Rio de Janeiro
Ligação do prefeito candidato à reeleição com o governador Sérgio Cabral, amigo do dono da construtora que está no epicentro da CPI do Cachoeira, será explorada pelos concorrentes da oposição
Cecília Ritto
Sérgio Cabral, Dilma Rousseff e Eduardo Paes: o alinhamento que ajudou a eleger o prefeito agora será usado contra ele (Beth Santos/Divulgação)
"Os valores milionários das obras da Delta no Rio não estão apenas no governo Sérgio Cabral, mas no do Eduardo Paes também”,
O ataque mais franco até o momento partiu do pré-candidato tucano à prefeitura, o deputado federal Otávio Leite. Foi ele quem preparou na terça-feira o requerimento pedindo para que Cabral fosse ouvido na CPI do Cachoeira. Mesmo com a decisão da CPI de deixar os governadores fora de seu alvo inicial, Cabral continua na mira. O PSDB tem reforçado o tom nacional que as campanhas a prefeito devem adotar. E, ao enfatizar no nível municipal a polarização entre PT-PMDB e PSDB, as suspeitas de irregularidades nos contratos da Delta com o governo Cabral se tornam um prato cheio para criticar a forma como os dois partidos vêm conduzindo o país, o estado e a cidade do Rio. Desde que Anthony Garotinho, ex-governador e atual deputado federal,a estreita relaçã divulgou vídeos e imagens que demonstram a estreita relação que Cabral e seus secretários têm com Fernando Cavendish, voltaram à tona as suspeitas de irregularidades nos contratos da Delta com o governo do Rio e o possível favorecimento à empresa do amigo.
“As fotos revelam a inexistência de um padrão ético mínimo que deve ter um governante. Além disso, os valores milionários das obras da Delta no Rio não estão apenas no governo Sérgio Cabral, mas no do Eduardo Paes também”, diz Leite, que na semana passada entrou com representação no Tribunal de Contas da União para que fosse feita auditoria nos contratos da Delta com o governo federal no Rio. Um deles se refere à Transcarioca, da prefeitura, cujas obras foram abandonadas pela Delta após as notícias do envolvimento da empresa com Carlinhos Cachoeira.
O alinhamento entre os governos municipal, estadual e federal foi uma das principais bandeiras levantadas por Paes em sua primeira candidatura a chefe do executivo da cidade. Cabral e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçaram a importância de se ter um prefeito em sintonia com eles. A partir daí, todas as agendas de Lula no Rio ganharam esse tom. Não à toa o slogan do governo Cabral é “somando forças”. A fatura de tamanho entrosamento, no entanto, pode chegar quatro anos depois para Paes: sua imagem está intimamente associada à do governador.
É essa aposta que dá fôlego aos adversários. Outro pré-candidato é o deputado federal Rodrigo Maia, do DEM, que tem como vice a deputada estadual Clarissa Garotinho, filha do inimigo número um de Cabral. Para Maia, a dupla está em maus lençóis. “Há uma relação forte entre Cabral e Paes na cabeça do carioca. Para o eleitor é como se fossem um só. Acreditamos muito que essa aliança, de fato, gerou expectativa, mas não promoveu resultados para a cidade. Muita coisa prometida não saiu do papel”, afirma Maia.
Clarissa é a vice que mais deve aparecer na campanha. Ela, que não foge de um debate com seus adversários políticos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), acredita não ser necessário reforçar que Cabral e Paes estão no mesmo barco. “Isso envolvendo Cabral vai afetar Eduardo Paes, não por uma conexão que a oposição tente fazer. Eles sempre estiveram juntos. O que um faz ajuda ou prejudica o outro. O secretário de urbanismo do prefeito Eduardo Paes, Sérgio Dias, foi fotografado (em Paris com Cabral, secretários estaduais e Cavendish) participando da farra. A conexão é total”, afirma Clarissa, do PR. Ela acrescenta: “As empresas do governo do estado são as mesmas do município. A Delta não tem contrato sem licitação só com estado, mas com prefeitura: em 14% dos contratos firmados na gestão de Paes houve dispensa de licitação. O arco de aliança de Cabral é o mesmo que Paes monta para ele, com os mesmos partidos, empresários empreiteiros”, diz.
O deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, que disputa votos para a prefeitura, também está afinado com os outros pré-candidatos no esforço para levar o pleito para o segundo turno. E o jeito, nesse caso, é mirar em Paes. “O que está acontecendo não é um problema particular do governador, mas do modo do PMDB do Rio de governar. As relações da Delta não estão restritas ao governo do Rio, a empreiteira também tem contratos com a prefeitura. Há indicações de Cabral no alto secretariado de Paes, que, inclusive, já apareceu beijando a mão do governador em foto”, afirma Freixo. O deputado entrou, na quarta-feira, com pedido de CPI na Alerj para investigar todas relações da Delta com o governo estadual.
Apesar dos ataques dos pré-candidatos à gestão de Paes, o atual prefeito começa a corrida eleitoral com grande vantagem. Ainda não se sabe o quanto as fotos e vídeos de Cabral com Cavendish na Europa podem afetar a imagem do governador. No outro lado dessa história, Paes poderá capitalizar em seu favor políticas públicas de sucesso de Cabral, como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que beneficiaram principalmente a capital - ainda que em detrimento de outras regiões do estado, onde a criminalidade aumentou. Será preciso esperar para ver para que lado a maioria dos eleitores irá.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/escandalo-da-delta-da-municao-aos-adversario-de-eduardo-paes
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