Os autores Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz retuitaram, ao meio-dia desta sexta-feira, a notícia do Globo “Mujica, em livro, relata confissão de Lula sobre mensalão”.
Ela estava linkada no tuíte do professor de economia Ignacio Munyo que elogiava o feito como um “golaço” dos dois no Maracanã.
Sim. Com benevolência, pode-se alegar que eles não leram a matéria, não entendem português, estavam apenas divulgando o livro e aproveitando o elogio, e/ou que a matéria do Globo fica em cima do muro ao falar de confissão “sobre mensalão”, não de Lula ter confessado (o crime) do mensalão, o que não lhes seria tão incômodo.
Com muita benevolência, claro.
Por volta das 15 horas, o G1 publicou matéria com o seguinte trecho:
“Questionado se Lula se referia especificamente ao mensalão ou a ‘coisas imorais’ ao falar sobre ‘a única forma de governar o Brasil’, um dos autores do livro respondeu por e-mail ao G1:
‘Não, Lula estava falando sobre as ‘coisas imorais’ e não sobre o mensalão. O que Lula transmitiu ao Mujica foi que é dificil governar o Brasil sem conviver com chantagens e ‘coisas imorais’”, escreveu Andrés Danza.”
Fico imaginando o teor dos telefonemas que Danza recebeu entre meio-dia e a resposta ao G1, mas ok. Fico imaginando que o mensalão também é uma ‘coisa imoral’, mas ok.
“Lula teve que enfrentar um dos maiores escândalos da História recente do Brasil: o mensalão, uma mensalidade paga a alguns parlamentares para que aprovassem os projetos mais importantes do Poder Executivo. Compra de votos, um dos mecanismos mais velhos da política. Até José Dirceu, um dos principais assessores de Lula, acabou sendo processado pelo caso.
‘Lula não é um corrupto como Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros’, disse-nos Mujica, ao falar do caso. Ele contou, além disso, que Lula viveu todo esse episódio com angústia e com um pouco de culpa. ‘Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens’, disse Lula,aflito, a Mujica e Astori, semanas antes de eles assumirem o governo do Uruguai. ‘Essa era a única forma de governar o Brasil’, se justificou. Os dois tinham ido visitá-lo em Brasília, e Lula sentiu a necessidade de esclarecer a situação.”
Há também o trecho:
“(Mujica) Entendeu perfeitamente essa jogada. Lula preferia ser o poder nas sombras e, depois do mensalão, não ficar exposto demais”.
Pois bem.
Embora a descrição de quem se justifica aflito com um pouco de culpa sobre um crime e prefere não ficar exposto demais depois dele seja, em termos literários, a descrição de um culpado, os trechos talvez mal escritos pelos autores são um tantinho ambíguos, o que só faz reforçar a ambiguidade da confissão de Lula.
Como cobra-criada que é, o petista nunca diz as coisas com todas as letras, mas insinua para bom entendedor.
Danza pode até não querer entender o que ele próprio narrou por escrito, e preferir fornecer munição involuntária aos blogs sujos do PT, que tomam sua opinião como um desmentido oficial.
Mas nós conhecemos e traduzimos Lula bem melhor do que os uruguaios.
Achamos até que ele estava tirando uma onda.
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