quarta-feira 11 2012

Fotos: pura beleza feminina na arte do grande Patrick Demarchelier

05/04/2012
às 18:00 \ Tema Livre
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DE GALHO EM GALHO -- O esforço da modelo Stephanie Seymour dependurada na árvore: fazer coisas difíceis parecerem fáceis
DIRETOR DE IMAGENS
Mão firme, técnica refinada e um certo charme francês na hora de pedir a pose. É assim que há quarenta anos Patrick Demarchelier cria beleza em fotos de moda

Fotografar mulheres bonitas usando roupas maravilhosas. Parece fácil, não?
Agora, imaginem a concorrência. Imaginem a tentação de fazer alguma coisa apelativa para se destacar no mar de imagens do mundo contemporâneo. Imaginem a arrogância de quem consegue chegar ao topo e continuar lá.
Ainda bem que existe um sujeito como Patrick Demarchelier para derrubar todas as noções preconcebidas sobre fotógrafos famosos e suas atitudes descontroladas.
Sentado num caixote de madeira
Demarchelier: idioma algo parecido ao inglês, e charme francês (Foto: Time)
Como os ginastas e os bailarinos, ele faz coisas incrivelmente difíceis parecerem fáceis, quase naturais. Falando baixinho, numa linguagem remotamente parecida com o inglês, complicada por uma cirurgia de câncer de garganta, o fotógrafo francês dirige um set inteiro sem dramas nem estrelismo. E sentado num caixote de madeira.
“Quando ele quer uma pose, é tão gentil que não parece que está mandando”, disse a modelo Isabeli Fontana no intervalo de uma recente sessão de fotos em São Paulo. “Tem também o meu sorriso lindo”, ironiza Demarchelier, de 68 anos, sobre o seu poder de convencimento.
Imagem onírica do vestido Dior
Imagem onírica do vestido Dior
Foi usando essas armas que ele induziu a modelo Stephanie Seymour a subir, nua, em uma escada de incêndio e passar uma hora pendurada num galho de árvore. “A pobrezinha, depois, não conseguia levantar um copo d’água”, relembra. A foto, de 1989, tornou-se uma das imagens mais poderosas produzidas por ele.
O poder do olhar de Helena Christensen: o nu com pose de vestido
O poder do olhar de Helena Christensen: o nu com pose de vestida
Demarchelier é um fotógrafo de moda publicado nas grandes revistas do ramo, mas faz até fotos de casamento, se pagarem bem — Bernie Ecclestone, o bilionário inglês da fórmula 1, pagou, para sua filha, e saiu todo mundo feliz no fim.
Para quem prefere manifestações de vanguarda, é considerado comercial. Encantadoramente comercial, para quem gosta de ver belas roupas, fotografadas com inspiração, personalidade e total domínio técnico.
Severos quimonos com calcinhas minúsculas
Qualidades amplamente demonstradas em seu último trabalho de peso, o livro Dior Couture. De todas as roupas guardadas desde que a grife foi criada por Christian Dior, em 1947, passando por seus formidáveis sucessores — Yves Saint Laurent, Marc Bohan e John Galliano —, o fotógrafo escolheu pouco mais de 100 modelos.
A onírica foto da capa, em que a modelo bielorrussa Maryna Linchuk parece flutuar numa nuvem de plumas de avestruz, evoca a obra de Pierre Bonnard, o pintor francês do século XIX que chegou a ser menosprezado, injustamente, por criar quadros bonitos demais.
Para não ficar só na belezura suspirante, Demarchelier incluiu no livro fotos que fez para o famoso calendário da Pirelli nas quais modelos misturam os severos quimonos criados por Galliano com calcinhas minúsculas.
clássico moderno Christy Turlington sob o chapéu-flor
CLÁSSICO MODERNO -- Christy Turlington sob o chapéu-flor
“Gosto de fotografar a modelo em uma pose que ela não faria nua, mas que faz o tempo todo, vestida”
“O nu tem de ser interessante. Gosto de fotografar a modelo em uma pose que ela não faria nua, mas que faz o tempo todo, vestida”, prega Demarchelier, que começou a trabalhar em Paris, tirando fotos de passaporte; mudou-se para os Estados Unidos e atingiu o ápice entre os anos 80 e 90.
Na liga que frequenta, é equiparado ao americano Steven Klein e a Mario Testino, o peruano radicado em Londres. “Klein é conceitual e quase obsceno. É nosso pior pesadelo porque não faz questão de mostrar as roupas”, compara Marcelo Quadros, estilista da Daslu Couture. “Testino faz fotos lindas, solares, com pessoas sorrindo e exibindo o produto. Demarchelier usa bem a iluminação, o claro e o escuro; faz fotos com ares clássicos.”
o quimono na Pirelli
Um dos quimonos do calendário da Pirelli
A técnica e o equilíbrio — além de um toquezinho de Henri Cartier-Bresson, de quem chegou a ser assistente — também aparecem em retratos icônicos, como o da modelo Christy Turlington “engolida” por um chapéu de flor gigante ou de uma Helena Christensen de olhar quase intimidante.
Quatro horas, sem usar o tripé: “Minha mão é firme”
Praticante de ioga e meditação, Demarchelier é ágil e rápido, mas dá uma ajudazinha à filosofia oriental sob a forma das trinta pílulas que toma por dia. “Para acordar, dormir, fazer sexo”, resume, com sarcasmo francês e naquela língua misteriosa.
Na sessão de fotos em São Paulo, para uma campanha do Shopping Iguatemi, bagunçou o cenário: não usou estúdio, trocou locações e foi até para um estacionamento, em busca de luz natural.
Trabalhou durante quatro horas, em pé ou sentado no caixote, sem usar tripé: “Minha mão é firme”.
(Reportagem de Mariana Amaro publicada na edição impressa de VEJA)

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