Corrupção
Documento indica que dois deputados federais e um ex-ministro do governo Fernando Collor eram beneficiários das “comissões” pagas pelo doleiro, revela reportagem de VEJA desta semana
Robson Bonin
Contabilidade – Meire Poza e o documento que registra a emissão de notas frias para empresas envolvidas com o doleiro Alberto Youssef (Cristiano Mariz/VEJA)
A entrevista com a contadora Meire Poza publicada na última edição de VEJA teve um desdobramento imediato. Na quarta-feira passada, Meire prestou depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara como testemunha no processo de cassação do deputado baiano Luiz Argôlo (ex-PP, atual SDD). O parlamentar é um dos políticos que aparecem na lista de beneficiários do esquema bilionário de lavagem de dinheiro chefiado pelo doleiro Alberto Youssef. Ele vinha até então se valendo de manobras protelatórias para tentar salvar seu mandato e contava com a simpatia de uma parte dos seus pares, porque jurava não haver provas que pudessem incriminá-lo. Esse otimismo, no entanto, começou a ruir quando a contadora reafirmou tudo o que dissera: Argôlo era sócio nos negócios escusos do doleiro e recebeu gordas comissões da quadrilha que, entre outras atividades, intermediava pagamentos de propina a políticos corruptos — as famosas malas de dinheiro.
VEJA teve acesso a uma planilha que revela o método usado pelos criminosos para dar aparência legal ao dinheiro movimentado em malas. Elaborada com base nas notas frias que a empresa de Meire Poza emitiu, a relação mostra que o grupo faturou 8 milhões de reais em apenas quinze operações distribuídas pelos anos de 2012 e 2013. Comparado às transações globais da quadrilha na Petrobras e em outros negócios com prefeituras e governos estaduais, o valor parece insignificante. Mas ele é apenas uma amostra da dimensão da engrenagem criminosa. As operações relacionadas na planilha dizem respeito exclusivamente às transações feitas a partir de notas fiscais do escritório da contadora. O método é sempre o mesmo. A pedido do doleiro Alberto Youssef, Meire Poza emitia notas frias para simular a prestação de serviços de consultoria. As empresas simulavam a contratação do escritório da contadora e transferiam o dinheiro combinado. Quando a bolada entrava na conta de Meire, ela repassava aos beneficiários. Neste caso, além de Argôlo, o deputado André Vargas (sem partido) e Pedro Paulo Leoni Ramos, o ex-ministro do governo Collor apontado pela polícia como parceiro de Alberto Youssef.
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