Ex-delegado afirma ter participado da incineração de 11 presos políticos. Guerra já prestou depoimento, cujo teor sigiloso foi informado à presidente Dilma e ao ministro da Justiça
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA
A Polícia Federal abriu investigação sobre o paradeiro de supostas vítimas do ex-delegado Cláudio Guerra, que afirma ter matado e incinerado corpos de presos políticos na ditadura militar.
O ex-policial prestou depoimento a um delegado da PF há cerca de um mês. A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foram informados do relato, que está em sigilo.
A intenção é enviar as informações à Comissão da Verdade, ainda não instalada.
O ex-agente da ditadura levou uma equipe da PF a quatro cidades onde diz ter ocultado cadáveres de militantes: Rio, BH, Petrópolis (RJ) e Campos (RJ). Os locais devem ser alvo de escavações.
Em Campos, o grupo vistoriou o forno de uma usina de açúcar onde Guerra diz ter incinerado corpos de vítimas da tortura. A visita foi acompanhada pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro. “Foi muito impactante. Ele mostrou o forno e funcionários mais antigos disseram se lembrar dos militares na usina”, disse.
Ontem, o site do livro “Memórias de uma Guerra Suja”, em que o ex-agente narra as mortes, identificou a 11ª suposta vítima de incineração: Armando Teixeira Fructuoso, ex-dirigente do PC do B desaparecido em 1975.
Segundo os autores do livro, Marcelo Netto e Rogério Medeiros, a PF foi procurada após ameaças feitas por um ex-agente envolvido no atentado do Riocentro, do qual o ex-delegado diz ter participado.
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