terça-feira 26 2012

Cachoeira rasgou contrato que comprovaria compra da casa de Perillo(VEJA)


CPI do Cachoeira

Para relator da CPI, conversa captada nos grampos da Polícia Federal indica que governador mentiu à CPI

Laryssa Borges e Gabriel Castro
A casa que o governador Marconi Perillo vendeu em condomínio de luxo de Goiânia
A casa que o governador Marconi Perillo vendeu em condomínio de luxo de Goiânia (Fernando Gallo/AE)
Interceptações telefônicas da operação Monte Carlo, da Polícia Federal, apontam que o contraventor Carlinhos Cachoeira era o real comprador da casa do governador Marconi Perillo (PSDB) em Goiânia. O teor dos grampos, já em poder da CPI, mostra que no dia 5 de maio de 2011, a então amante de Cachoeira, Andressa Mendonça, conversa com o bicheiro sobre a mansão. Nas interceptações, Cachoeira diz que precisará rasgar o contrato de compra do imóvel para apagar rastros de que ele é o verdadeiro proprietário da residência. Em entrevista ao site de VEJA na semana passada, Andressa negou relações de Cachoeira com o governador.
“Não quero meu nome não por causa dos depósitos que foram feitos, entendeu? Eu tinha botado o meu nome”, disse Cachoeira a Andressa. Em seguida, o contraventor explica: “[Preciso] passar o contrato que eu tenho para rasgar urgentemente, o contrato que eu tinha no meu nome”.
Na conversa, o empresário de jogos aponta um suposto laranja, identificado como Deca nas ligações, para apagar os vestígios de que ele seria o dono da casa. A Polícia Federal diz que Deca é André Teixeira Jorge, ex-funcionário da construtora Delta em Goiás e também ex-funcionário da empresa farmacêutica Vitapan, de propriedade de Cachoeira. Entre 2002 e 2006, informam documentos em poder da CPI, Deca fez 95 saques das contas da Vitapan.
O relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), está convencido de que Perillo mentiu ao tentar explicar a venda da casa. "O que fica evidente é que quem contratou o arquiteto foi o senhor Carlos Cachoeira, para fazer uma decoração vultuosa que custou mais de 500 000 reais. Quem contratou o arquiteto foi Carlos Cachoeira, para decorar a casa que lhe pertencia, que ele havia comprado do governador Marconi Perillo. Está evidente foi montada uma história da casa para negar a relação do governador com o senhor Carlos Cachoeira”, afirmou.
As incongruências sobre a venda da casa de Marconi Perillo têm sido repetidas por pessoas ligadas ao bicheiro. Em depoimento à CPI, no dia 24 de maio, o ex-vereador tucano Wladimir Garcez disse que em junho de 2011 pediu a mansão emprestada a Walter Paulo Santiago, dono da Faculdade Padrão, empresário para quem o governador diz ter vendido o imóvel. “Emprestou essa casa e a Andressa foi ficando nessa casa”, disse Garcez na época. A versão, no entanto, contrasta com a conversa de Cachoeira e Andressa revelada nos grampos. Também o próprio Walter Paulo só teria comprado a casa um mês depois da versão do ex-vereador.
Diante das versões sobre a venda do imóvel, o relator da CPI suspeita que o empresário Walter Paulo, atual dono do imóvel, pode ter sido enganado: "A investigação está levando a crer que Walter Paulo comprou a casa de Carlos Cachoeira enganado pela organização. Fica claro que eles combinam de convencer Walter Paulo de que ele estava comprando diretamente do Marconi Perillo", afirma o petista. O relator diz que, se o empresário mentiu, foi em relação ao preço do imóvel: "Paulo diz ter pago 1,4 milhão, mas as interceptações mostram que o imóvel teria sido negociado por 2 milhões".
Odair diz que não necessariamente Perillo será novamente chamado a falar na CPI: "Nós vamos agora continuar buscando meios de provas para desmontar a história montada pelo governador Marconi Perillo", diz o petista.
Confira trecho do grampo em que Cachoeira fala da casa comprada de Perillo:
Cachoeira: Oi.
Andressa: Deixa eu te perguntar. O Adriano, seu cunhado, sabe da casa?
Cachoeira: Uai, deve saber, uai. Ele pediu, a irmã deve ter falado.
Andressa: Não, a irmã deve ter falado não. Ele dá detalhes aqui no seu e-mail sobre o pagamento e o documento.
Cachoeira: Não, é porque eu mandei tirar. Depois eu te explico pessoalmente. Não quero meu nome não por causa dos depósitos que foram feitos, entendeu? Eu tinha botado o meu nome. E aí saiu de uma conta, e eu pedi para passar no nome do Deca, da empresa.
Andressa: Passar o quê?
Cachoeira: Passar o contrato que eu tenho para rasgar urgentemente, o contrato que eu tinha no meu nome. Não posso ter vínculo daquela conta com esse contrato, entendeu?
Andressa: Contrato de compra cê fala?
Cachoeira: Exatamente. Estava no meu nome. E o dinheiro que tava pagando vinha de uma conta, entendeu?
Andressa: Entendi. Mas e quando você for escriturar? Porque eu quero que cê passe ela no meu nome. Como você vai fazer?
Cachoeira: Escritura é outra coisa, tá? Eu pedi para rasgar aquele contrato meu lá pra pôr no nome da empresa que o Deca tem.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/cachoeira-rasgou-contrato-que-comprovaria-compra-da-casa-de-perillo

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