e Andressa revelada nos grampos. Também o próprio Walter Paulo só teria comprado a casa um mês depois da versão do ex-vereador.
Diante das versões sobre a venda do imóvel, o relator da CPI suspeita que o empresário Walter Paulo, atual dono do imóvel, pode ter sido enganado: "A investigação está levando a crer que Walter Paulo comprou a casa de Carlos Cachoeira enganado pela organização. Fica claro que eles combinam de convencer Walter Paulo de que ele estava comprando diretamente do Marconi Perillo", afirma o petista. O relator diz que, se o empresário mentiu, foi em relação ao preço do imóvel: "Paulo diz ter pago 1,4 milhão, mas as interceptações mostram que o imóvel teria sido negociado por 2 milhões".
Odair diz que não necessariamente Perillo será novamente chamado a falar na CPI: "Nós vamos agora continuar buscando meios de provas para desmontar a história montada pelo governador Marconi Perillo", diz o petista.
Confira trecho do grampo em que Cachoeira fala da casa comprada de Perillo:
Cachoeira: Oi.
Andressa: Deixa eu te perguntar. O Adriano, seu cunhado, sabe da casa?
Cachoeira: Uai, deve saber, uai. Ele pediu, a irmã deve ter falado.
Andressa: Não, a irmã deve ter falado não. Ele dá detalhes aqui no seu e-mail sobre o pagamento e o documento.
Cachoeira: Não, é porque eu mandei tirar. Depois eu te explico pessoalmente. Não quero meu nome não por causa dos depósitos que foram feitos, entendeu? Eu tinha botado o meu nome. E aí saiu de uma conta, e eu pedi para passar no nome do Deca, da empresa.
Andressa: Passar o quê?
Cachoeira: Passar o contrato que eu tenho para rasgar urgentemente, o contrato que eu tinha no meu nome. Não posso ter vínculo daquela conta com esse contrato, entendeu?
Andressa: Contrato de compra cê fala?
Cachoeira: Exatamente. Estava no meu nome. E o dinheiro que tava pagando vinha de uma conta, entendeu?
Andressa: Entendi. Mas e quando você for escriturar? Porque eu quero que cê passe ela no meu nome. Como você vai fazer?
Cachoeira: Escritura é outra coisa, tá? Eu pedi para rasgar aquele contrato meu lá pra pôr no nome da empresa que o Deca tem.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/cachoeira-rasgou-contrato-que-comprovaria-compra-da-casa-de-perillo
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