Há 55 anos os meios intelectuais do País celebravam a presença do casal de pensadores
02 de setembro de 2015 | 15h 20
Liz Batista
Sartre e Beauvoir são recebidos por estudantes simpatizantes da Revolução Cubana, em São Paulo, 3/9/1960/ Acervo
O meio acadêmico fervilhava com suas conferências e palestras. A presença do autor de era tão bem vinda que não demorou para que surgisse um movimento para que que seu tempo no país se estendesse. O artigo de Miguel Urbano Rodrigues, publicado no Estado de 8 de setembrodaquele ano, intitulado “ Apelo à Juventude, a Sartre e à USP”, deu início à uma campanha para que a Universidade de São Paulo convidasse o filósofo para ministrar, por algum tempo, cursos em sua cátedra .“O que Sartre estaria em condições de dizer à nossa juventude e de fazer por ela não poderá realizá-lo no decurso de uma visita breve. Independente do que se pense de sua obra e de suas tomadas de posição em face da conjuntura mundial, afigura-se-nos que ninguém no Brasil ousará negar os imensos benefícios que resultariam de sua presença entre nós durante uns dois anos (...)”. A campanha chegou a recolher assinaturas de estudantes. Mas a proposta não foi adiante.
O casal de intelectuais franceses viaja pelo Brasil, em 1960/ Acervo
Sartre e Beauvoir são recebidos por estudantes simpatizantes da Revolução Cubana, em São Paulo, 3/9/1960/ Acervo
Há 55 anos o casal de intelectuais mais badalado do século 20 chegava a São Paulo. Os filósofos franceses Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir desembarcaram na capital paulistas em 2 de setembro de 1960, seguindo sua temporada de visitas aos meios acadêmicos e culturais brasileiros. O motivo inicial da visita foi a participação de Sartre no 1º Congresso de Crítica em Recife, o interesse do casal pelo País fez com que estendessem sua estadia. O Estado dedicou uma extensa cobertura à viagem do pensador existencialista e da renomada feminista. A família Mesquita proprietária do jornal chegou a hospedar o casal na sua fazenda em Louveira, no interior de São Paulo.
O Estado de S. Paulo - 03/9/1960
A passagem de Sartre pela capital paulista foi um sucesso. O celebrado autor de A Náusea (1938) e Idade da Razão (1945) teve a agenda disputada por jornalistas em busca de entrevistas. Fossem suas impressões do Brasil, sua visão sobre o mundo, suas análises sobre a sociedade ou sua percepção sobre o homem do seu tempo, suas declarações e análises viravam notícia na edição do jornal do dia seguinte. Perfis e artigos dos escritores visitantes ocupavam as outras páginas. Por exemplo, na edição de 03 de setembro de 1960 do Suplemento Literário, o leitor doEstado pôde ler um perfil intimista e biográfico do filósofo, um retrato traçado pelas palavras de sua companheira Simone de Beauvoir.
O Estado de S. Paulo - 08/9/1960 e 11/9/1960
O meio acadêmico fervilhava com suas conferências e palestras. A presença do autor de era tão bem vinda que não demorou para que surgisse um movimento para que que seu tempo no país se estendesse. O artigo de Miguel Urbano Rodrigues, publicado no Estado de 8 de setembrodaquele ano, intitulado “ Apelo à Juventude, a Sartre e à USP”, deu início à uma campanha para que a Universidade de São Paulo convidasse o filósofo para ministrar, por algum tempo, cursos em sua cátedra .“O que Sartre estaria em condições de dizer à nossa juventude e de fazer por ela não poderá realizá-lo no decurso de uma visita breve. Independente do que se pense de sua obra e de suas tomadas de posição em face da conjuntura mundial, afigura-se-nos que ninguém no Brasil ousará negar os imensos benefícios que resultariam de sua presença entre nós durante uns dois anos (...)”. A campanha chegou a recolher assinaturas de estudantes. Mas a proposta não foi adiante.
O casal de intelectuais franceses viaja pelo Brasil, em 1960/ Acervo
Além de São Paulo, o casal visitou Recife, Brasília e o Rio de Janeiro. Sempre ciceroneados por intelectuais e acadêmicos, os filósofos encontraram-se com personalidades como o escritor Jorge Amado, o ex-presidente, então professor de sociologia, Fernando Henrique Cardoso, sua esposa a antropóloga Ruth Cardoso, o filósofo Fausto Castilho e o crítico literário, Antonio Candido. Sartre e Beauvoir deixaram o País em 23 de outubro de 1960 e seguiram viagem para Cuba.
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário