Política
Em seminário do BNDES, no Rio, sobre investimentos na África, ex-presidente critica países ricos por sacrificar trabalhadores e países emergentes em tempos de crise
Rafael Lemos, do Rio de Janeiro
"Faz sete meses que não falo. Espero que não tenha desaprendido a falar. O discurso não é longo, mas vou ler devagar", anunciou o ex-presidente, que no mês passado foi obrigado a interromper um discurso durante uma inauguração em São Bernardo do Campo, após a voz falhar três vezes.
Dessa vez, Lula falou tudo o que quis. O ex-presidente atacou os países ricos, criticando as medidas de austeridade nos países europeus para conter a crise.
"A crise é respondida pelos países ricos sempre da mesma forma: com medidas de austeridade, como corte dos investimentos públicos, diminuição dos salários, demissões, corte dos benefícios dos trabalhadores e aumento da idade mínima para a aposentadoria. Pedem austeridade aos trabalhadores e governos dos países mais frágeis economicamente. Mas, ao mesmo tempo, aprovam pacotes e pacotes de injeção de recursos no sistema financeiro, justamente um dos setores responsaveis pela ciranda especulativa que causou a crise que vivemos desde 2008", disse. "Punem as vítimas da crise e distribuem prêmios para os responsáveis por ela. Há algo muito errado nesse caminho".
Lula ressaltou que, no atual contexto de crise internacional, é estratégico o estreitamento das relações comerciais entre Brasil e África. "Pela primeira vez na história, existe uma combinação do crescimento econômico da África e do Brasil. O Brasil, que hoje é a sexta economia do planeta, tem novas responsabilidades. Em lugar de ficarmos paralisados com a crise internacional, que não foi criada nem por brasileiros nem por africanos, precisamos estreitar nossos negócios. O Atlântico não mais nos separa, nos une nas mesmas fronteiras, nos banhamos nas mesmas águas", defendeu.
Para provar que apostar na África é um bom negócio, Lula recorreu aos números. "Em 2012 , haverá 25 eleições para o executivo e legislativo no continente africano. São povos que valorizam a democracia. É gratificante saber que o PIB da África cresce, há dez anos, a taxas robustas e, em 2012, deve crescer quase 6%. A classe média no continente já ultrapassa a marca de 300 milhões de pessoas. O númerode jovens nas escolas e nas universidades está crescendo. Mais de 430 milhões de africanos usam celulares e cerca de 100 milhões estão ligados à internet", disse.
Ainda de acordo com o ex-presidente, as exportações do Brasil para a África saltaram de 2,4 bilhões de reais, em 2002, para 12,2 bilhões de reais, em 2011. Já a corrente de comércio (soma das exportações e importações) saiu de 4,3 bilhões de reais, em 2002, para 27,6 bilhões de reais, no ano passado.
Além de Lula, a mesa de abertura do seminário contou com as presenças do governador do Rio, Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes, dos ministros Fernando Pimentel e Édison Lobão, do representante da embaixada do Zimbabué, Thomas Sukutai Bvuma, e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
Na sexta-feira, Lula tem nova agenda no Rio. Ele receberá o título de doutor honoris causa de um grupo de universidades do estado do Rio, em solenidade que terá a presença da presidente Dilma Rousseff.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/de-volta-a-vida-publica-lula-evita-falar-sobre-cpi-do-cachoeira
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